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2005-06-15

 


Estranha infância a minha

Ligo a televisão e sinto-me transportado para a minha infância. Milhares de bandeiras vermelhas e de vozes a cantar de forma fraterna e comovida a Internacional ou o Avante camarada.

Essas são as canções da minha infância. Além do Alerta e, claro, e da Grândola, vila morena.

Em casa, sintonizava o rádio na Renascença (Queira o patriacado ou não queira, queiram fascistas ou não, rádio renascença será, a porta-voz da razão) e ouvia as canções revolucionárias que gravava num velho gravador comprado a propósito de um curso de inglês.

Claro que as canções infantis também marcaram a minha infância. Lembro-me perfeitamente de ir ouvir o José Barata Moura a cantar o Joana come a papa após uma ocupação de casas do Monte Estoril.

Em casa, com os meus irmãos, brincávamos às eleições e às revoluções. Memórias que me ficaram gravadas, tal como algumas reuniões que por vezes ocorriam lá em casa e que acabavam numa jantarada ou numa combinação de piquenique para o fim de semana seguinte.

A memória foge-me e o meu olhar fixa-se de novo na televisão onde milhares de pessoas de punho erguido deitam um último adeus a Álvaro Cunhal entoando palavras de ordem.

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