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2005-04-03

 


Histórias com Rádio

Descobri aquela rádio uma noite qualquer. E aos poucos fui-me habituando aquele Rock dos anos 70 e à voz feminina que quando em vez nos pedia um e-mail, versão moderna para quando o telefone toca. Nunca me fiz rogado e habituei-me, um pouco surpreendido, a ouvir de seguida, todas as músicas que eu pedia.

Até que um dia, a voz dela, numa súbita mudança de registo, se dirigiu a mim directamente – Pedro, e hoje o que queres ouvir ?

Olhei para o rádio espantado, é que ela, há muito, sabia que eu era o único ouvinte daquela rádio pirata, das três às quatro da manhã.






Chamava-se Rock on the rocks e de segunda a sexta, à hora de almoço, emitia na Rádio ISEL. A quinta-feira era o meu dia com A Quinta do Jazz, mas foi numa terça-feira, no programa dedicado à música portuguesa, que resolvemos fazer um programa dedicado ao Zeca Afonso.

Ao fim de duas ou três músicas, o Jorge que conduzia a emissão, não pôde de deixar de colocar a Grândola. Do outro lado do Tejo, o presidente da associação de estudantes tinha acabado de sintonizar a rádio no final de um almoço com elementos do PSD para pedir apoio para a campanha para a associação de estudantes que se ia iniciar. Ao ouvir a Grândola ficou possesso e ligou de imediato para o estúdio. Nós os quatro, dentro do estúdio, sorrimos uns para os outros e mal a música acabou pusemo-la outra vez.

Um segundo telefonema, desta vez não para nós, não tardou e recebemos ordem para sair de imediato do estúdio ou eramos expulsos da rádio. Trancámos a porta e até ao final da nossa hora as músicas revolucionárias não pararam.

Foi em 1986 e foi o último programa de rádio que fiz. Por acaso às vezes dá umas saudades... (1)




(1) - Ao contrário da maior parte das histórias que aqui conto e que são ficcionadas, esta é absolutamente verídica.

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