2004-09-30
Dois anos de alternancia
O site alternância criado por José Alexandre Ramos, antigo faroleiro, celebra o seu segundo aniversário e merece uma visita. Na edição de aniversário (já estará pronta?) sairão textos de diferentes autores que participam no site. O meu poderão ler já aqui, mas não deixem de ir lá dar uma espreita.
Alternância
A tua ausência entrou-me pela porta adentro. Percorreu a cozinha, sentou-se no quarto e fez sala. A tua ausência era tão grande que encheu completamente a minha casa de vazio. E eu fiquei ali num canto a não te ver sentada no sofá, nem estendida sobre as almofadas que cobrem o chão da sala.
A tua presença iluminou o dia. Fez nascer girassóis nas sarjetas e pintassilgos sob as folhas da velha acácia que teima em lançar sombra sobre a minha janela. As notas de música correram de um lado para outro, entrechocando-se em melodias várias de tão agitadas que ficaram ao ver-te.
A tua ausência preencheu o meu dia de nada sem que restasse um segundo sequer em que não visse que não te via. A casa ficou tão grande que nasceram assoalhadas e os meus passos demoraram mais a chegar ao bar onde repousavam as bebidas. Não houve eco do teu gelo quando abanei o meu copo e o frio da bebida não se comparava ao gelo corrosivo que sentia no estômago.
A tua presença era tão forte que a via mesmo de olhos fechados, sorrindo no canto de uma nuvem ou reflectida nos olhos das crianças alegres que percorrem as pedras da calçada com um cuidado infinito para nunca pisarem os desenhos formados a negro.
A tua presença e a tua ausência formam, em alternância, um desenho em calçada portuguesa.
O site alternância criado por José Alexandre Ramos, antigo faroleiro, celebra o seu segundo aniversário e merece uma visita. Na edição de aniversário (já estará pronta?) sairão textos de diferentes autores que participam no site. O meu poderão ler já aqui, mas não deixem de ir lá dar uma espreita.
Alternância
A tua ausência entrou-me pela porta adentro. Percorreu a cozinha, sentou-se no quarto e fez sala. A tua ausência era tão grande que encheu completamente a minha casa de vazio. E eu fiquei ali num canto a não te ver sentada no sofá, nem estendida sobre as almofadas que cobrem o chão da sala.
A tua presença iluminou o dia. Fez nascer girassóis nas sarjetas e pintassilgos sob as folhas da velha acácia que teima em lançar sombra sobre a minha janela. As notas de música correram de um lado para outro, entrechocando-se em melodias várias de tão agitadas que ficaram ao ver-te.
A tua ausência preencheu o meu dia de nada sem que restasse um segundo sequer em que não visse que não te via. A casa ficou tão grande que nasceram assoalhadas e os meus passos demoraram mais a chegar ao bar onde repousavam as bebidas. Não houve eco do teu gelo quando abanei o meu copo e o frio da bebida não se comparava ao gelo corrosivo que sentia no estômago.
A tua presença era tão forte que a via mesmo de olhos fechados, sorrindo no canto de uma nuvem ou reflectida nos olhos das crianças alegres que percorrem as pedras da calçada com um cuidado infinito para nunca pisarem os desenhos formados a negro.
A tua presença e a tua ausência formam, em alternância, um desenho em calçada portuguesa.