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2006-08-11

 
A noite é deles

Definitivamente a noite é deles.

Em pequeno ouvi histórias sobre os brinquedos que se animavam depois da meia-noite ou quando as crianças dormiam. Brinquedos que conversavam, se divertiam entre si ou comentavam as atitudes dos donos durante o dia – Viste a birra que o Pedro fez hoje ?

Mas, e apesar de uma ou outra vez ter fantasiado com tal hipótese, nunca acreditei verdadeiramente nisso.

Mas com eles é diferente e é verdade. Podem preguiçar horas a fio de uma forma garfieldiana, ou quedarem-se imóveis nos sítios mais inusitados. Escondidos numa gaveta, dentro de um armário ou debaixo da cama, ou, ao invés, debaixo do sol ardente que faz queimar a soleira da varanda. Por vezes temos de dar um passo mais largo não vamos pisar um, ou outro, que tomou o corredor como leito e, de olhos fechados mas orelhas atentas, sonha com magnifícas caçadas a ratos ao luar.

Porém, e mesmo nestes dias de estio que enfadam. Mal chega à noite, os seus olhos brilham de excitação. Esperam inquietos pela casa adormecida. Que os corpos se silenciem nas camas, que os sons das televisões nocturnas se apaguem de vez e que as respirações dos donos ganhem o ritmo pousado do sono dos justos. É então que um, talvez o mais afoito, encolhe a espinha como uma contorcionista chinesa e raspa as unhas no chão.

É o sinal. Saiem dos vários locais onde aguardavam ansiosamente o seu momento e, com a agilidade não demonstrada durante o dia, entregam-se às mais mirabolantes acrobacias. Fazem ciladas e são apanhados, são ao mesmo tempo perseguidos e perseguidores e de vez em quando lá se solta um miado queixoso, ou uma rosnadela de aviso.

Mas nada de mais, a noite é deles e é para a aproveitarem sem quezílias de maior que no outro dia, sob um calor infernal, a casa será de novo propriedade dos humanos que com eles habitam.


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