2004-04-07
Os Poetas que Abril abriu #2
Tua boca não se abriu
(à memória de Militão Ribeiro)
Acordaram-te a meio da noite
E levaram-te depressa
E das janelas do carro
Disseste adeus à cidade.
Perguntaram-te pelo nome,
Pela morada, pela idade
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Perguntaram-te os locais,
Os nomes dos companheiros
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Começaram com as torturas
O sono e as queimaduras
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Na altura do esgotamento
Já com o corpo feito em nada,
Camarada
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Guardaste bem os segredos
No teu peito clandestino,
Como um cofre-forte
Guardaste-os até à morte,
Os segredos deste povo
De pé sobre o seu destino.
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Não se abriu para dizer nada,
E os camaradas na rua,
Sabendo da tua força,
Fizeram-na força sua
E quando a gente hoje fala
E sonha com a madrugada
Falamos pela tua boca
PELA TUA BOCA CALADA !
José Fanha
In “Olho por Olho”
Tua boca não se abriu
(à memória de Militão Ribeiro)
Acordaram-te a meio da noite
E levaram-te depressa
E das janelas do carro
Disseste adeus à cidade.
Perguntaram-te pelo nome,
Pela morada, pela idade
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Perguntaram-te os locais,
Os nomes dos companheiros
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Começaram com as torturas
O sono e as queimaduras
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Na altura do esgotamento
Já com o corpo feito em nada,
Camarada
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Guardaste bem os segredos
No teu peito clandestino,
Como um cofre-forte
Guardaste-os até à morte,
Os segredos deste povo
De pé sobre o seu destino.
TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Não se abriu para dizer nada,
E os camaradas na rua,
Sabendo da tua força,
Fizeram-na força sua
E quando a gente hoje fala
E sonha com a madrugada
Falamos pela tua boca
PELA TUA BOCA CALADA !
José Fanha
In “Olho por Olho”