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2005-10-03

 


Eclipse do Sol

Ainda a campanha oficial autárquica vai a meio e já há de quase tudo. Desde insultos em directo, passando por panfletos anónimos, a tiros, de fogo real. O poder, mesmo o local, parece apetecível e há quem teime em não deixá-lo passar-lhe ao lado. Para aquecer mais, lá voltaram os incêndios, porque agora a época de fogos parece querer ter lugar durante o ano inteiro. Tal como a política baixa, que teima em não ter estação.

Ontem, no Portugal profundo, rezaram-se terços e rosários e cantaram-se ladainhas. Não em apoio de qualquer candidato. Apenas porque hoje havia um eclipse solar. Houve até quem prometesse não sair de casa antes que o astro rei ressurgisse no seu esplendor. Medos ancestrais. Medo do fim do Mundo. No Século XXI. Na Sociedade da Informação, das paixões pela Educação, estamos ainda assim.

E a política que, no seu mais nobre objectivo, devia servir para por termo ao obscurantismo, para unir e desenvolver, para organizar solidariedade, ganha, cada vez mais, o estatuto da arte do ilusionismo. Do engano, do insidioso, dos truques sem nível. Há um evidente eclipse da Democracia. Pelo menos no que tem de mais puro: a vontade dos cidadãos. A ver vamos se este fenómeno antinatural não será total e de longa duração. É que o Sol, com mais ou menos eclipses, vai aparecendo todos os dias, o que não cansa nem levanta grandes contestações. Mas há muita gente farta das promessas dos políticos e da sua desfaçatez. Pode ser que, um dia, sejamos nós a não querer que eles reapareçam.

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