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2004-04-25

 
Criança de Abril
post escrito para o Barnabé

Recordo acima de tudo o transformar das expressões dos meus pais. Do ar preocupado à gargalhada não reprimida. Lembro-me ainda de os ver, brilho nos olhos, a ir buscar discos proibidos que apenas nos era permitido ouvir baixinho...

Mas aquilo que lembro e me cravou a minha infância de Abril, são momentos que se deram depois, marcas que não se desvanecem apesar de ter dificuldade em os seguir cronologicamente. Uma birra monumental dos meus seis anos por não me deixarem ir ao primeiro 1º de Maio e o orgulho de, já que tinha ficado em casa da minha avó, me terem "alfinetado" um cravo vermelho ao peito.

Lembro-me de ter assistido a sessões de esclarecimento (era assim que se chamavam) que eram acima de tudo uma festa, com o Zeca Afonso em Porto Salvo, ou mais tarde com o G.A.C do Zé Mário Branco. Ainda nas memórias musicais, e políticas, recordo uma festa após uma ocupação de casas no Monte Estoril com o José Barata Moura e a pequenada, de que eu fazia parte, a cantar com a mesma alegria o "Come a papa Joana", como noutros dias cantávamos "A cantiga é uma arma" ou a "Grândola".

A casa onde eu vivia passou a ter um corropio de gente que eu não conhecia e que brincava, ainda, à clandestinidade. As mesmas pessoas que tinham um nome com que eu as cumprimentava quando nos cruzávamos nos cafés, eram nesses momentos tratadas por outros nomes... e as saídas de casa faziam-se intervaladas de dez minutos para não levantar suspeitas. Suspeitas ? Na minha rua, cheia de meninos do MIRN, todos nos chamavam Comunas e conheciam bem a nossa "cor".

Recordo Abril com a ingenuidade de uma criança. Mas sei que essa vivência que tive tão novo, me marcou mais profundamente do que ouso admitir.

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