2006-05-30
2006-05-23
É um homem normal, se é que há gente assim. Apesar dos cinquenta e tais, contam-se, pelos dedos, os cabelos brancos numa cabeleira castanho-escuro farta. Boa figura ainda, destoando apenas as olheiras e uma certa proeminência do ventre, menos pelos finos e mais pela falta de locomoção ou de braçadas, que ginásio nunca fora com ele.
Nunca soubera porquê, mas, pelos vistos, inspirava confiança. Colegas, amigos e até gente de que nem lembrava o nome, abeiravam-se, metiam conversa e, em menos de uma frase completa ou com jeito, estavam a pedir-lhe conselhos. Ia metendo umas ”buchas” enquanto desfiavam a vida, os problemas, os desejos e as angústias de sempre, para concluir que a vida é complexa mas que é nisso que reside a sua beleza, que a felicidade só se experimenta após a provação, donde se deve relativizar as coisas, para concluir que, afinal de contas, valia a pena viver.
Uma filosofia simples, compreensível, objectiva. Mal sabiam os outros que o Conselheiro Pereira vivia consumido em conjecturas existencialistas e que os conselhos que dava - ou melhor, ia omitindo -, só aumentavam o seu distanciamento do mundo real. Ao cabo de uns bons anos, compreendeu, finalmente, que nunca dera conselhos a ninguém, apenas se limitara a ouvir. A depressão que parecia inevitável deu lugar a uma contida realização. É que também percebeu que a solidariedade não reside em apontar caminhos, apenas em ajudar a encontrá-los.
Laura, grávida, casa com Paulo. Anos mais tarde separam-se, e numa tarde Paulo perde Afonso o filho, durante o passeio. Telefona a Laura que fica em choque e perde a memória, assim começa este romance.
Através da história de Laura e Paulo, conhecemos Dulce (lésbica) irmã de Paulo, e Sérgio (paraplégico e homossexual) irmão de Laura.
Conhecemos ainda os protectores pais de Laura, e a violência do Pai de Paulo, que antagoniza com a submissão da Mãe que morre.
Rodrigo Guedes de Carvalho, apresenta-nos uma história trágica, marcada por várias vertentes polémicas. Escreve pausadamente, entrecortando a narração com as vozes dos interlocutores, numa linguagem cuidada por vezes poética, outras violenta.
A ler!
2006-05-20
A mais bela bandeira do mundo
Cerca de 10.000 mulheres mobilizaram-se para formar a mais bela bandeira do mundo. Entre elas algumas personalidades conhecidas. A televisão transmitiu o evento em directo que foi um sucesso após imensas convocatórias oficiais pela rádio e televisão, e outras tantas, particulares por SMS.
O evento teve ainda um patrocinador para pagar os custos da operação e alguns adereços.
Não tenho nada contra. Mas imaginem se canalizassem tanta energia para coisas verdadeiramente úteis. É que, pelos vistos, desde que seja feita uma boa campanha e garantida a possibilidade de poder aparecer na TV, as pessoas aparecem e aguentam o esforço fisíco de estar algumas horas ao sol e em pé. Podia-se fazer tanta coisa... os jovens limpam as praias, voluntários para impedir o vandalismo das vacas da cowparade, os homens limpam monumentos ou as mulheres pintam as casas das zonas histórias.
A mais bela bandeira do mundo ? Ok, mas podia-se de quando em vez guardar o F e o fútil passar a útil.
2006-05-19
O Código Da Vinci
Realizado por Ron Howard, com Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Alfred Molina, Paul Bettany e Jean Reno
Ora bem, polémicas, teorias e conspirações à parte, quando li o livro de Dan Brown fiquei fascinada, se acredito ou não na teoria apresentada, é comigo. O livro deve ser entendido como ficção, assim como o filme, e nada mais.
Assim sendo, eu acho que o filme está muito fiel ao livro, os actores cumprem bem, talvez Robert Langdon tivesse ganho mais com outro actor, não que Tom Hanks esteja mal, nada disso, mas...
Audrey Tautou está muito bem, com o seu sotaque francês encantador. Mas os grandes desempenhos são de Paul Bettany – que interpreta o sinistro Silas, e Ian McKellen está fabuloso vestindo a pele do excêntrico milionário inglês Teabing.
Um filme de acção, cheio de ritmo que nos prende desde o inicio.
Eventos
Ontem fui assistir a uma apresentação de uma empresa. O meu chefe tinha sido convidado para o evento, como não podia ir, fui em sua representação. Há que admitir que o marketing cada vez funciona melhor, pois esta empresa, para além da apresentação do seu produto, convidou-nos a um cocktail servido numa parte VIP do El Corte Inglês, de seguida fomos para uma sala de cinema, ontem decorreu a apresentação, que durou cerca de meia hora. No final entram meninas e meninos, cheios de pipocas e coca-colas, e eis nos preparados para assistir ao Código Da Vinci!
2006-05-17
Uma mulher desobediente
Um nome enganoso para um livro de tão boa qualidade. Jane Hamilton, neste livro datado de 2002, conta-nos a história de uma familía, os Shaw, ou seja da mãe, uma pianista infiel, do seu marido, um professor de história sempre calmo e interessado, da filha Elvira, uma maria rapaz entusiasta de simulações de guerra e de Henri, o filho clarividente sob o olhar do qual o romance é escrito.
A história nada tem de especial, mas a forma como os sentimentos de cada um, e a forma como cada um analisa os outros ou reage, face ao resto da família, são descritos com uma enorme crueza mas, também, um grande conhecimento da natureza humana, faz deste livro um grande livro.
Recomendo, mas aviso que é um pouco "duro".
2006-05-15
Um filho é uma âncora e sem uma âncora arriscas-te a passar a vida à deriva.
A minha vida sempre foi passada à deriva, levada pela corrente ou atirada contra escolhos. Maré alta, maré vaza.
Penso nestas palavras e olho-me ao espelho. Imagino o meu corpo a modificar-se, um filho-âncora a pesar-me o ventre. Os seios a dilatarem-se a as feições a arredondarem-se. Quem poderá dizer se não serei uma melhor mãe do que fui uma filha.
Mas ela esqueceu-se de me contar um pormenor, se um filho é uma âncora: o que é o pai desse mesmo filho ?
Freedomland – A Cor do Crime
Realizado por Joe Roth, com Samuel Jackson, Julianne Moore, Edie Falco
Uma mulher dá entrada no hospital, histérica toda suja de sangue, alegando que o seu filho foi raptado por um negro. Imediatamente a policia entra em acção, questionando-o e bloqueando um bairro problemático da comunidade negra, até que o raptor seja apanhado. A ira dos residentes vem provocar alguns tumultos, dando origem a um conflito racial. Brenda apresenta-se histérica, meio louca, o que por vezes nos põe em dúvida quanto à veracidade da sua história, assim como ao detective destacado, interpretado por Samuel Jackson.
O argumento não nos traz nada de novo, mas vale a pena ver, quanto mais não seja, pelas fabulosas interpretações de Samuel Jackson e Julianne Moore
2006-05-14
E depois do Campeonato...
... a Taça !
Campeões, campeões, nós somos campeões !!!!!
2006-05-13
A hora das Vacas
É hoje, pelas 20:00 que será feita a "largada" das 101 vacas que irão ocupar Lisboa até ao final de Agosto. O evento é na Praça do Municipío mas as vacas espalhar-se-ão pelos mais diversos lugares e darão um colorido muito especial à cidade.
2006-05-12
Bandeira Vermelha
Ir tomar banho com bandeira vermelha passou a dar multa miníma de 55 euros. A ideia até faz sentido, tentar impedir as pessoas de irem tomar banho quando o mar está perigoso.
Mas é completamente incompatível com a actual gestão das praias onde a época balnear começa só a 1 de Junho e até lá nem bandeiras nem nadadores salvadores.
2006-05-10
O Senhor X, da Póvoa de Lanhoso, de 55 anos, conduzia, há 35 anos, sem carta de condução. Durante esse período de tempo, passou por Lisboa, França e Suiça, onde, se depreende da notícia, terá também conduzido sem habilitação. Ontem foi, finalmente, apanhado por uma operação stop. Agora, de carrito guardado na garagem, afirma que vai, também finalmente, retomar os estudos interrompidos, em tempos longínquos, com o chumbo no exame de código. A esposa, bem disposta, referiu ao repórter que acompanhava sempre o marido, mas com o credo na boca, rezando a Deus e às alminhas do Purgatório para que não tivessem maus encontros, com a polícia, entenda-se. Ontem o marido saíra sozinho e... Há coisas que são mesmo uma questão de fé!
A conspiração
Acabei recentemente de ler este livro de Dan Brown que, no seu estilo cinematográfico e cheio de acção, conta um conjunto de eventos relacionados com uma descoberta da maior importância cientifíca. Entre tecnologia de ponta, organismos secretos e os meandros da classe política norte-americana, Dan Brown tira-nos a respiração em mais uma obra-prima de suspense e trama bem urdida.
Agora as peças do puzzle encaixavam... o secretismo do presidente, a excitação da NASA...
Existe um fóssil neste meteorito! Não apenas uma partícula de uma bactéria ou de outro micróbio, mas uma forma avançada de vida! Prova que existe vida algures no universo!
2006-05-08
Noticias da 7ª Arte
Firewall
Um filme extremamente dejá vu, Harrisson Ford igual ao de sempre, um filme perfeitamente dispensável.
MI 3
Pura adrenalina, temos a sensação de estar diante de um jogo da playstation, durante 130 minutos, Cruise não se redime dos seus últimos menos felizes papéis. Enfim, puro entretenimento, muita fantasia, com algumas boas cenas de acção e efeitos especiais.
O Novo Mundo
Um filme sobre o explorador John Smith e a conhecida “Pocahontas”. Um filme com poucos diálogos, temos os pensamentos dos personagens, numa linguagem extremamente poética e bela, acompanhada de uma boa música de fundo e paisagens extasiantes.
Um filme para gente sensível, ou para um estado de espirito mais frágil .
2006-05-06
O programa nuclear iraniano
Antes do mais deixem-me dizer que nada tenho contra o povo iraniano ou contra a energia nuclear. Tenho sim, e muito, contra o governo iraniano e as armas nucleares.
Também me irrita a desigualdade e a lógica de dois pesos e duas medidas praticada por uma organização que deveria ser democrática (e garantir a democracia) que se chama ONU. Essa organização começa por ter um Conselho de Segurança em que existem países que têm direito a permanência constante. Outros, rotativamente, lá podem tomar assento nesse Conselho. Querem coisa mais anti-democrática do que esta ?!
E não concordo, igualmente, com a lógica que o Irão não pode enriquecer urâneo, mas outros países já podem. Mesmo que o receio seja que o enriquecimento do urâneo seja para a construção de armas nucleares, porque o Irão não pode ter armas nucleares e outros podem ? Será pela cor de pele dos iranianos ? Pela religião dominante ? Por ser um país bélico ?
Se a ONU funcionasse e defendesse a paz no mundo, já há muito teria proibido a existência de armas nucleares mas para todos os países não só para alguns. Se a agência nuclear funcionasse, permitira a utilização de energia nuclear após a realização de vistorias e auditorias de segurança. A energia nuclear é, cada vez mais, indispensável ao desenvolvimento humano, no entanto dada a sua perigosidade só pode ser utilizada com tecnologia sem falhas e medidas de segurança bem planeadas.
Mas nada disto interessa. É o Irão, então não pode enriquecer urâneo e ninguém se preocupa, sequer, em tentar explicar porquê.
2006-05-05
A Máquina do Arcanjo, Frederico Lourenço
Este novo livro de Frederico Lourenço, continua a sua autobiografia iniciada em Amar não Acaba. A escrita fluida do autor cativa-nos mais uma vez, e embalamos na história da sua vida como se fosse um pouco nossa ou de conhecidos nossos.
Mais uma vez recomendo a leitura, mas quem conhecer a obra do autor, irá apreciar mais.
“Passarei de imediato por cima da componente erótica, dada a minha já afirmada incapacidade de escrever sobre sexo de uma maneira que a mim mesmo não repugne. Poderei, no entanto, deixar aqui muito brevemente a confirmação de que Gonçalo foi o competentíssimo responsável pela minha educação sexual, para me desviar já para outro foro de aprendizagem, que teria profundas consequências na pessoa que vim a ser: a literatura.”
Frederico LourençoIn A Máquina do Arcanjo
Livros Cotovia