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2004-10-12

 


Uma História Suja

O último livro de Luís Sepúlveda não é um romance, nem são contos ou sequer crónicas. São apontamentos, um blogue em letra impressa que me deixa saudade de ler os seus grandes romances de qualidade indiscutível. Em Uma história suja essa qualidade literária raramente transparece. Vale, assim, pela forma despudorada como desmascara a actuação de Bush relativamente à Guerra no Iraque, como recorda o passado chileno depois do fim do sonho chamado Salvador Allende ou por tantas outras denúncias e pequenos apontamentos.

Temos, por exemplo, o canalizador que, depois de um exame ocular dos achaques que afligem as canalizações da casa (...) com um palito nos dentes e olhando para outro lado, pergunta: "com ou sem factura ?"
Se a resposta for "sem factura", de imediato o patife nos considera do seu grupo e nos inclui no seu inventário de "gajos porreiros". mas se, exercendo os deveres de cidadão que valoriza o viver numa sociedade civil e civilizada, lhe respondemos "com factura", porque queremos que a Segurança Social funcione, que os transportes públicos funcionem, que a educação pública não morra, e porque achamos que tudo isso e muito mais se consegue pagando os impostos que consideramos justos, então o patife vingar-se-á com um preço exorbitante.
(...)
Bush é um patife texano que, ao anunciar a conta-gotas aos governantes europeus a primeira guerra do século, perguntou "apoiam esta guerra, com ou sem factura?" A factura chama-se respeito pela convenção de Genebra, segurança para a população civil, compromisso explícito de não bombardear objectivos civis, garantias de respeito sem restrições dos direitos humanos de todas as partes implicadas e, no caso dos países aliados, pelno exercício do direito de informar e estarem informados. Mas os governantes europeus meteram o palito da patifaria entre os dentes e responderam"sem factura.





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