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2003-10-15

 
António Ramos Rosa, aos 79 anos, vai receber dia 24, o título doutor "honoris causa", conferido pela universidade do Algarve, parabéns a um dos meus poetas favoritos.


Vertentes

As palavras esperam o sono
E a música do sangue sobre as pedras corre
A primeira treva surge
O primeiro não a primeira quebra

A terra em teus braços é grande
O teu centro desenvolve-se como um ouvido
A noite cresce uma estrela vive
Uma respiração na sombra o calor das árvores

há um olhar que entra pelas paredes da terra
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra
começo a entender o silêncio sem tempo
a torre extática que se alarga

A plenitude animal é o interior de uma boca
Um grande orvalho puro como um olhar

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio
Sou o teu lábio e a coxa da tua coxa
Sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo
Sou a sombra que conhece a luz que a submerge
A luz que sobe entre
As gargantas agrestes
Deste cair na treva
Abre as vertentes onde
A água cai sem tempo.


António Ramos Rosa
In Poemas de amor
Antologia de poesia portuguesa
Publicações Dom Quixote

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