2003-12-10
LINGUAGENS
Se de dentro do quadro
essa nuvem saltasse para o meio desta sala
arrastando consigo
um pedaço de cume de montanha
ou talvez a janela do palácio
ou canto de telhado
Com esses laivos de papel pintado
flutuando no ar,
podia mesmo assim falar de ti?
Que distracção me encantaria os olhos
se, em vez de os fechar tanto,
a tua imagem aparecesse
aqui,
flutuando também
a preto e branco e várias dimensões?
Serias tão real como essa nuvem,
estaria a tua imagem docemente
debruçada em janela
ou em telhado,
ruindo,
inevitável?
Sob o peso de neve que inventei
e agora trago aqui,
faço-te recuar de entre esses laivos
de papel pintado
e um astro era preciso
Sentar-me-ei então
sossegada na sala, à espera do degelo,
de tempos mais modernos,
de uma cena mais clara
de onde irrompesse a ilha ainda intacta,
uma janela e sol
Como uma iluminura muito bela
de uma cena de amor
de onde uma língua nova
resvalasse
em paz -
in "Imagias"
Ana Luísa Amaral
Ed. Gótica
Se de dentro do quadro
essa nuvem saltasse para o meio desta sala
arrastando consigo
um pedaço de cume de montanha
ou talvez a janela do palácio
ou canto de telhado
Com esses laivos de papel pintado
flutuando no ar,
podia mesmo assim falar de ti?
Que distracção me encantaria os olhos
se, em vez de os fechar tanto,
a tua imagem aparecesse
aqui,
flutuando também
a preto e branco e várias dimensões?
Serias tão real como essa nuvem,
estaria a tua imagem docemente
debruçada em janela
ou em telhado,
ruindo,
inevitável?
Sob o peso de neve que inventei
e agora trago aqui,
faço-te recuar de entre esses laivos
de papel pintado
e um astro era preciso
Sentar-me-ei então
sossegada na sala, à espera do degelo,
de tempos mais modernos,
de uma cena mais clara
de onde irrompesse a ilha ainda intacta,
uma janela e sol
Como uma iluminura muito bela
de uma cena de amor
de onde uma língua nova
resvalasse
em paz -
in "Imagias"
Ana Luísa Amaral
Ed. Gótica