2004-09-17
Antídoto - José Luís Peixoto
Companhia Rui Lopes Graça
Teatro Camões, 17 e 18 de Setembro 2004 às 21h00
Direcção Coreografia - Rui Lopes Graça
Dramaturgia - José Luís Peixoto
Intérpretes - Constança Couto . Helena Flora . Jacome Silva Jordi Martin Liliana Barros . Madalena Silva Mário Sánchez
SINOPSE
Este é um projecto de espectáculo de dança, que tem como ponto de partida o encontro com o universo da obra Olhos, Coração e Mãos, na Tradição Popular Portuguesa, de Ana Paula Guimarães, como também, a descoberta do livro Antídoto de José Luís Peixoto.
Da confluência de ambientes destes dois universos surgiu a vontade e a oportunidade de propor ao autor da obra literária Antídoto uma colaboração ao nível da dramaturgia.
No seu conto, José Luís Peixoto, afirma:
As palavras da mãe e as fotografias do livro eram portas abertas para um quarto escuro. Eram portas que, no centro daquela tarde, se abriam para a noite. O medo era o veneno. Nesse dia, a menina sentiu medo pela primeira vez. O movimento de uma estrela no céu pode ser exactamente igual ao movimento de uma erva anónima, indistinta de todas as outras, no meio dos campos. Os movimentos dos rostos do menino e da menina foram exactamente iguais porque aquilo que existia dentro deles era exactamente igual. Chegaria um dia em que as ruas ficariam desertas ao aproximarem-se. O lugar das ideias que tinham ficaria vazio. Chegaria um dia em que poderiam esquecer esse veneno. Esse dia iria chegar mas estava longe daquela tarde antiga. O menino e a menina olharam para os dedos no colo, baixaram a cabeça. Entre as palavras que a mãe e a mestra lhe diziam, distinguiram a palavra coragem. E a sede pôde aproximar-se dos seus lábios. O medo, o veneno. A coragem. E continuaram o caminho de tempo que os levava para o momento que haveria de os unir ainda mais completamente.
Tendo como ponto de partida a definição e caracterização psicológica de cada um dos sete personagens, que habitam este ambiente, criam-se histórias e pontos de ligação entre eles, como se todos fizessem parte de um velho ritual que aceitam, cumprem e perpetuam, sabendo que, contudo, de cada vez que o cumprem o poderiam alterar.
As cenas, que se sucedem num ambiente rural, têm como temas principais aspectos de realidades quotidianas levados ao limite e à distorção.
Olhar o tradicional, através da contemporaneidade.
Revisitar espaços e tempos que nos parecem distantes, mas que na realidade nos definem como grupo diferenciado que somos, quando pensamos um País, e que nos preenchem os registos de memórias antigas que inevitavelmente nos sustentam.
No universo criado pelo espectáculo encontramos temas sempre inerentes à condição do existir.
O nascer, o seduzir e o afirmar. A vontade de vencer e o medo de perder. O incerto. A raiva de não ter e o possuir freneticamente. O cansaço e apatia de ter. O consenso. As antigas histórias sussurradas.
Religiosidades. O Morrer. A alegria de viver.
Temas que dentro da estrutura do espectáculo se enquadram em três tempos ou ciclos. - o tempo dos olhos; o tempo do coração e o tempo das mãos. Sendo que, à partida, cada um dos tempos nos possam ser
sugeridos como diferenciados, no decorrer da narrativa eles se entrecruzam e sobrepõem.
A música do espectáculo inspira-se no universo da tradição popular portuguesa, nomeadamente, nas recolhas realizadas pelo etnomusicólogo Michel Giacometti.
Tendo estas recolhas como ponto de partida e matéria criativa para musicar o espectáculo é construída a componente sonora para o espectáculo.
Eu vou lá estar!