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2007-01-03

 

Sónia

O olhar sério dela deixa-o atrapalhado. Procura-lhe a boca, com a sua boca mas não a reconhece. Ela não se esquiva ao beijo, mas há algo que não bate certo.

Tiago não é pessoa para apressar ninguém e deixa que seja ela a tomar a iniciativa. Só mais tarde, frente ao mar, com o olhar paralelo ao infinito, é que ela lhe conta.

Ele nada diz e Sónia impacienta-se – Não percebes, estou grávida de um filho teu.

Ele percebe e se não diz nada é porque não sabe o que dizer. São os dois estudantes da Faculdade de Engenharia e formam um dos casais mais populares desde que começaram a namorar ainda eram caloiros.

Ele pensa: este filho veio cedo de mais. Vai estragar o nosso futuro.

Ela pensa: eu não quero ter um filho não desejado. Eu, quando for mãe, quero que ser mãe seja a melhor coisa que me aconteceu.


NÃO

O que tinham passado juntos, tinha-os deixado mais unidos que nunca e foi com uma enorme dor no peito que Tiago soube que ela tinha sido descoberta. As idas ao tribunal, a vida íntima tornada pública, a violação de privacidade e por fim ela atrás das grades e ele impotente, com vontade de gritar a plenos pulmões: prendam-me também, o embrião também era meu, a decisão foi tomada a dois.


SIM

Quando, seis anos passados, Sónia voltou a anunciar-lhe a sua gravidez, Tiago lembrou esse longínquo dia, e não teve a mínima dúvida que tinham tomado a decisão certa.

Agora sim. Iam ser pais. Formados. Casados. E este filho ia ser fruto do amor e de um desejo comum.

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