2004-03-29
Nenhum Nome Depois, o novo livro de poesia de Maria do Rosário Pedreira, conta uma história, a história de um nome que se gravou na memória ou se calhar conta a história dos outros nomes em redor deste: Os nomes interditos, os nomes de família, os nomes inúteis, a impossibilidade de voltar a existir um nome depois deste.
São poemas de dor e de saudade, mas de uma grande sensibilidade e com aquela magia da aparente simplicidade que os grandes poetas conseguem imprimir às palavras e às imagens que formam com elas.
Face à qualidade dos seus anteriores livros de poesia, A casa e o cheiro dos livros e O canto do vento nos ciprestes, é dificil dizer que este é melhor. Mas a mim tocou-me mais...
Nada mudou. Ao fim de tantos anos, o meu
passado é ainda o mesmo passado - nenhum
rosto diferente para desviar o rio da memória,
nenhum nome depois. Para te esquecer,
devia ter partido há muito tempo, como viajam
as aves de verão em verão. E tentei; mas as malas
abertas sobre a cama eram livros abertos, e eu
nunca fechei um livro antes do fim. Por ter
ficado, nada mudou jamais - e o meu passado é
ainda o nosso passado; e o rosto que tinha antes
de me deixares é o que o espelho me devolve no
presente - embora os outros me digam que o
que vêem na superfície desse lago é um vinco
na água, uma mulher muito mais velha do que eu.