2005-01-12
A sombra do vento
Ainda me lembro daquele amanhecer em que o meu pai me levou pela primeira vez a visitar o Cemitério do Livros Esquecidos. – assim começa este extraordinário livro de Carlos Ruiz Zafón, com a ida de Daniel, ainda criança, ao cemitério dos livros esquecidos onde vai encontrar um romance de Julian Carax. A partir daí a vida de Daniel enrodilhar-se-á para sempre com a do livro e do escritor que lhe deu origem, em cada esquina de Barcelona, no pós guerra.
O livro tem de tudo o que é necessário para fazer um bom romance, uma boa trama, um fino recorte literário, o ambiente de Barcelona muito bem descrito e muitos sentimentos e sensibilidades de diferentes personagens em que cada uma tem uma profundidade e uma personalidade que dá gosto explorar. Apenas o ritmo do romance, que alterna entre a velocidade furiosa e as paragens de devaneio no tempo, poderia ter uma maior uniformidade.
Pois como já perceberam adorei e recomendo-vos. Fica aqui um pequeno trecho para aguçar os sentidos:
- Daniel – murmurou com um sorriso em contraluz.
O fumo azul do cigarro velava-lhe o rosto. Os lábios brilhavam-lhe de batom escuro, húmidos e a deixar marcas no filtro que segurava entre o indicador e o anelar. Há pessoas que se recordam e outras que se sonham. Para mim, Nuria Monfort tinha a consistência e a credibilidade de uma miragem: não questionamos a sua veracidade, seguimo-la simplesmente até que se desvanece ou nos destrói. Segui-a até ao acanhado salão de penumbras onde tinha a sua secretária, os seus livros e aquela colecção de lápis alinhados como um acidente de simetria.
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