O País está a arder..

 

E onde está o Governo? Apenas hoje, o Ministro da Administração Interna visitou um dos locais de incêndio, enfatuado, quase como por obrigação. Confirmou, titubeante, o pedido de ajuda internacional, que já se conhecia. Mas, só dois aviões da Grécia chegarão amanhã, nem se sabe se a tempo de uma ajuda eficaz. O primeiro-ministro nada disse, perante a calamidade pública que assola o país. Porque não se assume como continuador do Governo que devia ter feito o que não fez?...
Vamos lá, senhores, temos o direito de saber. Expliquem, em discurso directo, o que se está a passar, o que estão a fazer para evitar que fiquemos com um território desertificado, com perdas de fauna e flora irreparáveis. Que eficácia teve colocar militares a vigiar as florestas, que medidas tomaram para evitar os incêndios, que meios disponibilizaram, que ajuda internacional pediram e, se quiserem, desculpem-se, atentando contra a nossa inteligência, como habitualmente, mas digam qualquer coisa!
Dói a alma, vendo o país a arder assim. Ver gente a perder tudo, o todo de uma vida de sacrifício. Dói ainda mais, saber que este ano ia ser assim, se as temperaturas fossem altas, sem quase nada se ter feito. De quem é a culpa? Do Eng.º Guterres que deixou o país de tanga, há mais de 2 anos atrás?!... Por muito que goste de Portugal e me sinta português de alma e coração, se tivesse a idade do meu filho, de certeza que emigrava.

Até daqui a duas semanas.

O próximo filme de David Mamet a chegar até nós é o thriller Spartan, com Val Kilmer.
Um agente secreto, tem de resgatar a filha do presidente raptada, possívelmente, por uma rede de tráfico de mulheres, a funcionar no Dubai. Mas o herói vai ter que se deparar com manobras estranhas no seio da casa branca.
Um filme mediano, que talvez dispensasse as salas de cinema, indo directamente para clubes de video.

Não existem palavras para exprimir certas perdas, apenas acordes

Na Berma de Nenhuma Estrada

Só hoje acabei de ler esta colectânea de contos de Mia Couto, mas felizmente já existe um novo livro dele para ler - O fio das missangas. É que os livros de Mia Couto são especialmente saborosos. A forma como ele cria e manipula as palavras. Mas, também a fantasia e a sensibilidade com que cobre as pequenas histórias de um quotidiano africano.

O português gostava era de ouvir as pronúncias dela. Pagava com notas só para a ficar escutando a noite inteira. mariana não tinha que fazer mais nada: só divagar, devagar, sem sexo nem nexo. O tuga, militar até aos botões, só queria que a prostituta falasse.
- Mas falar o quê?
A primeira noite ainda a moça perguntou. Depois entendeu que ele gostava era de nenhumices, simples peerfumes de sílabas. O homem estaria ali por livre e não espontânea vontade? Enfim, coisas de branco.
- Vocês, as pretas, não são como as nossas mulheres.
- Como não somos ?
- Vocês falam com o sangue.

Representantes

Se calhar devia-me sentir orgulhoso por um português, Durão (perdão José Manuel) Barroso, ser presidente da Comissão Europeia.

Na verdade sinto-me como relativamente ao Diogo Feio que é o "representante" da blogoesfera no Governo.

Podem vir do meu mundo, mas não representam o que eu penso.

Nesse sonho
 
Tenho saudades desse sonho
O sonho que sonhei e em que contigo me encontrei...
 
Palavras ditas
Sentimentos partilhados
Emoções sentidas
Sonhos sonhados
Que contigo troquei, que contigo sonhei....
 
Sentada na praia
Sozinha estava
Embalada pelas ondas
Embalada pela maré
Meus olhos fechados contigo sonhei....
 
O raio de sol que me aquecia
De repente se apagou
O calor do teu olhar aquecia-me no seu lugar.
O som das ondas
De repente se calou
Os teus dedos soltavam da viola o som que me embalou.
De repente o movimento da maré parou
O teu sorriso prendeu-me num magnífico momento em que o mundo se evaporou.
 
Nesse sonho....
Que contigo troquei, que contigo sonhei....
 
Nesse sonho
Meu sonho concretizei....
Queria conhecer o teu olhar e ali estavas
A tua alma já conhecia, agora vi o espelho....
Queria partilhar teu talento
Tuas palavras já o tinham denunciado, mas agora o testemunhei....
Queria sentir o teu sorriso
E agora era todo ele para mim...
 
Nesse sonho
Que contigo troquei, que contigo sonhei.... 
 

Como aprendi a conduzir   Esta peça de tatro conta-nos a perturbante relação entre um tio e uma sobrinha. Uma relação de desejo da parte dele, mas também de provocação da parte dela. Talvez não seja por acaso que o livro "Lolita" de Nabokov é um dos livros favoritos de Paula Vogel, a autora da peça.   Tudo começou quando Pipi (Maria Henrique), assim chamam à sobrinha numa família onde todas as alcunhas têm cariz sexual, tem onze anos e o tio Pilocas (Rogério Samora) a apalpa.  Mas a relação entre eles evolui nunca se sabendo exactamente quem trava quem para que nunca cheguem a vias de facto.   No entanto, e apesar da densidade da relação,  a história é contada de forma bem humorada, com flashbacks constantes metidos como marcha-atrás e com um coro grego magnificamente interpretado por Isabel Medina, Joana Seixas e André Teodósio que se desdobram, ainda, em outras personagens.

Um único senão, o encenador exagerou na luz que aponta aos olhosdos espectadores. Vão ver a peça que está no D.Maria e vale a pena, mas levem óculos escuros.  

Posse dos Secretários de Estado
 
Para variar, não vou falar de política, mas apenas constatar o atraso na posse dos Secretários de Estado, em cerca de 50 minutos, por alteração, à última hora, da Dr.ª Teresa Caeiro da Defesa para a Cultura. O nosso Presidente, que chegou à tabela, estava visivelmente cansado. É que aquela sala do Palácio da Ajuda, onde decorrem estes actos solenes é uma autêntica sauna. Um amigo que também se apercebeu do incómodo de Jorge Sampaio, após tão longa espera, desabafou: - Bem feito! Há mesmo gente mazinha neste Mundo... eh, eh.

O Homem Aranha 2

Sam Raimi traz-nos de novo o grande super herói Homem Aranha.
Nesta segunda parte Peter encontra-se meio perdido, a navegar na vida, tendo terminado o possível romance com Mary Jane, tenta sobreviver entre o fabuloso homem aranha e os seus poderes e o simples Peter estudante/trabalhador. Surge na trama o Professor Octo, que após uma falhada experiência se torna no malvado Dr. Octopus, que só o nosso herói pode enfrentar.
Sam Raimi consegue de novo os fabulosos efeitos especiais, que nos transportam para a acção deste super herói e nos envolve nas suas aventuras. O Dr. Octopus consegue superar o personagem Duende Verde, é caso para se dizer que este segundo filme é melhor ainda que o primeiro. Quando é que chega o terceiro?

Pieces of April (Pedaços de Uma vida)

April é a ovelha negra de uma família americana. Porém no dia de acção de graças, que poderá ser o último em família, já que a mãe está gravemente doente, April resolve fazer um jantar. April vai tentar que esta refeição seja uma boa memória para todos guardarem.
Um filme simples, despretensioso, que vê-se muito bem.

EM LONGO SE TRANSFORMA
 
Em longo se transforma o breve engano,
e o discurso em vento,
e o desejo em medo.
E a esperança
em memória, e o pensamento
em bússola cega
para o mundo.
E em vidro o espelho apaga,
gasto de mágoas e mudanças,
o claro rosto do futuro.
 
Pedro Mexia
In o futuro em anos-luz
Edições quasi

Num discurso bem intencionado, e a propósito do apoio à selecção nacional no decurso do Euro2004, José Luís Arnault, enalteceu a mobilização de todo o país em torno de uma cusa. Na sua memória, e ainda ue num plano completamente diferente, a única vez que Arnault se recordava de vêr o país assim unido, fora no 25 de Abril de 1974.

Sendo, realmente, tão raros os momentos em que a nossa sociedade, sempre tão fracturada, se mobiliza em torno de algo, não o fazendo mesmo quando tal seria expectável como aconteceu noutros países em torno do escândalo da pedofília, importa lembrar um outro momento em que Portugal cerrou fileiras e uma enorme massa humana soube falar em uníssono.

Falo, claro está, do apoio ao direito à auto-determinação do povo de Timor Leste.

Verão quente

Vem um gajo de férias, todo descansado, e encontra o país político às avessas. Para quem teimava em lembrar que Guterres tinha fugido às suas responsabilidades, fica agora calado. Faz-me recordar a frase célebre do jovem Durão Barroso, numa RGA de Direito por alturas do PREC, acusando a UEC de cacarejar na razão inversa dos ovos que punha. Pois... pela boca morre o Cherne.
O PR lá decidiu em consciência, esquecendo que mais de meio país, com todas as razões, pedia eleições antecipadas. Não auguro nada de bom no futuro mais próximo e muito menos da política que se adivinha do novo Governo. Mas SEXA decidiu, está decidido, mesmo que a consciência talvez lhe comece a pesar.
O PS está a braços com a crise. O homem bom que é Ferro Rodrigues, mas que já tardava, fez o que dele se esperava. É assim que saem os que não sofrem da síndrome do poder. A negativa de Vitorino desiludiu-me. Apostava que ele aceitaria conduzir o PS numa fase crucial do país. Relevo, contudo, as razões pessoais que, quem sabe, um dia conheceremos. Os candidatos que se perfilam fazem-me antever que ainda não será desta que o PS terá um líder à altura do maior partido da oposição.
Em resumo, já não tenho a certeza de ter encontrado o país político às avessas, parece-me, antes, que vai ser mais do mesmo.

Duas mulheres em Praga

- Nunca sairia desta cozinha - disse Maria José -, é como se estivéssemos em Praga.
- Em Praga?
- Sim. Não conheço Praga, mas imagino-a com ruas estreitas e pátios interiores. Gosto das ruas que parecem corredores.

Juan José Millás é um dos meus autores favoritos pela forma como mistura a realidade com a ficção e como explora os sentimentos dos personagens nessas duas vertentes. Este livro, nesse aspecto, é uma verdadeira obra-prima e é, de certa forma, o corolário de todas a restante obra dele, a forma como se mistura o que aconteceu com o que não aconteceu mas poderia ter acontecido.

- Se tivesse tido filhos - disse, o mais velho teria agora vinte e cinco anos.

As personagens, Luz Acaso, Maria José, Álvaro Abril e o narrador, parecem saídas do mesmo universo onde Almodovar, no cinema, desencanta as dele. Mas a literatura permite, mais que o cinema, uma dualidade de histórias. Ou seja, os dois lados da vida: o real e o ficcionado.

Disse-lhe que todos nós fantasiámos, uma vez ou outra, com a possibilidade de sermos adoptados, e expus-lhe sem indicar a proveniência, que havia só dois tipos de literatura e talvez duas espécies de existência: a dos que se sentiram estranhos dentro da sua própria família e a dos que estavam convencidos que lhe pertenciam.

E é sobre estas duas possibilidades, a vida vivida e aquela que não se chegou a viver mas que se fantasiou que versa o livro. Por vezes a imaginação parece mais real do que a própria realidade. Álvaro Abril bem sente essa dificuldade ao tentar escrever a biografia de Luz Acaso:

Então ela moveu os olhos em direcção ao aparelho e disse:
- Estás a gastar fita inutilmente.
(...)
- Não - disse ele -, a fita está a gravar o teu silêncio, que vale tanto como as tuas palavras.
- Como contarás os silêncios na minha biografia? Com páginas em branco?

O tamanho importa ?

É evidente que sim.
Claro que não é o único factor, mas se for demasiado grande torna-se pouco atractivo. Na verdade eu prefiro os posts pequenos. Curtos e incisivos. É claro que o facto de eu os preferir assim enquanto leitor não significa que seja capaz de os escrever com essa eficácia.

Mas também é verdade que o último post que coloquei (antes deste), com apenas três palavras, já vai em 14 comentários.

É caso para dizer, o tamanho importa e quanto mais curto melhor.

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

A magia está de volta a Hogwarts no 3º ano. Harry e os seus amigos reencontram-se de novo na magia da escola, mais crescidos sem dúvida alguma. O nervosismo instala-se na escola quando um assassino – Sirius, foge da prisão de Azkaban. Tudo indica que este matou os pais de Harry e que virá agora para terminar com Harry.
Muitos efeitos especiais, o filme é giro, talvez um pouco confuso para quem não leu o livro, mas irá deliciar sem dúvida os mais pequenos.

E porque amanhã se comemora o centenário de um grande poeta...Pablo Neruda.

É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.

***

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

***

Nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

O País adiado

Minha Mãe(Ma Mére)

Um filme com Isabelle Huppert

Pierre tem 17 anos e é obcecado pela sua mãe Heléne. A mãe acaba por lhe revelar a sua perversidade sexual, que mantem desde sempre. Pierre começa a se iniciar nesta perversidade sexual que a mãe lhe impõe.
Um filme com cariz sexual gratuito, doentio, que não nos traz nada de relevante a não ser o seu mau gosto. Não recomendo.

Dez contos com livro dentro

Comemorando o seu 10º aniversário, a Campo das Letras publica dez contos de outros tantos autores que publicam usualmente nesta editora.
A saber:Arsénio Mota, Francisco Duarte Mangas, Gonçalo M. Tavares, José Viale Moutinho, Julieta Monginho, Luís Naves,Manuel Córrego, Manuel Jorge Marmelo,Miguel Miranda e Sérgio Luís de Carvalho.

Como único factor de coesão, o facto de todos estes contos girarem em torno de um livro.

Sendo obviamente o resultado heterógéneo, não se junta impunemente Gonçalo M. Tavares com Manuel Jorge Marmelo, o livro não deixa de ser interessante e ter um ou dois contos brilhantes.

Para mim que sou um grande apreciador deste género literário e que gosto de ter no meu "curriculo" de leitor, o maior número de autores portugueses, o livro tem atractivos adicionais.

Escolhas

Enquanto o país discute se devemos ou não ter eleições antecipadas, muitas vezes discute futilmente se parece que o nosso Presidente vai fazer esta ou outra opção até, ao invés de discutir o que é melhor para o país, mais um governo que dure só dois anos ou começar tudo de novo e com um governo eleito para durar os quatro anos que lhe compete, quedo-me a pensar no número de vezes em que não me deixam votar ou sequer escolher pessoas que tanta influência têm na minha vida.

E começa logo pelos pais, tive uma sorte imensa, mas a verdade é que não me deixaram escolher os meus pais. E se a escolha da minha mulher já é mérito meu, os meus filhos ainda que influenciados geneticamente por mim, ninguém me deixou escolher qual a parte de mim que eu queria que lhes fosse transmitido.

Mas na politíca ainda é pior. Uma das pessoas que mais influencia o mundo em que vivo é o Presidente dos Estados Unidos da América, e nunca me deixaram votar para a sua eleição. Também aqui em Portugal, para quem trabalha em Lisboa como eu, era muito mais importante poder votar para a Câmara de Lisboa que para a de Sintra onde habito, mas onde vivo muito menos. Trabalho numa empresa pública e não me deixam votar para a escolha do Conselho de Gerência. Até aqui no prédio para a escolha da administração do condominio acabamos com as votações e vivemos numa lógica de rotatividade.

Caro senhor Dr. Jorge Sampaio, não se sei faz parte dos leitores silenciosos deste blog, mas se faz e me está a ler, peço-lhe que me deixe votar para a escolha do primeiro-ministro. Sim eu sei que é uma eleição indirecta e que nós votamos nos deputados, mas já viu as vezes em que fui impedido de poder escolher, não acha que me podia deixar dar a minha opinião desta vez ?

O Amor é para os parvos, Manuel Jorge Marmelo

Um livro muito bonito, sensível, nostálgico, sobre o amor, abandono, e muitas cicatrizes herdadas.
Aqui fica um pequeno excerto.

“Falta-lhe ao que ouço dizer, a conivência que se estabelece ainda no ventre; o milagre químico do reconhecimento dos primeiros instantes, parece que pelo cheiro; a alquimia da seiva que nos alimenta, o calor do seio rijo de leite – e depois vem o resto: afectos, sorrisos, a vida, enfim. Um cordão umbilical que se vai tecendo pelo tempo fora, uma grande e infinita meia que se tricota a dois, sem pressa.”

Casamento o que é ?

No meio de um zapping televisivo deparei com uma discussão no telejornal da SIC em torno de um acordão do supremo em que a recusa de relações sexuais foi tida como atenuante num homicídio de uma mulher pelo seu conjuge.

Feita a pergunta a diversas personalidades, juizes e advogados, todas responderam o que não tinha sido perguntado - se há, ou não, obrigação de ter relações sexuais com o conjuge. Para além de na minha opinião mesmo que haja isso em nada deve servir de atenuante, o não cumprimento de um contrato não deve servir de atenuante para um homicídio (ou então teriamos muitos empreiteiros assassinados) a questão é interesante, bem como o facto das posições se dividirem de forma sexista.

As mulheres defendiam a não existência de qualquer obrigação, o sexo deve ser praticado num acto de vontade e sem qualquer obrigação. E os homens afirmavam que tanto a existência de relações sexuais era uma obrigação do casamento que a sua recusa sistemática ou a não consumação eram motivos de divorcio por justa causa (o termo acho que não é este).

Confesso que o que mais me repugnou foi ver a divisão sexista e todos falarem da mulher poder ou não recusar-se a ter relações sexuais. Até parece que só os homens é que têm desejo sexual e que tomam a iniciativa. Mas a questão que ponho é - se o casamento não implica o relacionamento sexual (e por mim tanto faz o que está escrito no "contrato") como pode ser defendida a lei existente em Portugal que proibe o casamento entre homosexuais ?

A casa dourada de Samarcanda

Corto Maltese, o marinheiro da orelha furada, parte em busca de um tesouro escondido perto da temível prisão conhecida como a casa dourada de Samarcanda. No entanto, estamos no principío do séc. XX e todo o turquistão está em guerra, entre facções turcas, russas e bolcheviques.

Com a aura romântica que lhe é habitual e num dos livros mais cinematográficos de Hugo Pratt, Corto sabe que um sósia dele anda por aí e a sua mãe, velha cigana de Gibraltar, ensinou-o que isso significa a morte. Mas a morte de quem, dos dois sósias ou apenas de um ?

Um livro a não perder como toda a série Corto Maltese.

"Que difícil que é a vida dos homens, pensou ela. Eles não têm asas para voar por cima das coisas más."
Sophia de Mello Breyner Andresen em A Fada Oriana

Estranhos de passagem

Owke (Sergi López) e Senay (Audrey Tautou) são, respectivamente, nigeriano e turca, imigrantes clandestinos em Londres. Trabalham num hotel como recepcionista e empregada de limpeza. Inesperadamente deparam-se com tráfico de órgãos humanos no hotel, facto este que lhes vai revelar a precariedade da vida, em actos desesperados.
Um excelente filme de Stephen Frears, já em venda directa em DVD ou VHS, e ainda podem ver pela quantia de 2,5 euros, dias 8 e 9 de Julho no cinema Ávila. A não perder, recomendo.

Alegrias

Quando o país se encheu de bandeiras e se vestiu com as cores do nosso país, perdão, da nossa selecção, eu fiquei espantado mas não especialmente contente.

Quando a nossa equipa, ainda que nos fazendo sofrer jogo após jogo, chegou à final, eu não fiquei espantado mas fiquei contente.

Agora, depois de perdemos com a Grécia, ver as pessoas na rua a festejar e a gritar vivas a Portugal, deixa-me não só espantado mas especialmente contente.

E agora ?

Parabéns Grécia

Viva Portugal

Mais uma gata que apoia a nossa selecção

A ilha dos jacintos cortados - Gonzalo Torrente Ballester

Como é uso nos livros deste escritor galego, a fantasia histórica impera. No entanto, e ao contrário de alguns dos seus livros mais conhecidos como "Crónicas do rei pasmado" ou "A bela adormecida", a habitual fluidez da escrita emaranha-se e intrinca-se na própria filigrana da história.

O livro conta-nos, através de um triângulo amoroso platónico da actualidade, a história de Górgona e a procura sobre se Napoleão existiu ou se foi uma figura inventada.

O personagem principal consegue ler o passado e mergulhar nas páginas da história através de um espelho ou nas chamas da lareira. É assim omnisciente ainda que por vezes não consiga ir ao encontro daquilo que procura.

Um livro interessante mas que em certos momentos se torna um pouco massudo.

"Necessitamos de um rei que simbolize a França". "E porque não um rei fantasma ? - interveio o cônsul -;daria o mesmo resultado"."Um rei fantasma não pode subsistir se não aparecer incluído numa dinastia de prolongado avoengo, e isso é coisa que não temos. A républica pode destruir os retratos dos reis e atirar ao vento as suas cinzas, mas não a sua lembrança."

Estou que nem posso

Foto de A Bola

Sophia não morreu...
porque há muito que pela beleza da sua poesia, mesmo quando feita prosa, atingiu a imortalidade.

Ela sempre foi, e continuará a ser, a minha poetisa favorita.

Inscrição

Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto ao mar

Sophia de Mello Breyner Andresen

A literatura está mais pobre...

Sophia de Mello Breyner, morreu aos 84 anos.

Porque
.
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia Mello Breyner Andersen

O cinema está mais pobre....

Marlon Brando, morreu hoje. Contava 80 anos.

Um Homem: Klaus Klump, de Gonçalo M. Tavares

Já há tempos que andava para ler este jovem escritor português.
Gonçalo M. Tavares tem uma escrita fluente, que nos prende desde o início da sua escrita. Neste seu romance temos a guerra, a violência e também o desejo e o amor, temos homens e mulheres e vida e morte.
Um livro muito bom, recomendo, eu por mim irei ler mais.

“Enquanto o amante não chega a mulher não sai da janela. As janelas existem porque os amantes existem, e porque os amantes ainda não estão em casa. As janelas deixam de existir quando as pessoas que amas voltam.
Vê o frio, a tempestade lá fora.”
(...)
“Claro que as mãos nos bolsos fazem acumular emoções no resto do corpo. Como se os dedos, às escondidas, destapassem algo. Com as mãos nos bolsos sente-se mais, pensa-se menos.”
In Um Homem: Klaus Klump
Gonçalo M. Tavares
Editorial Caminho, S.A.