o bico do flamingo encarnado revolve o lodo

pequenos lagos de um grande oceano atiram
pedras para o mundo enquanto a maré pede permissão
à lua para se retirar cabisbaixa
e as sete ondas vivas adormecem no alto mar

o sol espraia-se nos seus picos percorrendo em
bicos de pés o caminho que o afasta da praia
e as pulgas da areia enterradas no lodo levantam
o pescoço observando o negrume

revolvido pelo bico do flamingo encarnado o lodo cobre-lhes as mentes despidas orientando-lhes os
rostos e os corpos para longe da morte

mas o bico do flamingo encarnado continuará a sua procura

Jorge Reis-Sá
in à memória das pulgas da areia
Quasi Edições

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