2004-04-30
Coisas sem sentido
O meu PC resolveu fazer greve e eu, como democrata que sou, deixei-o em paz. Mas, como patrão e viciado no teclado, ao cabo do primeiro dia já roía as unhas e andava de um lado para o outro, matutando sobre a minha permissividade. A meio do segundo dia, ameacei-o com o despedimento por justa causa e, no seguinte, de o atirar do segundo andar do escritório, entregando-me, de seguida, à Justiça. Ao quarto dia passei-me de vez e fui a vias de facto. Escuso de reproduzir cenas tristes, mas ele lá tugiu, engasgado, dando alguns sinais hesitantes de retoma do trabalho. Mais uns abanões, ameaças explícitas em português vernáculo e pronto. Fim da greve. Assim é que é. Patrão é patrão e trabalhador faz o que se lhe manda e ponto final.
Ponto final mesmo?!... Como dependo do meu empregado, que apesar de maltratado, tem de me merecer confiança, fico com a intrigante sensação de que alguma coisa não está bem. Bato as teclas furiosamente e a escrita sai escorreita, palavra por palavra, com vírgulas e pontos no sítio certo. Mas não sei se o texto faz sentido. Ou será que fui eu que fiquei traumatizado e fora do contexto? No primeiro caso, uma crónica sobre pedofilia concluiu pela inocência de todos os detidos, por ausência de prova, e a sua libertação por alturas do Euro2004. Noutra, logo após o Euro2004 e da conquista do título pela equipa das quinas, foram retiradas as medidas de coacção aos implicados no caso “apito dourado” para evitar a manietação da maioria da classe política e, consequentemente, ficarmos sem Governo e Assembleia da República. Finalmente, uma notícia sobre o alargamento da UE, que escrevinhei com todo o cuidado, rezou assim: “A cerimónia que deveria ocorrer no próximo Domingo, foi antecipada para Sábado, em virtude da realização do derby lisboeta Sporting-Benfica, cuja importância internacional poderia ofuscar o brilho do acto de adesão”.
Realmente, há aqui qualquer coisa que não me agrada... E que não bate mesmo certo.
O meu PC resolveu fazer greve e eu, como democrata que sou, deixei-o em paz. Mas, como patrão e viciado no teclado, ao cabo do primeiro dia já roía as unhas e andava de um lado para o outro, matutando sobre a minha permissividade. A meio do segundo dia, ameacei-o com o despedimento por justa causa e, no seguinte, de o atirar do segundo andar do escritório, entregando-me, de seguida, à Justiça. Ao quarto dia passei-me de vez e fui a vias de facto. Escuso de reproduzir cenas tristes, mas ele lá tugiu, engasgado, dando alguns sinais hesitantes de retoma do trabalho. Mais uns abanões, ameaças explícitas em português vernáculo e pronto. Fim da greve. Assim é que é. Patrão é patrão e trabalhador faz o que se lhe manda e ponto final.
Ponto final mesmo?!... Como dependo do meu empregado, que apesar de maltratado, tem de me merecer confiança, fico com a intrigante sensação de que alguma coisa não está bem. Bato as teclas furiosamente e a escrita sai escorreita, palavra por palavra, com vírgulas e pontos no sítio certo. Mas não sei se o texto faz sentido. Ou será que fui eu que fiquei traumatizado e fora do contexto? No primeiro caso, uma crónica sobre pedofilia concluiu pela inocência de todos os detidos, por ausência de prova, e a sua libertação por alturas do Euro2004. Noutra, logo após o Euro2004 e da conquista do título pela equipa das quinas, foram retiradas as medidas de coacção aos implicados no caso “apito dourado” para evitar a manietação da maioria da classe política e, consequentemente, ficarmos sem Governo e Assembleia da República. Finalmente, uma notícia sobre o alargamento da UE, que escrevinhei com todo o cuidado, rezou assim: “A cerimónia que deveria ocorrer no próximo Domingo, foi antecipada para Sábado, em virtude da realização do derby lisboeta Sporting-Benfica, cuja importância internacional poderia ofuscar o brilho do acto de adesão”.
Realmente, há aqui qualquer coisa que não me agrada... E que não bate mesmo certo.