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2004-05-20

 


Exiguidades #2

Olha-me rapidamente e depois esboça um sorriso. Um sorriso que mal se começou a formar, já se desvaneceu sem deixar marca, sombra ou vestígio.

O meu olhar permanece preso à cara dela, até que ela o sente e me olha num repente. Automaticamente, baixo os olhos que chocam, inevitavelmente, com o seu decote. Desvio de novo os olhos, e com o máximo cuidado para não lhe tocar, tão exíguo que é o espaço, volto-me para o outro lado onde esbarro num espelho que a mostra por trás.

Antes que ela possa sonhar que lhe estou a admirar o traseiro, olho para a mão que segura as chaves que volteio, eternamente, entre os dedos, enquanto me sinto a transpirar abundantemente; e ela, de tão próxima, deve sentir o cheiro dos meus sovacos em estereofonia.

Finalmente o elevador pára e ela sai, não sem antes me mirar de soslaio enquanto a espreito por entre as sobrancelhas dado não me atrever a levantar o queixo, descaído. Mal a porta se fecha, endireito-me e vejo-me ao espelho, tentanto atabalhoadamente endireitar o cabelo e a camisa, ambos amachucados. Só então me lembro, da improbabilidade absoluta de ela voltar a entrar no elevador antes que este atinja o meu andar.

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