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2005-06-04

 


Vivó Futebol

Ao fim de tantos anos a achar que o futebol era uma espécie de ópio do povo, eis que me vejo rendido, ou melhor, vencido. É que de política nem quero ouvir falar. Da profissão prefiro desligar às 17:30 horas. Do futuro, alheei-me completamente. Porque, no espaço de 2 anos, a qualidade de vida e alguns projectos ficaram sem sentido. Quando antevia uma reforma daqui a 3 anos, tenho agora um horizonte de 13, se entretanto não me obrigarem a mais anos de trabalho. Donde, sem grandes conjecturas, deduzo que nunca vou ter reforma nenhuma. Lá terei de morrer ao serviço da Nação, que é coisa que já pouco ou nada me diz.

Que tenha os mesmos direitos e regalias que pautam o sector privado, estou de acordo. Que tenha de fazer os mesmos sacrifícios que toda a gente, estou de acordo. O que não me apetece mesmo é sacrificar-me em benefício de uns quantos. De uns administradores de ocasião (ou devia dizer de interesse político ou de pagamento por conta do mesmo?) e, muito menos, em nome dos direitos adquiridos dos políticos. Porque que é que os deputados têm direitos adquiridos e os outros não? Porque é que os governantes não dão o exemplo? Porque não são trabalhadores? Porque é difícil recrutar quadros de qualidade para servir o Estado? Ou talvez apenas porque se perdeu o espírito de missão e se encara a actividade política como promoção pessoal? Nem respondo, para não descer ao mesmo nível dos que praticam e abusam do ditado de Frei Tomás, com a desfaçatez de quem se julga superior e sobranceiro à sociedade civil – que é uma espécie de reserva dos que, já não tendo poder, começam a ficar com o estatuto de quase escravidão.

Portanto, vou estar cada vez mais atento ao futebol. Alienar-me na vulgaridade das frases feitas, na adrenalina que relega para plano secundário aquilo que julgava o cerne da vida. Que se lixe. Ao chefe hei-de dizer, com voz cansada: “- Chefe, lamento, mas não consegui... A minha espondilose, a asma, a artrite e outras doenças que não digo, para não me expor, impediram-me de cumprir a minha tarefa.”. Ele, com a mesma idade que a minha, há-de responder-me: “- Pois..., estamos a ficar velhos, não estamos? Já não vamos lá, mas que queres, lá temos de cumprir calendário...”. Não sei se vai ser assim, mas de uma coisa tenho certeza: enquanto os votos em branco e nulos não tiverem a mesma importância mediática que a abstenção, vou mesmo ficar em casa nas próximas eleições. Abro apenas excepção para o referendo sobre o aborto ou outros que me façam despertar os sentidos. Até lá, senhores políticos elejam-se a vós mesmos. Eu, por cá, fico a ver Futebol. Até ao dia, em que, mesmo de bengala, relembrando velhas lutas de algumas décadas atrás, volte às contestações de rua. É que já faltou mais!...

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