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2003-08-10

 
Pudessem as minhas lágrimas...

Pudessem as minhas lágrimas apagar as résteas de chamas e eu choraria.

Não iria chorar pelos que morreram pois a esses só desejo que tenham partido sem que se tenham apercebido de que o iriam fazer. Choraria, sim, pelos Sobreviventes.

Por todos aqueles que viram a sua vida mudada, acabada, transformada em escombros dificilmente re-erguíveis. Choraria por aquela mulher que após chorar pelas terras queimadas soube que o seu homem tinha morrido e percebeu que afinal ainda não chorara nada. Que a tristeza que sentira anteriormente não era nada. Nada.

Choraria por aquele bombeiro que se sentiu impotente face ao avanço inexorável das chamas e que sentia pousados nos seus ombros uma mão cheia de olhares de esperança. Que o peso dos olhares lhe curvavam os ombros, cansados, de uma luta desigual e inglória e que mesmo sabendo de que nada servia, mantinha a mangueira firme apontada, procurando segurar por mais um minuto que fosse a esperança ténue naqueles olhares.

Choraria por aquela criança que em Agosto iria passar as férias com os avós na “terra” e que já não vai, pois já não há “terra” nem coelhos, nem galinhas e que permanecerá encafuada num sol abrasador de betão.

Mas as minhas lágrimas de nada servem por isso não choro, apenas espero que a tristeza e as tragédias ocorridas não tenham sido completamente em vão. Que tenham sido as últimas... não apenas deste verão.

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