2004-02-12
"O OLHAR DAS PALAVRAS"
Quando Max Broad chegou ao café reparou numa rapariga debruçada sobre uma mesa situada na zona mais escura da sala, escrevia algo em páginas soltas, mas a sua atenção rapidamente foi dirigida para alguém que amigavelmente lhe tocara no ombro. Era Franz acabado de chegar e com ele, Ottla, bela e sorridente. O chá foi servido e o tema da conversa surgida foi inevitavelmente Felice Bauer.
No entanto o olhar de Max, por vezes regressava à misteriosa dama, meio escondida no fundo do salão...até que uma carruagem parou em frente do café e duas crianças acompanhadas por uma senhora, correram na direccção da dama misteriosa, e uma delas gritou mamã, enquanto a outra agarrada ás saias da mãe, sorria mostrando uma pequena boneca que segurava com a mão direita. Por fim, aquele quarteto abandonou o café e dirigiu-se para a carruagem que as aguardava.
Franz que continuava a falar do seu amor, com a irmã, não reparou que Max se tinha levantado..e quando o viu a dirigir-se para o fundo do salão chamou por ele. Max Broad num pequeno gesto quase invisível, apanhou a folha manuscrita caída junto da mesa, onde anteriormente se encontrava a misteriosa dama...pegou nela, e dobrando com cuidado, guardou-a no bolso do casaco, regressando ao convívio dos amigos.
Entretanto Ernest Weiss, juntou-se ao grupo e a animada conversa teve a sua continuação, mas Max estava desejoso de ler, as palavras manuscritas, secretamente guardadas no casaco. E arranjando o pretexto de necessitar de tabaco para o cachimbo, saiu do café e dirigiu-se para o outro lado da rua...caminhando em direcção ao jardim e sentou-se num banco escondido dos olhares alheios. O céu azul de Praga chegou e ele lentamenrte iniciou a leitura...a arte de escrever...era o título do manuscrito...e o seu olhar foi percorrendo os caminhos criados pelas palavras, por vezes voltava atrás na leitura, porque nem sempre era fácil decifrar todos os versos...mas continuou, até que a noite se começou a anunciar, com o bater do velho sino da Catedral.
Regressado ao café verificou que os amigos já tinham partido. Sorriu para si mesmo e seguiu para casa. Depois de jantar, sentou-se no sofá, onde se encontravam imensos escritos de Franz, ainda por ordenar, pegou neles e dirigindo-se até à secretária onde habitualmente trabalhava, deixou-os ali a repousar, para no dia seguinte, retomar o seu trabalho. Na verdade o que lhe interessava naquele preciso momento, era olhar o caminho das palavras indicado no pequeno poema e assim fez. Analisou uma a uma as palavras e os seus significados e sentiu nele o olhar da escrita, aquele texto/poema possuía no seu interior uma nova forma de vocabulário (in)visível e pela primeira vez sentiu o impulso de escrever um poema...ele o novelista e ensaísta, amador, acabou por escrever um poema.
......
Muitos anos depois ao visitar o cemitério judeu onde Franz Kafka repousava, ao tirar um pequeno lenço devido às memórias surgidas, Max Broad reparou que aquele folha já amarelada pela passagem dos anos, com um poema escrito por uma desconhecida, porque ele não estava assinado, ainda permanecia consigo.
RUI LUÍS LIMA.....12/02/2004
Quando Max Broad chegou ao café reparou numa rapariga debruçada sobre uma mesa situada na zona mais escura da sala, escrevia algo em páginas soltas, mas a sua atenção rapidamente foi dirigida para alguém que amigavelmente lhe tocara no ombro. Era Franz acabado de chegar e com ele, Ottla, bela e sorridente. O chá foi servido e o tema da conversa surgida foi inevitavelmente Felice Bauer.
No entanto o olhar de Max, por vezes regressava à misteriosa dama, meio escondida no fundo do salão...até que uma carruagem parou em frente do café e duas crianças acompanhadas por uma senhora, correram na direccção da dama misteriosa, e uma delas gritou mamã, enquanto a outra agarrada ás saias da mãe, sorria mostrando uma pequena boneca que segurava com a mão direita. Por fim, aquele quarteto abandonou o café e dirigiu-se para a carruagem que as aguardava.
Franz que continuava a falar do seu amor, com a irmã, não reparou que Max se tinha levantado..e quando o viu a dirigir-se para o fundo do salão chamou por ele. Max Broad num pequeno gesto quase invisível, apanhou a folha manuscrita caída junto da mesa, onde anteriormente se encontrava a misteriosa dama...pegou nela, e dobrando com cuidado, guardou-a no bolso do casaco, regressando ao convívio dos amigos.
Entretanto Ernest Weiss, juntou-se ao grupo e a animada conversa teve a sua continuação, mas Max estava desejoso de ler, as palavras manuscritas, secretamente guardadas no casaco. E arranjando o pretexto de necessitar de tabaco para o cachimbo, saiu do café e dirigiu-se para o outro lado da rua...caminhando em direcção ao jardim e sentou-se num banco escondido dos olhares alheios. O céu azul de Praga chegou e ele lentamenrte iniciou a leitura...a arte de escrever...era o título do manuscrito...e o seu olhar foi percorrendo os caminhos criados pelas palavras, por vezes voltava atrás na leitura, porque nem sempre era fácil decifrar todos os versos...mas continuou, até que a noite se começou a anunciar, com o bater do velho sino da Catedral.
Regressado ao café verificou que os amigos já tinham partido. Sorriu para si mesmo e seguiu para casa. Depois de jantar, sentou-se no sofá, onde se encontravam imensos escritos de Franz, ainda por ordenar, pegou neles e dirigindo-se até à secretária onde habitualmente trabalhava, deixou-os ali a repousar, para no dia seguinte, retomar o seu trabalho. Na verdade o que lhe interessava naquele preciso momento, era olhar o caminho das palavras indicado no pequeno poema e assim fez. Analisou uma a uma as palavras e os seus significados e sentiu nele o olhar da escrita, aquele texto/poema possuía no seu interior uma nova forma de vocabulário (in)visível e pela primeira vez sentiu o impulso de escrever um poema...ele o novelista e ensaísta, amador, acabou por escrever um poema.
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Muitos anos depois ao visitar o cemitério judeu onde Franz Kafka repousava, ao tirar um pequeno lenço devido às memórias surgidas, Max Broad reparou que aquele folha já amarelada pela passagem dos anos, com um poema escrito por uma desconhecida, porque ele não estava assinado, ainda permanecia consigo.
RUI LUÍS LIMA.....12/02/2004