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2004-02-19

 
O gato

I

O gato do quadro parece real
- glória ao seu criador!

Ando pela sala e ele segue-me,
com aquele olhar de felino triste.
Sento-me e ele observa-me,
com aquele olhar de felino ausente.

Olho-o bem nos olhos, fixamente,
e ele fita-me com se quisesse
dizer-me, ronronando baixinho:
“Oxente! Nuca viu um gato pintado?”

Malfadado gato que quer dar-me lições.
De sermões estou eu farto!

II

Malvado gato.
Mordeu-me um dedo,
arranhou-me um braço.

Mijou na sala,
partiu um vaso chinês.
Maltês parvo e rebelde!

Mas eu perdoo, enlevado.
Miado chorão, olhos de traço,
bagaço de perdição.

Vem cá Tigre, vem ao dono!
Ele vem a medo. Chiça!
Mordeu-me um dedo,
arranhou-me um braço.

Raios partam o gato!

Vilamoura, 01.06.2002 e 08.11.2002
Das Coisas e da Natureza

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