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2007-01-30

 
"O que há de insuportável neste debate [sobre o aborto] é a hipocrisia com que se defende a vida e se ignora a realidade social, o sofrimento, a discriminação."

Teresa de Sousa, PÚBLICO, 30-01-2007

eu não diria melhor!

2007-01-29

 

Teatro Infantil - A Flauta Mágica - TIL

"A Flauta Mágica, uma das obras mais populares de Mozart, narra uma história fantástica de superação de limites, crescimento espiritual e luta entre forças opostas; uma alusão ao bem e ao mal, os dois grandes poderes que regem as relações humanas. O libreto foi confiado a Mozart por Emanuel Schikaneder, autor da maior parte do poema e director do teatro Auf der Wieden. A ópera estreia em Viena, em 1791. O universo de A Flauta Mágica é o dos contos orientais e transmite uma mensagem de amor, de fraternidade e de sabedoria."

A peça está em cena no Teatro Armando Cortez, na Casa do Artista, na Pontinha, até dia 1 de Abril, todos os Sábados, Domingos e Feriados, pelas 15.00h (salvo alguma alteração de última hora).


Vale mesmo a pena ver! Eles cantam e encantam, um espectáculo musical não apenas para pequenos, mas sim para toda a familia! Recomendo!

Mais informações :
www.til-tl.com

2007-01-27

 

Asfixia

Escreve. É duro. De onde saem as palavras ninguém sabe. Ele não sabe. Ele ignora quase tudo. Sabe que o lugar onde está não tem nome. É de onde saem as palavras, e as palavras fazem-se frases. De repente corta tudo e recomeça. Recomeça pelo mesmo. Por ela. Tudo aquilo é um sacrificio por ela. Uma maneira de amor. Uma forma de sexo.


O novo livro de contos de Pedro Paixão não soa a novo. Os temas são os do costume: amor, sexo, depressão, escrita e leitura compulsiva. A amizade masculina e acima de tudo a solidão. No entanto, e como também é hábito no autor, a qualidade da escrita e a forma como os sentimentos e os estados de alma são descritos, fazem com que valha a pena ler o livro e dão momentos de verdadeiro prazer.

Lia deitado, sentado, a andar. Quando não estava a fazer outra coisa, estava à espera de terminar de fazê-la para poder voltar a ler. Ler fazia-o escapar para um lugar mais seguro, mais belo, mais real do que aquele em que estava condenado a habitar. Nunca tinha gostado da vida vivida. Da família, da escola, da gente com quem se tem de tratar no trabalho. Tudo isso lhe era desprezível. Só os livros podiam salvar o mundo de se desmoronar.

2007-01-26

 

A leucemia é uma doença maligna que atinge as células da medula óssea. Isto acontece quando os glóbulos brancos têm um crescimento anormal na medula e se espalham pelo sangue. Anualmente, em Portugal, descobrem-se cerca de mil novos casos. Os avanços da medicina têm sido espantosos: o tratamento da leucemia nos jovens e adolescentes tem uma taxa de sucesso na ordem dos 80%. Por outro lado, 50% dos adultos recuperam totalmente.
Mas, como e quem pode fazer parte desta gigante base de dados?Helder Trindade, director do Centro Nacional de Dadores de Células Estaminais, Medula Óssea e Cordão Umbilical (CEDACE), explica: “é bastante simples. Basta ser-se saudável e ter entre 18 e 45 anos”.
“não se deve confundir medula óssea com espinal medula”, o que ainda acontece com frequência. “O transplante de medula é um processo muito simples, executado apenas com uma colheita de sangue.”
Ontem realizou-se no Pavilhão Atlântico o III Concerto de Solidariedade da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL)
Os principais eventos destinados à angariação de fundos para a APCL têm sido os concertos bianuais, realizados no Pavilhão Atlântico com a generosa participação do maestro/tenor argentino José Cura e de diversos músicos portugueses. O primeiro destes concertos teve lugar em Outubro de 2002 e recebeu apoios muito diversos da nossa sociedade civil, tanto individuais como de empresas, o que permitiu à APCL o início das suas actividades em 2003.Esta é já a terceira edição do concerto, de novo com o maestro José Cura e com Rui Veloso, Luís Represas e Luz Casal, acompanhados da Orquestra Sinfónica Nacional.
O concerto foi muito bom, é de louvar o papel de todos estes músicos unidos por uma causa comum! Esperemos que ontem se tenha dado mais um passo nesta caminhada!

2007-01-25

 
Isabel

Isabel confirma mais uma vez a morada no pedaço de papel que Joaquina lhe entregou. É ali, não há duvidas. Ainda antes de subir os degraus, apalpa com a mão o maço de notas que traz dentro da bolsa. Eram todas as suas economias. Tudo o que tinha conseguido juntar do que lhe pagavam na fábrica de tecidos. Era o seu fundo de emergência.

Mas afinal se aquilo não era uma emergência, o que seria uma emergência. Isabel nem tinha querido acreditar quando as duas linhas azuis tinham aparecido no teste. Ainda pensou que se podia ter enganado, mas a D. Filomena da farmácia tinha-lhe dito que era mesmo assim, tão fácil. Uma risca ou duas riscas, não havia que enganar.


NÃO


Isabel sobe os degraus e toca à campainha. Quem lhe abre a porta é uma senhora simpática, mas a simpatia não foi suficiente quando a raspagem foi mal feita.

Isabel não chega sequer ao hospital. Era uma operária fabril. Agora é apenas mais um número a engrossar as estatísticas da vergonha.


SIM

Isabel entra no edifício e, automaticamente, depois de dizer ao que vem, estende o envelope recheado de notas. – Para que é esse dinheiro todo menina, pergunta-lhe a recepcionista sorridente. Não paga impostos todos os meses ? O que tem a pagar é muito menos, mas entre para o consultório nº 2 e fala comigo à saída que a Doutora já está à sua espera.

2007-01-22

 

Assalto e Intromissão

De Anthony Minghella, com Jude Law, Juliette Binoche, Robin Wright Penn

Will e Sandy dirigem um moderno gabinete de arquitectura situado numa zona problemática de Londres, e são sucessivamente assaltados.

Farto de ser roubado, Will decide fazer uma vigia nocturna ao atelier e persegue um dos jovens que mais uma vez o tenta assaltar.

Após ter conhecimento da morada do jovem, Will intromete-se no seu lar, fazendo amizade com Amira, a mãe do rapaz, uma refugiada da Bósnia que vive com bastantes dificuldades.

Desta amizade resulta um caso de paixão, que leva Will a trair a sua companheira, que passa uma terrivel fase da vida devido ao autismo da sua filha.

Minghella mostra-nos a fragilidade das relações, os quotidianos, o marasmo, a inércia, a procura de novas emoções, as consequências dos actos irreflectidos.

Um belíssimo elenco, um bom filme.

2007-01-21

 
"O acto sexual é para ter filhos» - (resposta de NATÁLIA CORREIA)

Recebi este poema via email e resolvi divulga-lo aqui...
Agora que temos novo referendo sobre a DESPENALIZAÇÃO DA IVG (Interupção Voluntária da Gravidez) aí vai o poema de Natália Correia para recordarmos outros tempos e como há pelo menos 24 anos, sim.... 24 anos andamos nisto
«O acto sexual é para ter filhos» - disse na Assembleia da República, no dia 3 de Abril de 1982, o então deputado do CDS João Morgado num debate sobre a legalização do aborto.
A resposta de Natália Correia, em poema - publicado depois pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano - fez rir todas as bancadas parlamentares, sem excepção, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:


Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado

fazer menina ou menino;

e cada vez que o varão

sexual petisco manduca,

temos na procriação

prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,

lógica é a conclusão

de que o viril instrumento

só usou - parca ração! -

uma vez. E se a função

faz o órgão - diz o ditado -

consumada essa excepção,

ficou capado o Morgado
.


( Natália Correia - 3 de Abril de 1982 )

 
De que cor é a redoma dos amantes ?

Há os que lêem. Os que lêem jornais, jornais gratuitos, oferecidos na entrada da estação. Os que lêem livros. Os que forram os livros e que me impedem de espreitar a capa.

Há os que ouvem música. Os discretos. Os que se balançam ao som do MP3 e aqueles a quem o som, electrizado, salta para fora dos auscultadores em vozes de pato Donald.

Há os que brincam com o telemóvel. Jogam, mandam furiosamente mensagens carregando nas teclas como se a sua vida dependesse da rapidez dos dedos vorazes sobre teclas minúsculas.

E há os amantes. Envoltos numa redoma que não dão por nenhuns destes nem pelo resto da multidão cinzenta e anónima que enche o comboio em hora de ponta.

Os amantes.

De que é feita aquela redoma que os protege do solavanco do comboio, dos encontrões suados à subida e descida em cada apeadeiro. Os seus olhos apenas se vêem nos olhos do outro e se as mãos agarram o outro corpo não é com medo de cair. Não. É um bailado silencioso em passos de valsa que ensaiam entre corpos cansados de mais um dia de trabalho. Não notam os empurrões. A falta de espaço. O cheiro a ar rarefeito, a discussão do diz-que-disse nem a voz estridente ao telemóvel, esforçando-se por se fazer compreender acima do som ritmado dos bogies nos carris.

Os amantes nem reparam que olho para eles enquanto escrevo estas palavras no meu caderninho verde que me acompanha.

2007-01-20

 
Rita

Rita espreguiça-se ruidosamente e larga a postura executiva que a acompanhou em mais um longo dia de trabalho. De repente apercebe-se que não está sozinha, do outro lado do open space, antes ruidoso e agora deserto, vê os olhos dele.

Também ele já perdeu a postura rígida de consultor e apenas os olhos se mantém sérios. Sérios e fixos nela.

Sérios e fixos nela. Sérios e fixos nele.

Quando Rita se apercebe do que está a fazer já as roupas ganharam vida e se despenharam no chão e a mesa de reuniões foi afastada deixando as marcar redondas dos pés na carpete, a fazerem de mesinha de cabeceira a um ninho de amor agora inventado.

Ela não sabe o que aquilo significou para ele. Ela nem sabe bem o que aquilo significou para ela ou porque o fez. Nunca em nenhuma conversa falaram do sucedido e a situação nunca se repetiu nem nunca nenhum deles tentou recriar cenário propício para uma sequela.

Também por isso quando semanas passadas o período lhe faltou nem lhe passou pela cabeça falar com ele sobre o assunto. Aliás nem falou com ninguém, sempre fora independente e com um projecto de vida bem definido e não era agora que iria mudar a sua maneira de ser.

NÃO

Rita marcou a semana de férias que tinha guardado do Verão e que tinha planeado para umas férias na neve por altura do Carnaval. Sem outra companhia que uma decisão no rosto, meteu uma mala no porta bagagem mais os mails que tinha trocado com a clínica e dirigiu-se a Badajoz.


SIM

Rita marcou a semana de férias que tinha guardado do Verão e que tinha planeado para umas férias na neve por altura do Carnaval. Sem outra companhia que uma decisão no rosto, meteu uma mala no porta bagagem mais os mails que tinha trocado com a clínica e dirigiu-se a Lisboa.

2007-01-19

 

Brincadeira de Crianças, Carmen Posadas

Luísa, mãe solteira de uma pré-adolescente, escritora de thrillers, dá-se conta que o enredo do seu livro lhe veio trazer memórias há muito enterradas. Mais estranho é quando um episódio da sua infância se "repete" na infância da sua filha Elba.

Para quem conhece a obra de Carmen Posadas, vai gostar, neste livro a autora confunde-nos entre a ficção e a realidade do próprio romance, sempre com os seus traços irónicos já habituais nos seus livros. A ler.

2007-01-17

 


A Fórmula de Deus

Tomás de Noronha é um historiador, perito em criptação, que é abordado no Egipto por uma bela iraniana que lhe faz uma oferta de trabalho irrecusável. Mas as coisas não são tão simples como parecem e rapidamente se vê envolvido com a CIA e o regime de Teerão.

Este é o começo para um sem número de aventuras, voltefaces e emoções.

No entanto, este livro é muito mais do que um livro de aventuras. Ao estilo de Dan Brown, aliás na linha do seu romance anterior o Codex 632, José Rodrigues dos Santos evoca uma teoria que cruza o miticismo e a religião com a fisica cosmológica.

Como já é imagem de marca do autor, vê-se que houve um trabalho de investigação e mesmo as teorias mais inverosímeis são especulações defendidas por cientistas crediveis.

Trata-se de um daqueles livros que consegue aliar ser um best seller com, senão a qualidade literária, uma trama e uma história muito bem contada. O facto de ser um calhamaço pode assustar um pouco, mas li-o em menos de uma semana.

Recomendo.

2007-01-16

 


Os 10 grandes portugueses finalistas

Apesar de normalmente não ligar muito a este tipo de votações, na verdade votei nos Grandes Portugueses. Claro que as personalidades não são comparáveis quando se notabilizaram em áreas tão distintas. Se me perguntassem um Rei, poderia dizer D. João II, um escritor, tal não fosse nenhum dos escolhidos, mas a ser, seria Saramago. No entanto, acabei por votar naquele que ficou em 11º lugar, Salgueiro Maia.

Agora a olhar para os 10 finalistas, a razão levaria-me a votar em Arístides de Sousa Mendes, mas estando Salazar a concurso, engulo um sapo e o meu voto só pode ser este:


 
Joana

Naquele dia Joana chega à escola com os olhos vermelhos e a boca cerrada. Em vão os colegas lhe perguntam o que se passa, e é apenas depois das aulas, no caminho do costume que da sua boca saiem as palavras entaladas.

Quem as ouve é a sua amiga Catarina. – Contaste ao Rui ? Joana afunda a cabeça num não silencioso. Ainda não – diz – o que é que eu vou fazer, o meu pai vai-me matar.

De mãos dadas, ignorando piadas imbecis, as duas amigas vão à procura do Rui. A mão de Joana transfere-se de ninho e as lágrimas rebentam diques mal erguidos. Catarina retira-se, preocupada, sem saber como ajudar aqueles dois. Dezassete anos acabados de fazer. Catarina que tem dezoito e já é maior sabe bem como os dois se amam. Sabe também, pela amiga, do feitio do pai e do silêncio cabisbaixo da mãe.

Rui aperta a cabeça com as mãos. Pensa que não é possível, que tomaram todos os cuidados. Mas é o choro da Joana que faz dele um homem e o faz tomar uma decisão. Se ela concordar é claro.


NÃO

No dia combinado, olhos tristes e mão dada, chegam à morada combinada. O aspecto moribundo da casa e a cara da parteira que lhes abre a porta não lhe inspira confiança. Ainda pensa em dizer não, vamos embora, aqui não. Mas agora é Joana que tem o olhar firme – a decisão está tomada.

Dos dias que se seguiram, apenas ficou uma memória vaga, vermelha de sangue. Uma alucinação de sirenes de ambulância. A cara do Rui em permanência, a seu lado, no hospital. Mas ficou também uma outra marca, cravada no seu íntimo, a certeza que nunca mais irá poder ter filhos.


SIM

O que mais lhe custou foi arranjar coragem para ir à consulta. A simpatia da médica tornou tudo, depois, muito mais fácil. Engraçado é que a decisão estava mais que tomada: os dois queriam ter filhos, mas não agora. Nunca agora. O meu pai – pensava ela.

E no entanto, ao ouvirem os seus próprios argumentos, duvidaram pela primeira vez. A conversa com a Assistente Social também ajudou, principalmente porque ela, em momento algum, os pressionou.

A vida destes dois não foi fácil. Nunca é fácil. O Rui teve de arranjar emprego e ir estudar à noite e a Joana interrompeu os estudos durante dois anos. Mas hoje quando olham para o David, sabem que tomaram a decisão mais certa e como foi bom, e importante, poderem falar com alguém.

2007-01-13

 

Gertrudes

O trabalho no hospital deixa-lhe as tardes livres. Tirando os bancos é claro, mas isso é apenas uma vez por semana e Gertrudes até os aguenta bem. Pelo menos desde que deixou o outro hospital onde fazia bancos de 24 horas.


NÃO

Por isso à tarde aproveita o tempo livre para fazer um dinheiro extra. Sabe que não tem as condições necessárias para se algo correr mal, mas é para isso que serve o 112 – pensa – e se não for eu será outra qualquer. Se calhar até com menos cuidado e assim, pelo menos, elas são atendidas por uma profissional.

Gertrudes justifica-se perante si mesma. E o resto de remorsos que lhe resta, desfazem-se perante a perspectiva de uma reforma choruda.

Elas vêm aflitas, elas pagam o que ela lhe pedir e ainda agradecem no fim. Afinal sou uma benfeitora – pensa. – Eu resolvo o problemas delas e raramente surgem complicações. Só o caso daquela miúda de 14 anos que morreu a caminho do hospital, Gertrudes ainda estremece a relembrar esse dia, mas quem podia adivinhar que estava já tão avançada no período de gestação.


SIM


Por isso à tarde aproveita o tempo livre. O dinheiro que ganha não lhe permite grandes fantasias, mas Gertrudes sabe que não se pode queixar e já aprendeu, em tantos anos de hospital, como a saúde que tem é o mais importante.

2007-01-12

 


Largo das Necessidades

Este livro é uma aguarela pintada por Paola D'Agostino sobre a pensão Beirabismo e as personagens singulares que lá habitam. Em pinceladas poéticas e certeiras, a autora italiana revela-nos a história do fadista, do cigano, da escritora-palhaço e da bailarina cansada. Mas é a própria Lisboa, sob o olhar de uma italiana que acaba por ser retratada neste pequeno romance lançado recentemente pela Fenda.

A suavidade da escrita encantou-me.

Experimento aqui os sabores dos destinos possíveis, de opções certas ou erradas engastadas na paisagem de milhares e milhares de caixas chinesas, de cidades na cidade e praças, e jardins que se escondem e confundem no meio de outras inúmeras e diferentes praças, jardins e amendoeiras. Que faço aqui que não fizesse noutro lugar, é uma pergunta que me ponho todas as noites, e escrevo-a com formas e sem formas, a mesma pergunta numa página sempre igual, em mil ideias que penso filmar e acabo por não filmar nunca.

2007-01-09

 

Maria

Já namoravam há quase três anos, católicos convictos, nunca tinham tido sexo antes do casamento. Por isso, que a abstinência tem destas coisas, as contas saíram erradas e a noite de núpcias foi também de concepção.

Claro que o Carlos e a Maria sempre tinham pensado em ter filhos e ainda que discutissem quantos, numa coisa estavam de acordo: o melhor era aguardar um ano antes de terem o primeiro bebé. No entanto, não foi o facto de as coisas não terem acontecido como o planeado que os deixou infelizes. Segundo eles, se as coisas se tinham precipitado, tinha sido Deus que assim tinha querido e quem era eles para O porem em causa.


NÃO


A gravidez decorreu normalmente e não obstante o sobressalto que a notícia de inicio lhes provocou na sua vida conjugal recentemente iniciada, rapidamente encararam o filho como uma dádiva e quando Pedro veio ao mundo, era um filho desejado e amado pelos seus pais.


SIM

A gravidez decorreu normalmente e não obstante o sobressalto que a notícia de inicio lhes provocou na sua vida conjugal recentemente iniciada, rapidamente encararam o filho como uma dádiva e quando Pedro veio ao mundo, era um filho desejado e amado pelos seus pais.

2007-01-08

 
Babel

Um filme de Alejandro González Iñarritu, com Brad Pitt, Cate Blanchet, Gael Garcia Bernal, Elle Fanning, Rinko Kikuchi, Adriana Bazarra...

Do realizador mexicano, já nosso conhecido, pelos filmes Amor Cão e 21 gramas, chega-nos agora Babel, escrito por ele e pelo seu amigo Guillermo Arriaga.

Terrorismo, Imigração e suicídio são os temas fulcrais deste filme, que nos é apresentado através de 4 histórias que acabam por ter um elo comum, aliás esta é já uma particularidade dos anteriores filmes do realizador.

Uma família marroquina adquire uma arma para proteger o seu gado. A arma fica entregue aos cuidados de dois miúdos (irmãos) que protegem as cabras dos lobos.
Uma bala perdida em Marrocos atinge uma turista americana,.
Uma empregada vê-se obrigada a levar as crianças de quem cuida até ao México para poder assistir ao casamento do seu filho.
Uma rapariga japonesa surda muda, tenta lutar contra preconceitos e viver uma vida “normal”.

O filme transmite uma intolerância prestes a rebentar dentro de todos, sejam eles, americanos, europeus, marroquinos, pobres, ricos, brancos, pretos...A falta de comunicação é a base, que os empurra para um abismo vertiginoso e ténue das relações e do amor.

No final, saímos com a sensação estranha após a sucessão de desgraças que vimos no écran, e se nalgumas histórias se excederam, penso que a história japonesa poderia ser mais curta, é excessiva a “pancada” sexual de Chieko, e ficamos sem saber de Santiago


Não é o melhor dos três filmes Alejandro González Iñarritu, mas é um filme muito bom que merece ser visto. As criticas tem sido menos simpáticas para com o filme, mas talvez seja pela alta qualidade com que o realizador sempre nos apresentou, agora superar vai ser difícil, falta um pouco da espontaneidade de “amor cão”.

Do excelente elenco destacam-se as actrizes Adriana Bazarra (Amélia) e Rinko Kikuchi (Chieko). A banda sonora está a cargo de Gustavo Santaolalla que dispensa apresentações!

2007-01-07

 

O Processo

Trata-se de um daqueles livros míticos, frequentemente citados e utilizados amíude em intertextualidades. Por isso, e porque mais vale tarde do que nunca, resolvi-me finalmente a conhecer o famoso processo kafkiano que se me revelou bastante diferente do que imaginara.

Joseph K é gerente de um banco e um homem respeitado na comunidade até que um estranho processo de uma mais estranha justiça, que funciona nos sótãos de todas as casas, se abate sobre ele, fazendo-o perder o discernimento, o respeito perante os outros e a sua vida anterior.

A história é obviamente uma metáfora e, como acontece com todos os livros muito citados, permite uma mão cheia de interpretações quer religiosas, filosóficas ou metafísicas. O interessante mais do aquilo que é mais falado que é a estranheza do processo, é a forma como os acusados se entregam voluntariamente nos meandros desta justiça, sofrendo contrariedades apenas porque as querem evitar.

Podendo ser uma heresia dizer isto, não o considerei um grande livro nem pouco mais ou menos, mas acho que era uma falha cultural nunca o ter lido que finalmente foi colmatada.

 
À noite no Museu



Não há muito a dizer, as figuras de cera de um museu criam vida pela noite, e divertem-se!
Ben Stiller igual a ele próprio, as usual, puro entretenimento que delicia as criaturas mais novinhas!


2007-01-06

 

Hoje é dia de Reis

E a abrir o Paris Dakar, Helder Rodrigues (2º em motos), Ruben Faria (1º em motos) e Carlos Sousa (1º geral) foram autênticos reis magos portugueses na pista de areia da Comporta.

Amanhã a prova segue na serra algarvia.

2007-01-05

 
As minhas escolhas cinéfilas do ano 2006

(nota: não vi ainda, o Babel)

O segredo de Brokeback Moutain
Entre Inimigos
O Infiltrado
Match Point
Volver
Munique
Piratas das Caraíbas, O cofre do homem morto
A dália negra


Português: Coisa Ruim!

2007-01-04

 

Ana Maria

Quando Raul chega a casa percebe logo pelo olhar da mulher que alguma coisa está mal. Limpa as mãos à fralda da camisa e pergunta-lhe, mudo, com os olhos, o que se passa ?
Ana Maria procura, com os olhos, os filhos que brincam, com os carrinhos, no canto da cozinha. Estou grávida – sussurra.

- Fosga-se – deixa escapar Raul e arrepende-se logo de seguida. Também o olhar dele encontra os filhos, agachados, felizes a brincarem em gritos de choques e ultrapassagens.

Os dois olham-se por um instante, e Raul sai outra vez de casa. É o feitio dele, é a andar na rua que consegue digerir uma noticia destas. A mulher está desempregada há três anos e o magro salário que traz para casa, da fábrica de tijolos onde trabalha, mal chega para pagar a prestação da casa. Se não fosse a ajuda do irmão, que tem um café na Ajuda, nem sabe como conseguia dar de comer ao Fábio e ao Francisco.

Mais um filho!


NÃO

Quando Raul volta a entrar em casa, Ana Maria está a lavar uma alface. - E se eu, começa ela. Mas a frase não acaba e ele abana a cabeça pesaroso. – Nem penses nisso, ainda ias presa e depois quem tomava conta dos miúdos. Havemos de nos arranjar, eu hei-de arranjar um trabalho melhor, tu vais ver.

Mas a barriga cresceu mais depressa que a economia, e quando a menina nasceu, a comida foi a mesma, apenas a dividir por mais uma boca. A Vanessa é uma menina linda apesar de andar sempre vestida de rapaz, com as roupas que deixaram de servir aos irmãos.

Quanto à Ana Maria, com mais uma filha para criar, desistiu de vez de arranjar trabalho e assim sempre poupa na roupa e no calçado. Francisco, o mais velho, arranjou uns biscates e também passou a contribuir com alguma coisa para a casa. Pena foi ter tido de abandonar a escola.


SIM

Quando Raul chegou a casa, Ana Maria disse-lhe – Não vou ter este filho. Agora nós mulheres podemos decidir.

Apesar de lhe custar a decisão da mulher Raul percebeu. Grávida, então, é que toda e qualquer hipótese de emprego ia pelo ar. O que seria melhor: mais um filho, ou melhor vida para os dois filhos que já tinham.

Raul abraçou a sua mulher num daqueles abraços que querem dizer tanta coisa. É que ele sabia que aquela devia ter sido a decisão mais difícil que ela alguma vez tinha tomado.

 

Reis Magos em Madrid!

2007-01-03

 

Sónia

O olhar sério dela deixa-o atrapalhado. Procura-lhe a boca, com a sua boca mas não a reconhece. Ela não se esquiva ao beijo, mas há algo que não bate certo.

Tiago não é pessoa para apressar ninguém e deixa que seja ela a tomar a iniciativa. Só mais tarde, frente ao mar, com o olhar paralelo ao infinito, é que ela lhe conta.

Ele nada diz e Sónia impacienta-se – Não percebes, estou grávida de um filho teu.

Ele percebe e se não diz nada é porque não sabe o que dizer. São os dois estudantes da Faculdade de Engenharia e formam um dos casais mais populares desde que começaram a namorar ainda eram caloiros.

Ele pensa: este filho veio cedo de mais. Vai estragar o nosso futuro.

Ela pensa: eu não quero ter um filho não desejado. Eu, quando for mãe, quero que ser mãe seja a melhor coisa que me aconteceu.


NÃO

O que tinham passado juntos, tinha-os deixado mais unidos que nunca e foi com uma enorme dor no peito que Tiago soube que ela tinha sido descoberta. As idas ao tribunal, a vida íntima tornada pública, a violação de privacidade e por fim ela atrás das grades e ele impotente, com vontade de gritar a plenos pulmões: prendam-me também, o embrião também era meu, a decisão foi tomada a dois.


SIM

Quando, seis anos passados, Sónia voltou a anunciar-lhe a sua gravidez, Tiago lembrou esse longínquo dia, e não teve a mínima dúvida que tinham tomado a decisão certa.

Agora sim. Iam ser pais. Formados. Casados. E este filho ia ser fruto do amor e de um desejo comum.

2007-01-02

 


Este ano, comecei o ano mais cedo

Uma hora antes do que aconteceria se estivesse em Portugal, entrei em 2007 em Madrid, no meio de milhares de gritos, na puerta del sol, exactamente no mesmo local onde horas antes tinha decorrido mais uma manifestação dos Peones Negros exigindo a verdade sobre os atentados do 11 de Março.

Mas entrar o ano em Madrid é uma experiência bem diferente. As ruas são um mar de gente colorida graças às cabeleiras de todas as cores e feitios inimagináveis que se usam por lá para festejar o dia dos inocentes (uma espécie do nosso 1 de Abril). Pessoas de todas as idades percorrem as ruas com a mesma animação e durante todo o dia e toda a noite.

Na Chuenca encontram-se lojas e “personagens” diferentes mas que, aparentemente pelo menos, convivem com verdadeiro respeito pelas suas diferenças. Num só museu, pude apreciar dois dos meus pintores favoritos: Picasso e Miró. E no Park Warner também vi lá algumas das minhas personagens favoritas, como o Bip Bip ou o Silvester.

Feliz Ano Nuevo !