2005-01-25
Toda a gente lê nos Transportes Públicos
Queluz 8:30 da manhã. Entro no comboio já munido do Destak distribuído gratuitamente na estação.
Estranhamente, face à hora, a quase totalidade das pessoas está sentada. Eu, que permaneço de pé, estou assim numa posição priveligiada que me permite constatar que muito mais do que a metade dos passageiros se encontra a lêr. E se o Destak ocupa o lugar do seu nome, e A Bola, o Correio da manhã e as revistas ditas femininas têm o seu público habitual, é com alguma satisfação que constato a leitura de vários livros.
Consigo distinguir dois "códigos da Vinci" e um "A regra de quatro". Encostado ao varão, bem perto de mim, um rapaz com um rasta volumoso olha fixamente para um livro técnico - mecânica quântica parece-me pelos diagramas que consigo observar.
Uma senhora de idade e volume respeitáveis traz nas mãos um livro pesado que lê avidamente. Infelizmente trá-lo forrado pelo que me é impossível vêr a capa.
Na Damaia, entre outras pessoas munidas de jornais diversos, entram duas raparigas de livro na mão. Uma delas traz um Paulo Coelho o que provoca o desviar imediato do meu olhar, a outra, que se sentou perto de mim, não me permitiu ver a capa. Debruço-me a espreitar e ela instintivamente leva a mão ao decote. Esse movimento de falso alarme, permite-me decifrar a lombada - A porta no chão.
O comboio chega a Sete Rios e a turba arrasta-me para o Metro onde recebo mais um jornal gratuito - o Metro. Mas o inferno em que se tornou a linha azul desde o fecho do túnel do Rossio apenas me permite ler umas letras miudinhas num pequeno pedaço de tecido branco, mesmo por debaixo do meu nariz - 100% algodão. Made in Portugal.