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2005-04-27

 



Falo de casa desfeitas
Nos materiais que as concebem
A cal os recantos as soleiras
O silêncio que as habita
E que durante as insónias
É um grito que pode fender as mobílias,

O tempo a passar como um réptil nesses lugares
Onde confluem passos e memórias e cigarros

Vivi sempre dentro dessas casas rodeado de casas
Paralisado à entrada das portas
Oprimido sob tectos
Que nenhuma viga ou coluna suporta

Casas que são só essas vigas e colunas
Atravessadas pelas tempestades
E oferecendo ao sol a solidão dos pátios.

Manuel Afonso Costa
Os Últimos Lugares
In Poemário Assírio & Alvim

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