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2004-02-19

 
O GATO

Debruçado sobre a tarde
o rafeiro orfão
na rua
farejando
enquanto
se aviva a silhueta no cume de um telhado
sem ar de pombas
ou pássaro que respira breve e foge
saltitando;

enquanto o rafeiro late
fareja,
irrequieto
aborrecido
ou alarmado

este gato corteja
e é higiénico.


O GATO #2

Recrio a imagem negra do gato que atravessa
abrupto e travesso
as sombras nos telhados de onde parte
e se some sem que inteligência e pensamento humano
o assalte

nem areias, nem asfalto, nem os faróis
como pequenos sóis que lhe não ensinaram

atravessa negro e a sombra porque é noite sem luar
só latido de cães ao longe e roncar de motores,
ele é gato sem que suspeite ser gato
e negro e sombra
que atravessa.


José Alexandre Ramos

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