<$BlogRSDUrl$>

2004-01-16

 
LAWRENCE DURRELL E O "CARROSSEL SICILIANO"

Um dia, numa daquelas conversas de adolescentes em busca do prazer da Literatura, alguém falou em Lawrence Durrell e no seu "Quarteto de Alexandria"...os anos passaram e muito tempo depois, todos os que me conhecem, sabem que o Larry faz parte dos meus escritores favoritos...os tais cuja obra levaria para a ilha deserta, com a certeza de que nunca iria encontrar a solidão...pois teria sempre a sua companhia maravilhosa. Mas hoje o livro/divertimento de que vos quero falar ? de "O Carrossel Siciliano" que anda perdido nas estantes das livrarias e que poderemos obter apenas com uma nota de cinco euros.
Fica aqui uma das mais saborosas passagens do livro, em que o autor surge como personagem na primeira pessoa, mergulhado num grupo de excursionistas de diversos países, na descoberta da paisagem Siciliana, mas tamb?m com a mem?ria de duas antigas amizades/paixões...o amor de Martine e a inesquecível Grécia com as suas paisagens e história.

"(...) A cidade parecia sossegada e com pouco movimento, apesar de ainda ser cedo. Houe um pequenino contratempo no hotel, onde descobrimos que os porteiros tinham feito greve nesse dia. Tivemos por isso de carregar com as nossas malas de que precisávamos para aquela noite.
Isso não teria sido uma questão muito séria se o elevador não estivesse tão atravancado e se o casal diplomático francês conhecesse a arte elementar de fazer as malas. (...) ? saída colidimos de novo no corredor, e, com uma espécie
de angustia sibilante, o meu companheiro de viagem disse: "Cher maitre, queira desculpar."
O meu coração desfaleceu, pois compreendi que tinha sido reconhecido, em virtude, talvez, de ter aparecido demasiadas vezes na televis?o, em Paris. Mas ele continuou: " Esteja tranquilo, o seu anonimato será respeitado por mim e pela minha mulher. Ninguém saberá nunca, que Lawrence Durrell está connosco." Foi como se Stendhal se encontrasse com Rossini no elevador. Pouco faltou para que ele fizesse uma genuflexão - quanto a mim, creio que inchei de orgulho, como um sapo. Ele afastou-se às arrecuas pelo corredor fora para o seu quarto - como se faz à realeza ou ao Papa. Eu segui pensativamente para o meu. (...)

(...) A noite estava serena e fragrante. Quando andávamos de um lado para o outro, o francês saiu, viu-nos e avançou com o seu cartão de visita em riste. "Como un ancien préfet de Paris" disse, "permita que me apresente. Conde Petremend, ás suas ordens". Tinha umas maneiras deliciosas e inocentes de astúcia.(...)

(...)Fez-nos companhia num charuto e demos os tres uma volta, para cima e para baixo pelo jardim tépido e sossegado. "Comoveu-me a sua menção do meu anonimato", declarei, emocionado. "Nunca tive qualquer problema com ele, antes. Uma ou duas vezes estive quase a ser declarado persona non grata, mas ficou por aí. Na verdade, a única cruz que tenho que carregar é a de, aonde quer que vá me pedirem que autografe os livros do meu irmão. ? invariável." Devo ter falado com grande veemência, pois Deeds olhou para mim com alguma surpresa e disse: "Ainda não aconteceu. " "Mas acontecerá, Deeds, acontecera." (Dois dias depois, aconteceu. Não me fiz rogado, como de costume, e assinei Marcel Proust com o floreado adequado.)
Nessa noite o nosso conhecimento não foi mais longe porque a mulher do Conde apareceu com uma rima de cartas para ele endereçar e estampilhar - e o conde despediu-se, uma vez mais com a mesma cortesia requintada.(...)


Lawrence Durrelll

in "Carrossel Siciliano"

Ed. Livros do Brasil (1992)



Comments: Enviar um comentário

<< Home