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2004-08-31

 
A bondade das coisas

Há imagens que ficam. É o caso da foto duma criança ao colo do pai. Num cenário de guerra, num primeiro plano, está uma cerca de arame farpado. O pai, de capuz enfiado na cabeça, para não reconhecer os guardas que o prendiam, acaricia o filho. A legenda explica que um soldado cortou o fio que amarrava os pulsos do prisioneiro para acariciar o filho. O ranho no nariz e os olhos inchados do miúdo indiciavam um choro prolongado. Também é dito que não se sabe do destino dos protagonistas desta foto.
Foram muitos os que dificilmente seguraram a lágrima teimosa ao olhar a fotografia ampliada, em exposição no Centro Cultural de Belém.
A imagem, à primeira vista violenta, encerra uma bondade para além do dizível. Primeiro a do fotógrafo que, até conquistou um prémio, soube captar um instante de ternura que vale uma eternidade. Depois a daquele pai que, numa situação limite, muito provavelmente à beira da morte, sabe que o fundamental naquele momento é tentar proteger o filho, dando-lhe um aconchego. Difícil de perceber mas real, há ainda a bondade do soldado que, arriscando também muito, cortou as algemas. Teria muitas razões para o não fazer, podia ser reconhecido, provavelmente estaria a desobedecer a ordens. Mas fê-lo.
Saberemos nós, mais propensos à maledicência, descobrir a bondade que há em naqueles que nos rodeiam?

Nicolas Fernandez - DN-M

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