2005-03-22
Histórias com Arte
Museu do Louvre, 10 horas da manhã. Um batalhão de pessoas acotovelam-se, miúdinhas, frente ao quadro. Após desligarem os flashes, as fotografias são permitidas. Sob a tempestade de cliques, mona Lisa sorri vitoriosa e enigmaticamente.
Estico-me e espreito por cima de uns caracois revoltos. Vejo um quadro minúsculo e insignificante face a outras obras do mestre Leonardo.
- Anda, digo para a minha companheira, há coisas melhores e mais sossegadas para vermos.
Um arrepio gelado percorre a galeria, Mona Lisa perdera o sorriso.
Há muito que não o via. E se eu pouco mudara, apesar de me ter tornado um artista de sucesso, ele definhara dentro do seu corpo. A dilatação das pupilas e o tremer de mãos respondeu-me à pergunta que eu não formulei.
A vernissage parara a olhar para aquele vagabundo que abracei rapidamente. O olhar dele fixou-se nas serigrafias que eu estava a assinar e a vender. Uma luz rompeu a opacidade do seu olhar.
- Queres uma, perguntei - ofereço-ta.
- Obrigado. Mas não assines por favor.
Ao meu arquear de sobrancelhas, esclareceu: - Sem a tua assinatura não têm valor comercial e é a melhor garantia para que eu não a troque por uma dose qualquer.