2004-05-06
Exiguídades
Passavam o dia inteiro a roçar um pelo outro, e esse contacto físico era insuportável para ambos.
Para ele porque a desejava mais do que tudo e cada contacto fortuito lhe aumentava a dor da ausência de um outro contacto, mais profundo. Consentido. Desejado também, mas pelos dois.
Para ela porque ela sabia. Porque sentia o estremecimento involuntário do corpo dele todas as vezes que se tocavam, o que era constante naquele espaço tão exíguo.
Porque para ela, ele era um bom amigo, e ela não dizia que nada mais porque sabia que a amizade é tudo o mais. E tinha medo. Medo de perder o amigo no dia em que fosse forçada a dizer a palavra "não".
Por vezes era ela que ia à caixa quando ele estava a tirar os cafés e eram as nádegas que se tocavam. Mas o mais incómodo era quando ele estava à caixa e ela corria, por detrás dele e tocando-lhe com o peito, macio mas firme, nas costas, num aparente afago; de um balcão para outro.
Havia ainda o suplício de vê-lo ajoelhar-se a seus pés mais baixo que a mini-saia que a farda obrigava, para retirar uma cerveja ou um refrigerante do armário frigorífico.
E assim decorriam os dias naquele balcão de café em plena estação de comboios. Um desejo mal dissimulado, um constante roçar de corpos, e muita angústia a dois.
Um dia puseram-na a trabalhar sozinha, aumento de produtividade disseram os patrões. O trabalho aumentou e com ele o cansaço, mas o que mais lhe custou, a ela que o evitava diariamente, foi a ausência do calor envergonhado dele.
Passavam o dia inteiro a roçar um pelo outro, e esse contacto físico era insuportável para ambos.
Para ele porque a desejava mais do que tudo e cada contacto fortuito lhe aumentava a dor da ausência de um outro contacto, mais profundo. Consentido. Desejado também, mas pelos dois.
Para ela porque ela sabia. Porque sentia o estremecimento involuntário do corpo dele todas as vezes que se tocavam, o que era constante naquele espaço tão exíguo.
Porque para ela, ele era um bom amigo, e ela não dizia que nada mais porque sabia que a amizade é tudo o mais. E tinha medo. Medo de perder o amigo no dia em que fosse forçada a dizer a palavra "não".
Por vezes era ela que ia à caixa quando ele estava a tirar os cafés e eram as nádegas que se tocavam. Mas o mais incómodo era quando ele estava à caixa e ela corria, por detrás dele e tocando-lhe com o peito, macio mas firme, nas costas, num aparente afago; de um balcão para outro.
Havia ainda o suplício de vê-lo ajoelhar-se a seus pés mais baixo que a mini-saia que a farda obrigava, para retirar uma cerveja ou um refrigerante do armário frigorífico.
E assim decorriam os dias naquele balcão de café em plena estação de comboios. Um desejo mal dissimulado, um constante roçar de corpos, e muita angústia a dois.
Um dia puseram-na a trabalhar sozinha, aumento de produtividade disseram os patrões. O trabalho aumentou e com ele o cansaço, mas o que mais lhe custou, a ela que o evitava diariamente, foi a ausência do calor envergonhado dele.