2005-03-31
MIKE NICHOLS, in Angels in América
2005-03-29
Todos os dias, várias vezes ao dia, ela dava-me toques. O telemóvel iniciava uma melodia que logo se calava. Eu respondia-lhe da mesma maneira ou com SMSs poéticos. Um dia, deitados na penunbra de um quarto de hotel, perguntei-lhe porque nunca me deixava atender o telefone para que pudéssemos conversar.
Olhou-me com os seus olhos enormes e pretos e disse-me que o que mais gostava em mim era do silêncio. Ou quanto muito das palavras escritas. Depois mandou-me calar e voltou-se na cama.
Dessa vez não me contive e perguntei-lhe:
- Tiago mas por que raio de razão é que o teu telemóvel não pára de apitar ?
- São toques pai.
- ?!
- Os meus amigos mandam-me toques e eu respondo com toques, percebes ? Assim não gastamos dinheiro.
- Mas para que serve mandar um toque ?
- Pai, um toque significa que nos lembramos da outra pessoa, que estamos a pensar nela. Afinal não é muito diferente de todas as vezes em que tu pegas no teu telefone e ligas só por ligar. Ou quando envias um postal de férias só para mostrares que não te esqueceste das pessoas.
Fiquei a pensar naquilo. Nesta forma sucinta e prática de por a tecnologia ao serviço dos afectos sem gastar um tusto.
E juro que desde então para cá, aqueles constantes bips deixaram de me irritar. Afinal significam que o meu filho é apreciado.
2005-03-28
Memória das minhas putas tristes
O amor não conhece idade. Nem mesmo para um velho de 90 anos que sempre teve as putas e os livros por companhia.
O último romance de Gabriel Garcia Marquez transporta-nos para um mundo de ternura. Para um romantismo vivido ao som de um bolero ou de uma música erudita qualquer.
E mais não escrevo porque há livros de que não se deve falar, antes pousá-los na mesinha de cabeceira como companhia fiel e passar-lhes a mão pela suavidade da capa enquanto a sua fragância nos acaricia as narinas. Este é um deles.
2005-03-27
Jerusalém
Um livro que recomendo. Gonçalo M. Tavares tem o dom da palavra, nem sempre fácil...Um livro que nos transporta num universo de grande loucura, entre personagens que nos surgem e nos contam uma história, que não é feliz, por vezes até desconcertante...a ler.
"É Gada que fala. Tem quinze anos.
Entro e saio daqui. Abrem-me como uma porta e fecham-me. Fui operado durante onze anos. Dezassete vezes. Fizeram de mim uma porta durante onze anos.
Abriam-me e fechavam-me. Abriam-me e fechavam-me. Também faziam da minha cabeça uma porta.
É Gada, tem quinze anos, uma cicatriz na cabeça."
In Jerusalém
Gonçalo M. Tavares
Círculo de Leitores
Gonçalo M. Tavares in Roland Barthes e Robert Musil
daqui a um bocadinho, não se esqueçam de adiantar o relógio uma horita...pois é menos uma hora para dormir, snif....
2005-03-25
2005-03-23
Um tiro no escuro
Um filme de Leonel Vieira, com Joaquim de Almeida, Vanessa Machado, Filipe Duarte, Miguel Borges, Ivo Canelas, Margarida Marinho
Uma bebé de dois meses, é raptada no Rio de Janeiro, por uma hospedeira da TAP. Verónica, a mãe, inconformada, vai para Portugal, e entre um bar de striptease e horas no aeroporto, vai alimentando a esperança de reencontrar a hospedeira que lhe levou a filha.
Entretanto no bar recusando a ser “pau para todo o serviço” Verónica incompatibiliza-se com o patrão, sendo despedida. Carlos o segurança do bar, fica do seu lado e sai também hospedando-a em sua casa. Ambos acabam por se envolver em assaltos a bancos, com o irmão de Carlos, recém chegado da prisão e outro “amigo”.
A policia judiciária segue esta quadrilha, e o inspector responsável é nada mais nada menos, do que casado com a hospedeira responsável pelo rapto.
O cinema português tem tido uma boa evolução, em termos de interpretação e para quem se queixe que o cinema português é muito parado, desengane-se já por ai andam muitos bons filmes de acção portugueses! Este é um deles.
Mú
No último livro de Corto Maltese, Hugo Pratt junta para uma aventura derradeira uma panóplia de personagens que marcaram os seus outros álbuns. Podemos ver assim, lado a lado, Soledad, Jesus Maria, Levi Columbia, Steiner, Boca Dourada, Tristan e o inconfundivel Rasputine.
A eterna busca ao maravilhoso, desta feita a entrada para a mítica Atlântida, leva Corto a entrar numa viagem onde a fantasia é mais explicíta do que no normal universo de Pratt. Torna-se necessário percorrer um labirinto cheio de homens-aranha, mulheres guerreiras, sombras e areias movediças. Como sempre, mesmo perante as maiores impossibilidades físicas ou magias, Corto Maltese nunca acredita verdadeiramente, ou deixa de acreditar. É aliás isso que eu mais gosto nesta personagem, a de que um outro mundo é possível, não é preciso sempre analisar as coisas e dividi-las em correctas ou erradas, em verdadeiras ou falsas, por vezes basta viver as experiências.
Infelizmente com esta leitura recente, terminei toda a série Corto Maltese que me encantou desde os meus sete ou oito anos. No entanto, existem ainda muitos livros de Pratt por explorar, e a leitura da sua obra pode ser sempre feita uma e outra vez. A magia funciona sempre.
2005-03-22
Histórias com Arte
Museu do Louvre, 10 horas da manhã. Um batalhão de pessoas acotovelam-se, miúdinhas, frente ao quadro. Após desligarem os flashes, as fotografias são permitidas. Sob a tempestade de cliques, mona Lisa sorri vitoriosa e enigmaticamente.
Estico-me e espreito por cima de uns caracois revoltos. Vejo um quadro minúsculo e insignificante face a outras obras do mestre Leonardo.
- Anda, digo para a minha companheira, há coisas melhores e mais sossegadas para vermos.
Um arrepio gelado percorre a galeria, Mona Lisa perdera o sorriso.
Há muito que não o via. E se eu pouco mudara, apesar de me ter tornado um artista de sucesso, ele definhara dentro do seu corpo. A dilatação das pupilas e o tremer de mãos respondeu-me à pergunta que eu não formulei.
A vernissage parara a olhar para aquele vagabundo que abracei rapidamente. O olhar dele fixou-se nas serigrafias que eu estava a assinar e a vender. Uma luz rompeu a opacidade do seu olhar.
- Queres uma, perguntei - ofereço-ta.
- Obrigado. Mas não assines por favor.
Ao meu arquear de sobrancelhas, esclareceu: - Sem a tua assinatura não têm valor comercial e é a melhor garantia para que eu não a troque por uma dose qualquer.
2005-03-21
Poema
A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
Sophia de Mello Breyner Andresen
A Primavera começa hoje com o dia da Poesia.
É caso para dizer que é um bom auspicío...
posted by Pedro Farinha
2005-03-20
O JARDIM DAS DELÍCIAS de João de Aguiar
Neste livro de João de Aguiar é descrito um futuro possível para o nosso país e para a Europa: Passará a existir uma Federação Europeia; Portugal será uma região dessa federação; desaparecerão os símbolos nacionais, o artesanato e os produtos regionais; comunicaremos por videofone; poderemos beber e depois programar o automóvel para o automático; a comida será feita em laboratório; poderemos jantar por videoconferência …
João Carlos, um jornalista na etapa final dos quarenta, aprecia algumas destas coisas ; mas coloca outras em causa com o seu amigo belga Claude:
“Eu, súbdito feliz da Europa federada, recebo todos os dias o recado subliminar: Alegra-te, cidadão, que estás no melhor dos mundos. Tens a Federação e a prosperidade; enfim estás no Jardim das delícias. Agora goza-o, paga os impostos, olha para o écran da televisão e não chateies. Tudo isto evidentemente omitindo os despedimentos em massa de cada vez que há uma fusão de empresas… “
Portugal perdeu o seu vinho, o seu queijo e muitas outras coisas devido a normas da Federação com a justificação de falta de higiene na produção; mas na verdade, estas medidas foram tomadas para proteger os vinhos e queijos das regiões mais ricas. Perante este desaparecimento das identidades regionais surgem movimentos integristas nas várias regiões europeias, que acabam por cometer os mesmos erros que os fascismos ou nazismos da primeira metade do século XX.
É um livro aparentemente leve, que se lê de uma rajada; mas que nos deixa a reflectir sobre o Portugal e a Europa que legaremos aos nossos vindouros!
Para rematar quero dizqe que gostei desta nova faceta de futurista de João de Aguiar; cuja obra aprecio quando fala sobre outros tempos como o passado em "A Voz dos Deuses" , ou o presente em "O Navegador Solitário".
A filha do capitão
O segundo romance de José Rodrigues dos Santos é um grande livro. 634 páginas dele. E é também um bom livro que só peca por, porvezes, no difícil equilíbrio entre o romance histórico e o documentário, oscilar mais para este do que para aquele. Ou seja, vê-se que o livro assenta sobre uma forte pesquisa e um grande conhecimento da época. No entanto os detalhes que ilustram a narrativa devem, isso mesmo, ilustrar a narrativa e não sobrecarregá-la fazendo-a perder o ritmo.
Mas isso não significa que o livro não seja muito agradável de se ler, que a estrutura da história e a forma como nos apresenta Lisboa e Paris do inicio de século, a implantação da républica e a primeira guerra mundial não sejam bastante enriquecedores e que o romance de Afonso e Agnés, de cariz cinematográfico, deixe de ser a narrativa principal e aquela que prende o leitor de forma a que não dá pela dimensão do livro.
Um livro a não perder de um escritor que já tinha prometido muito em A ilha das trevas.
2005-03-19
Palavra curta para tão grande homem
2005-03-18
2005-03-17
Há “prái” um estudo da UE que nos deixa muito mal. Não é que nos estejamos habituados a ficar na cauda da Europa mas, neste caso, estamos num “honroso” quarto lugar quanto a Xenofobia.
Puxando da lusitana costela, acho que não somos assim tão mauzinhos. As estatísticas são números cegos, quando não agregam razões. É necessário entender que Portugal, há trinta anos, perdeu um Império Ultramarino e, de repente, teve de absorver meio milhão de “retornados”. Como membro da UE, tornou-se apetecível à imigração, sobretudo brasileira, africana e, mais recentemente, dos países da ex-União Soviética. Um país habituado à emigração, a uma diáspora ancestral, vê-se agora confrontado com um novo fenómeno que ainda não digeriu. E isso dá volta à cabeça das pessoas, em particular quando confrontadas com uma crise económica, mas também de valores. Para piorar as coisas, há os mafiosos do costume, que exploram, escravizando, quem vem de fora para sobreviver e os de cá, também em desespero, elegem como “bode expiatório” o alvo mais fácil para o desemprego.
Acho que ainda temos muito que crescer. Porque somos uma democracia recente, mas, em particular, porque ainda não fomos capazes de compreender que o nosso passado nos impõe, no presente, uma atitude mais responsável. Culpa de quem devia e não faz este by-pass entre a História e o futuro, assente no presente. Entretanto, deprimidos e na falta de melhores causas, vamo-nos vingando nos que parecem ainda mais necessitados do que nós.
2005-03-16
Histórias com livros
De repente um sussurro brota das páginas do livro que leio – A filha do capitão – é Agnés que me pede:
- Se não te importas fecha o livro, é que nesta parte estou nua e essa tua mania de leres nos transportes públicos provoca uma corrente de ar.
Estou a ler pela terceira vez O Código da Vinci, talvez face ao comunicado do Vaticano. E é incrível, pela terceira vez consecutiva o parvalhão do Langdon volta a confiar em Teabing. Há pessoas que não aprendem com os erros cometidos.
Naquele dia ela deu-me com os pés. Furioso por não a ter, resolvi não desistir. Se não fosse de uma maneira seria de outra. Cheguei a casa, liguei o computador e pus-me a escrever furiosamente.
Compus um cenário romântico e antecipei a personagem dela a cair-me nos meus braços. Claro que aproveitei para dar mais credibilidade e beleza à minha personagem. A dela, depois de a vestir sensualmente e de lhe por uma ligeira cor no rosto, deixei-a o mais parecida possível com a realidade. Tão parecida, tão parecida, que me deu com os pés novamente.
Soichiro
Felino em casa de donos que gostam de animais é no que dá: um gato mimado, a quem quase tudo é permitido. Mas há regras que ele vai percebendo, como o não subir à mesa na hora das refeições, dispensar umas arranhadelas e dentadas quando está em meditação profunda... Até os irracionais conseguem aprender com o tempo, mas o que me faz mesmo confusão é que alguns animais racionais, com a cabeça bem maior, não sejam capazes nem de entender os que os outros lhes dizem, na mesma linguagem, e só nos façam perder tempo. É vê-los por aí...
2005-03-15
Já vivi em saudade,
mas expulsaram-me
(p'ra sempre?...)
da língua portuguesa.
Alexandre O'Neill
Poesias Completas
in Poemário 2005
Assírio & Alvim
2005-03-14
A grande maior parte das vezes que escrevo faço-o na primeira pessoa. Torna-se-me mais fácil assim gerir os sentimentos da personagem. Exacto da personagem, porque lá porque escrevo na primeira pessoa não quer dizer que esteja a falar de mim ou de algo que me tenha acontecido.
Isto vem a propósito de um post mais abaixo intitulado O meu primeiro livro e que é, obviamente, ficcionado. Não tenho nenhum irmão mais novo e o meu primeiro livro só o escrevi aos sete anos... mas este tipo de confusão é-me frequente. Ainda me lembro de ter recebido um mail a dar-me os pêsames depois desta crónica.
Claro que quando escrevo sobre a minha visão do mundo, as minhas convicções ou a opinião sobre dado livro ou filme, aí o caso muda de figura.
P.S. Este post impunha-se porque tive a ideia para uma série de posts mas só mos atrevo a por depois deste esclarecimento ;-)
2005-03-12
A constituição do XVII governo pós 25 de Abril voltou a levantar o problema da paridade. É verdade que o número de mulheres é extremamente reduzido. É verdade que na constituição da lista para deputados o PS criou regras para a paridade que não se reflectiram na escolha de ministros e secretários de estado. Mas a pergunta que faço é esta - como é que reagiriam se entre dois possíveis ministeriaveis Sócrates escolhesse não o que considerasse mais adequado para o cargo mas sim o de sexo feminino ?
É por isso que eu sou absolutamente contra as cotas. Não fazem sentido. O que faz sentido é a escolha dos melhores para cada lugar.
Agora onde realmente se deve actuar é na verdadeira igualdade de oportunidade entre os sexos. Ou seja, porque será que a paridade só se consegue através de cotas ? De certeza que não é por menor competência das mulheres, aliás em alguns meios, universitários, saúde, etc, têm vindo a tornar-se maioritárias.
Depois há outra coisa que me irrita nisto das cotas. Porquê apenas no que respeita ao sexo ? Porque não não cotas etárias, ou étnicas ? Não era boa ideia pensarem também como é que em 16 ministros, trinta e tal secretários de estado e 230 deputados não se vê nenhum cidadão negro, ou cigano ou de qualquer outra minoria étnica ?
Pois. Eu acho que é aqui, na base do problema que é a igualdade de oportunidades que se torna imperioso actuar. Porque a ideia de ver Maria de Belém, Ana Gomes ou Edite Estrela no governo pelo facto de serem mulheres sinceramente não me convence.
O ex-primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes e o ex-titular da pasta da Defesa, Paulo Portas, chegaram à cerimónia com cerca de dez minutos de atraso, o que atrasou a tomada de posse.
2005-03-11
2005-03-10
Foi naquele dia em que a mãe e o pai depois de muitos floreados e risinhos acabaram por me dizer que a mãe estava grávida que eu comecei a escrever o meu primeiro livro. Tinha seis anos, a ortografia esforçada, e achava que era melhor começar já a partilhar algumas experiências com esse irmão que aí vinha.
Entre dicas sobre como dar a volta à mãe e promessas de brincadeiras, ia nascendo uma espécie de diário precoce. Eu tinha seis anos e esforcei-me imenso, mas foi tudo em vão.
O palerma do meu irmão nasceu-me analfabeto.
Lisbon Lab, um estudo sobre Blogues
Li hoje o estudo de Hugo Neves da Silva sobre os Blogues. É um estudo interessante que no entanto, e não sendo eu um perito, enferma de um enviesamento pelo facto de ter optado por utilizar como amostra os 100 blogues mais visitados.
Analisando apenas os 100 blogues mais visitados é normal encontrar bloggers cheios de actividade com a colocação de posts diários (86%) e com um tempo diário para actualização dos blogues superior a 30 minutos para metade dos inquiridos.
No entanto, e dentro deste universo, é curioso constatar a grande diversidade etária e profissional. Destaco, ainda, o espiríto de “comunidade”, referido mais de uma vez ao longo do trabalho, visível na lógica de reciprocidade de links e de ser habitual deixar comentários nos blogues dos outros. Aliás o facto de 99 dos bloggers ter respondido ao questionário proposto mostra bem o espiríto da “coisa”.
E mais não digo se não, não vão lá espreitar e vale a pena ler.
O Assassínio de Richard Nixon
Baseado em factos reais, o filme conta-nos a vida de Samuel Byck, um americano que vive em sérias dificuldades financeiras e pessoais. Acredita ser honesto e revolta-se contra as jogadas profissionais que lhe impõem como vendedor. Divorciado, tenta desesperadamente, reatar com a sua mulher e regressar junto dos filhos. Frustrado com o seu sonho americano, que nunca se concretiza, frustado com a “terra da abundância” que se esvai diante dos seus olhos, frustrado por ser apenas mais um grão de areia, na imensa praia américa, resolve que Nixon, é o verdadeiro culpado, e planeia então a sua morte.
Escrito por Kevin Kennedy e Niels Mueller que dirige o filme, Samuel é interpretado pelo grande actor Sean Penn. A sua ex-mulher é Marie – Naomi Watts.
Um retrato muito triste de homem que apenas sonhou ser honesto.
De realçar a excelente performance de Sean Penn, pois ele é o filme na integra. A ver, a partir de dia 24 de Março.
2005-03-09
A partir de 11 de Março, sexta feira, o Tintim sai em DVD com o Público, por 5,95€. O 1º DVD é grátis.
2005-03-08
Um estudo demonstra que os portugueses são um dos povos da Europa que se deita mais tarde (75% após a meia noite). Já se sabia. Bastava ver as pessoas chegarem às 10 ou 11 horas da manhã ao trabalho e ficarem até às 19 ou 20 horas a compensar. Finalmente entendi porque é que o José Rodrigues dos Santos diz boa tarde ao abrir cada Telejornal... Bem, na verdade, os melhores programas das televisões nunca começam antes das 23 horas e acabam noite dentro.
Pode parecer brincadeira, mas acho que esta atitude tem muito a ver com a produtividade do país. Longe vai a máxima: “Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”...
Perdi a virgindade os sonhos a esperança
Afrontei a maldade a mentira a descrença
mas guardei a infância
Conheci os punhais, arma branca do cio
Descobri temporais onde havia bonança
Ouvi rir os chacais, afoguei-me no rio
mas guardei a infância
E quando tu chegaste e acendeste o dia
luminoso se amor de paz e tolerância
pude tocar-te a mão e fazer-te meu guia
Porque além da maçâ, da noite e da poesia
eu guardei a infância.
Rosa Lobato Faria in Memória do corpo
eu, tantas vezes, ainda acredito que mil estrelas são
todas as estrelas que existem.
José Luís Peixoto in A casa, a escuridão
Pintura de Salvador Dalí
La femme a la rose
Sabemos que são sombras quanto amamos.
Sombras de estradas, de rios e planetas.
E até as sombras que nos vêm dos ramos
Sombras também, embora mais discretas.
E a sombra da mulher que gostamos
É sombra ainda, como a das valetas
Em que de si e de nós a desnudamos,
Cobrindo-nos de sombra e de violetas.
Mas a ternura com que amamos esta
Teoria de sombras assombrosa,
Sendo sombra também, aviva a festa
Em torno de outras entre as quais repousa,
Fresca de fruta, sentada ao pé da cesta,
A sombra da mulher que aspira a rosa.
Fernando Echevarria
In Antologia da Poesia Portuguesa Contemporânea
Lacerda Editores
2005-03-07
Na passada 3ª feira ( há 7 dias) ocorreu um acidente na estrada nacional que liga Reguengos ao Alandroal ( Distrito de Évora). Do acidente resultaram 4 mortos de idades compreendidas entre os 15 e os 27 anos e uma sobrevivente de 14 anos. A causa do despiste foi o excesso de velocidade ( fala-se em 200 Km / h) e a viatura ( um saxo adaptado para tuning) ficou completamente destruída.
Não passaria da notícia de mais um acidente, cujas vítimas lamentamos; sobretudo porque eram jovens! Mas, para mim e para muitas outras pessoas, este teve contornos diferentes porque conhecíamos as vítimas e vemos o lado humano da tragédia: elas tinham nomes e rostos, eram pessoas com quem privei e, uma delas, foi minha aluna no ano passado. As 3 jovens que iam no banco de trás eram miúdas com muita vontade de viver! Duas eram irmãs e a outra era filha única….
Dois pais e duas mães ficaram sem as suas filhas, uma turma de 9º ano perdeu duas das suas colegas e amigas bem como uma turma de 11º ano ficou sem uma aluna. A escola já assistiu à morte, neste ano lectivo, de cinco alunos em acidentes de viação! E a menina que sobreviveu irá viver com muitos traumas,não tenho dúvidas!
As lágrimas secam, a saudade fica e a vida volta à normalidade mas é preciso agir: Se para aquelas meninas já não é possível recuperar a vida; parece-me que todos nós podemos fazer algo para diminuir os acidentes nas estradas do nosso país.
Não me pronuncio sobre o condutor, porque considero que não o devo fazer, por várias razões das quais se destaca o facto de já não estar no mundo dos vivos; mas como tentar evitar situações destas? Legislação, maior controle policial nas estradas? São medidas necessárias, mas ineficazes se não forem inseridas num plano mais vasto de educação rodoviária.
Tenho consciência que aquelas meninas tinham na escola um grupo de docentes que se preocupavam com elas ( e não pensem que lá porque sou professora apenas quero defender os meus colegas), que fizeram muito por elas mas… fica sempre a sensação de que poderíamos ter feito algo mais!
Pela memória destas 3 meninas, em particular, e de todas as vítimas inocentes de acidentes de viação em geral deixo aqui uma mensagem: falem deste assunto … dá para pelo menos reflectir ( e tenho falado disto aos meus alunos deste ano que me têm visto de lágrimas nos olhos e percebido que …)!
E que sugerem para diminuirmos as vítimas dos acidentes de viação?
Obrigado por terem tido paciência para ler este longo post.
2005-03-06
CDS-PP vai enviar retrato de Freitas do Amaral para o Largo do Rato
O secretário-geral do CDS-PP anunciou que vai enviar, por correio, o retrato de Freitas do Amaral que até agora se encontrava no Largo do Caldas para a sede do PS, depois do fundador do partido ter aceitado integrar o próximo Governo socialista.
in Público, on line
Ele há coisas...que não lembram ao diabo!!!! Puxa...
2005-03-05
"Lembro-me de um em que o eleitor colou um post it amarelo e teceu considerações filosófico-oníricas do tipo de que tinha tido um sonho em que todos os santanistas tinham desaparecido do mundo". Este voto, em particular, acabou por ter um final feliz. A comissão optou por validar uma vez que, "retirado o post-it", o voto não apresentava qualquer irregularidade.
declarações da juiza Carmencita Quadrado, preidente da assembleia de apuramento geral do circulo de Lisboa ao Público de 2005.03.04.
Parece-me bem que o Sr. Ministro mantenha um blog, a ver vamos se o mantém!
Primeiras reacções positivas
Eu bem disse que o Freitas do Amaral tinha de sair da Caixa Geral de Depósitos
José Lello não vai ser Ministro do Desporto !
Santana não está no Governo
2005-03-04
Jude Law, vem este mes na capa da revista Prémiére, como sendo o homem mais bonito do mundo! Há exagero nesta eleição, certo? ;
2005-03-03
No rescaldo das eleições e face à esmagadora vitória da esquerda a despenalização da interrupção voluntária da gravidez voltou à ordem do dia.
Não pondo nenhum dos partidos de esquerda qualquer dúvida quanto à necessidade de alterar uma lei que permite o envio para a prisão e a devassa da intimidade de mulheres que já sofreram o bastante, discute-se agora o timming e a realização, ou não, de um referendo.
Sendo verdade que a proposta do PCP de fazer desde já uma alteração legislativa sem a necessidade de referendo, pode ser a forma mais rápida de ultrapassar a questão, não consigo concordar com ela.
Porque o referendo é o acto mais democrático que existe. É o momento onde o povo pode exprimir directamente a sua opinião e não através dos representantes que elegeu. Assim sendo, e tendo-se realizado já um referendo sobre esta matéria, parece-me anti-democrático, sem a realização de novo referendo, mudar a lei.
Quanto ao momento certo para o fazer, é de todo conveniente que o seja quanto antes, até para que a consequente promulgação seja feita pelo actual Presidente da Républica.
É que sabe-se lá quem virá ocupar o lugar a seguir.
Para quem gosta da série, Sem Rasto, actualmente em exibição às 21.30, no AXN, não percam hoje, pelas 22.30, na Rtp2.
2005-03-02
Há um novo Murcon no blogoespaço. Esperemos que a sua faceta de comunicador também se revele neste meio. Bemvindo !
Análise sociológica das anedotas
Ou
Serei assim tão insípido
Um conjunto significativo de anedotas incide sobre dado grupo de pessoas que tanto pode ter como denominador comum a sua etnia, a profissão, ter cabelo louro ou a sua orientação sexual.
Existe uma fina linha divisória entre aquilo que é fazer humor sobre dada característica desse grupo e fazer humor à conta de humilhar esse grupo. Neste último caso verifica-se que existem muitas anedotas onde nem sequer existe o cuidado de estabelecer uma conexão entre a anedota e o grupo alvo. Por exemplo:
- Quantos alentejanos são precisos para enroscar uma lâmpada ?
- 1001. Um para segurar a lâmpada e mil para rodar a casa.
Esta anedota em nada tem a ver com os alentejanos. Podíamos trocar alentejanos por qualquer outro grupo que a anedota não perdia o seu sentido. Na verdade a mensagem que passa é alentejanos = estúpidos.
Existem milhares de anedotas assim, em que os protagonistas vão variando, sendo que em Portugal costumam incidir sobre os alentejanos ou os “pretos”, em França sobre os Belgas e em Itália sobre os Carabinieri.
Mas existem outras anedotas onde os protagonistas são imutáveis porque incidem realmente sobre dado traço característico do grupo. Por exemplo:
- O que são os escuteiros ?
- São um grupo de meninos vestidos de parvos chefiados por um parvo vestido de menino.
Estas anedotas normalmente são bem mais interessantes pois ridicularizam, e podem fazê-lo sem ofenderem, dado grupo. Muitas vezes são os próprios “membros” desse grupo que mais graça acham à anedota se ela estiver bem feita e se tiverem a salutar capacidade de se rirem de si próprios.
Ora o que me acontece é que não sendo eu, nem negro, nem alentejano, nem loura, nem homossexual, nem ninfomaníaca, nem funcionário público, nem advogado, nem cigano, nem gordo, nem consultor, nem sádico, nem masoquista, nem canibal, nem prostituta, nem judeu, só para dizer algumas coisas que não sou – não consigo encontrar anedotas dedicadas à minha pessoa – serei assim tão insípido e tão sem graça que não mereço uma piadinha que seja ?
2005-03-01
Girls in bikinis
O nome e a capa deste livro são publicidade enganosa. Felizmente. No entanto já li o suficiente de Pedro Paixão e livros editados pela Oficina do Livro para me deixar de enganar.
Sendo assim, encontrei o que esperava, pequenas histórias à Pedro Paixão que oscilam entre o banal e o genial. Mas sempre num registo intimista onde a empatia com o leitor se estabelece facilmente.
O meu filho não quis ir pescar trutas comigo. Eu não quis ir pescar trutas sem o meu filho. Fiquei na cama, deitado, a pensar que era esta a primeira de muitas tristezas que me aguardavam. Ter um filho também é ter mais pele por onde sofrer.
Um filme de Alejandro Amenábar, com Javier Bardem, Belén Rueda, Lola Dueñas, Mabel Rivera, Celso Bugallo, Clara Segura, Joan Dalmau, Alberto Jiménez, Tamar Novas, Francesco Garrido, José María Pou, Alberto Amarilla, Nicolás Fernández Luna.
Um filme que nos recorda e dá a conhecer um pouco mais da vida de Ramón Sampedro, o homem que alguns de nós recordamos de ver na televisão, e ler nos jornais. Ramón aos seus vinte e poucos anos, ao mergulhar, sofre um terrível acidente, partindo o pescoço e ficando tetraplégico, completamente depende dos outros sem mexer nenhuma parte do seu corpo. Após quase 30 anos de vida acamada, olhando uma janela, Ramón decide terminar a sua vida com dignidade, e para tal aceita a ajuda de uma advogada para levar a sua causa adiante.
Ramón é inteligente, charmoso, tem um fantástico sentido de humor e um coração aberto, que não fica indiferente a Julia ( a advogada) e também a Rosa uma sua amiga. E se a principio a ideia da morte nos apavora, Ramón mostra-nos a sua perspectiva e a sua força de vontade de levar a causa mais além. Ramón publica um livro de poesia, onde a sua alma bem traduz o seu estado de espirito.
Rodeado da família, seu Pai, irmão, cunhada e sobrinho, Ramón luta pelos seus ideais contra tudo e contra todos.
Ver em filme o tema da eutanásia, deixa-nos bastante em que pensar. O realizador deixa aqui uma porta bem aberta a favor da eutanásia. A justiça espanhola indeferiu o pedido de Ramón, mas em 1998, Ramón deixa-nos, em corpo, mas fica um vídeo que o próprio fez questão de gravar, em que bebe cianeto, num copo de água, com uma palhinha, declarando estar em plena posse das suas faculdades mentais. Não poderão ser julgados os seus amigos, já que foram vários mãos a dosear, a vida/morte de Ramón. Como ele disse, a verdadeira forma de o amar, era ajudá-lo a por fim à vida.
Enfim, Javier Bardem, leva-nos às lágrimas na sua interpretação, um filme poético, controverso, inquietante, polémico e actual, esperemos que o exemplo de Ramón Sampedro, sirva para que a justiça altere as suas leis. Muito mais haveria a dizer deste filme, mas o melhor é verem mesmo! Não esquecer que ontem, na 77ª gala de óscares, este filme levou a estatueta, de melhor filme estrangeiro. E Amenábar e Javier Bardem, bem a mereceram. Além da justa nomeação para caracterização, pois aos 34 anos de Bardem, foram somados mais 24 para interpretação.
“Su mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en sus cabellos”.
Ramón Sampedro