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2005-04-04

 


Karol Wojtyla

João Paulo II morreu. Os meios de comunicação social acompanharam o prenúncio do fim, a agonia e o pós-morte do papa mais mediático de sempre. Porque ele entendeu e soube aproveitar, talvez como ninguém até agora, a força da palavra e da imagem dos tempos modernos. Mas, quando se esperava deste homem de Deus uma abertura à realidade dos nossos dias, fechou-se numa teologia quase fundamentalista, que ignora a prática dos próprios fiéis. Aborto, contracepção, igualdade de homens e mulheres no seio da Igreja, são algumas das questões que levaram a qualificá-lo como conservador. A imagem do homem universalista, que partilhou a fé com outras religiões, que levou a esperança a povos sem voz (como no caso de Timor), não foi capaz ou não conseguiu ultrapassar os lobbys mais retrógrados do Vaticano, como a Opus Dei. Reconheço, contudo, que nos deu, sobretudo nos últimos tempos, uma lição de vida, da forma como lidou com a morte anunciada. Se, diferenças à parte, gostava daquele homem vindo da cortina de ferro, com um inusitada força, dinamismo e incondicional entrega à sua missão, acho-o agora um exemplo para quem sofre, lembrando que mesmo os doentes, mais ou menos incapacitados, são parte da sociedade a que pertencem e merecem a solidariedade de todos. Quando os sistemas de saúde se pautam por resultados financeiros é bom lembrar que, até na morte, a dignidade humana deve ser respeitada. Porque é o fim de todos, mesmo dos maiores paladinos do neoliberalismo, que parecem ter esquecido a efemeridade do poder e da vida fácil.
Pela minha parte, com algum currículo nas coisas religiosas, quedo-me pela contemplação do homem, como agnóstico militante. Porque não posso negar a existência de Deus, nem afirmar o contrário. Embora, viva em permanente crise existencialista na busca de algo que não sei se é divino. Que não sei se está no homem ou no seu criador. Nem sei se o homem foi feito assim por alguma entidade superior ou se foi apenas resultado de uma experiência mais global e com efeitos colaterais. Não sei mesmo, mas isso incomoda-me. Sendo baptizado e crismado – sem contar a minha vontade -, fui catequista, maestro de capela e até conto com um curso de cristandade. Mas, algures, uma pequena frase, um instantâneo clique, levaram-me a questionar. Bertrand Russel encarregou-se do resto, com o seu “Porque Não Sou Cristão”. O padre da minha freguesia, a quem escrevi sobre o assunto, respondeu-me que essa leitura era perigosa para quem não tinha bases filosóficas. Não mais lhe voltei a escrever, mas entendi ler mais, saber mais e até escrever a minha autocrítica religiosa. E desde aí vivo, pelo menos, com a certeza de que não será a Igreja que me dará resposta ou consolo. Mas na dúvida permanente se não seria muito mais feliz acreditando em Deus. Chego mesmo a ter inveja de quem tem fé. Porque é muito mais simples, fácil e descartam-se os pecados, como os pratos de papel de um piquenique qualquer.

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