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2005-06-13

 
Para além do político

Paulo trabalhou noite dentro. A excitação do primeiro contacto com as organizações que passavam a estar-lhe confiadas não o deixava dormir. Um minuto perdido parecia-lhe neste momento um minuto roubado ao Partido. Nem se lembrava de que havia muitas noites não dormia o suficiente. Vira o violento ritmo de trabalho dos outros. Lembrava-se de Rosa, magra e extenuada, perdendo a noite a imprimir manifestos. Via diante de si Vaz, pálido e enérgico, nunca poupando passos, fadigas e privações. Via Ramos chalaceando da dureza da vida. E sentia-se ele próprio arrastado no grande esforço colectivo. Assim, depois de escrever um caderno de revindicações e de tomar notas relativas às suas novas tarefas, apesar de já serem duas da manhã e estar esgotado, continuou a leitura, há dias interrompida, de um livro de Lénine. Não, não podia perder tempo.


Manuel Tiago (Álvaro Cunhal) in Até amanhã camaradas.


Desenho de Álvaro Cunhal in Desenhos da Prisão

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