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2006-01-13

 


Três cavalos

Segundo Erri de Luca, neste livro, a vida de um homem dura a vida de três cavalos. A personagem central vive o seu segundo cavalo, como jardineiro em Itália, mas recorda entrecortadamente o seu "primeiro cavalo" nos tempos em que viveu na Argentina e de como teve de fugir ao regime repressivo de então. O passado violento deixa marcas e são essas marcas que moldam o homem que se tornou jardineiro.

Trata-se de um excelente livro, editado em Portugal pela Âmbar, onde a escrita envolvente de Erri de Luca nos transporta para um outro mundo, feito de cheiros, de sabores e de vivências.

Deixo aqui um pequeno parágrafo para poderem saborear:

É noite e os nossos pés ainda se entendem. O resto do corpo já se separou.
Penso numa ilha onde ande descalço, numa ilha depois de Laila, quando é altura de deixar a terra firme.
Preciso de uma ilha depois dela, depois dos pés soltos dela.
- "Em que pensas" ?, pergunta, para me ouvir dizê-lo.
Numa ilha, em ondas a baterem contra escolhos, num vento que deixe crescer as árvores, num poço e numa caleira que lhe leve a água da chuva. Penso no soluço de uma roldana sobre o poço e no sussurro de tagarelice que a água faz no fundo e na paz que é ter uma reserva de água.
Depois invento coisas para dizer: penso eu.
Tens muita imaginação, diz.
Sim, a de quem faz a barba sem espelho.
Laila escuta-me e está tão próxima da minha orelha que sopra dentro ilhas.

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