2005-08-14
Portugal hoje: O medo de existir
Existe um livro muito interessante chamado Papalagui em que um chefe tribal de uma ilha na polinésia explica aos seus conterrãneos como são os eurpopeus. Analisados os europeus por quem está de fora é fácil aceitar a generalização e a colocação de todos os europeus no mesmo saco. Afinal para quem vive de forma tão diferente, nós sociedades ocidentais somos muito parecidos.
Neste livro José Gil também coloca todos os portugueses no mesmo saco, oscilando entre ficar dentro ou fora dele. Mais estranho é colocando-nos a todos no mesmo saco dizer que esse saco é muito diferente dos outros europeus. É um livro que fala, por vezes com alguma assertividade, de algumas características dos portugueses, mas que exagera ao nos considerar a todos, apáticos, sem memória e sem capacidade de intervenção e debate. As suas linhas mestras de raciocínio são a incapacidade dos portugueses para a inscrição (deixar memória no sentido de sequência a acontecimentos ocorridos), a inexistência de espaço público (espaço de debate e de comuniação que não os media) e o medo de exclusão em que vivemos (medo de sermos considerados fora da normalidade). Pois eu acho que um país que tem a palavra saudade como sua, é um país que se inscreve, acho que em Portugal, cada vez mais, há espaço de debate de iedias foras dos canais dos media, como acontece na própria blogoesfera ou nos movimentos sociais e acho que cada vez mais as pessoas estão a ser capazes de assumir as sias diferenças e idiossincrasias.
Confesso que este livro me irritou, primeiro porque está mal escrito e depois porque é repetitivo até à medula. No entanto, tal como na história do Rei vai nú, alguém disse que se devia achar que era uma grande obra e até agora é usual repeti-lo. Apesar de tudo o livro serve como prova daquilo que defende: apenas num país tão atordoado e sem auto-estima como o nosso é que este livro podia ser um “caso”. Também no seguinte parágrafo, se pode ver como o livro serve de prova à sua própria teoria:
“O ressentimento e o ódio alimentavam o queixume, num discurso recorrente até à exaustão: “este país é uma merda”, “está entregue aos bichos”, etc. E, de cada vez, o sujeito da enunciação excluía-se do conjunto nomeado, como se lhe não pertencesse”.
Enfim, como diria o outro se o José Gil é português eu quero ser espanhol, morra o josé Gil, morra, PIM!