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2004-11-09

 



Palavras dúbias

Quando a minha empregada Ucraniana, pela primeira vez, me disse “- Posso limpar você?” e mais tarde acrescentou “- Não, não. Não ir limpar você, só por no lixo”, deixou-me apreensivo. A princípio, porque não me parecia estar com ar de quem precisava de um banho ou de qualquer limpeza exterior. Depois, porque quase me senti ofendido, como se fosse um qualquer traste que merecesse um fim comum, logo menos digno. Só alguns minutos depois entendi que se referia ao meu escritório e ao cesto dos papéis. Sorri comigo mesmo, pensando que devo ter dito coisas bem piores em cantonense, quando me encontrava em terras das China. Até hoje, nunca a corrigi, porque sei das dificuldades em entender a nossa língua. E, retirando estes apartes, fala até razoavelmente português. Fruto da necessidade e do futuro com que esta gente sonha.
Se com ela, por vezes, tenho de fazer algum esforço de imaginação, mas acabo sempre por entendê-la, o mesmo não se passa com pessoas que têm por matriz a língua de Camões, que, supostamente pelo menos, é a minha também. Confesso que, muitas vezes, não as entendo, não pelas palavras que empregam mas pelo sentido que lhes dão. Ou melhor, por as usarem sem sentido. É por isso que passo cada vez mais tempo no meu escritório, para desespero da Ludomila.

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