2004-01-31
Substituição ao intervalo
Aqui na equipa dos Faroleiros ocorre uma substituição, entra a Susana que, tal como a pescada, antes de o ser já o era, uma vez que já tem participado com diversos posts aqui n'O Farol das Artes.
O Alexandre apesar de sair d'O Farol continuará a estar sempre presente, nomeadamente no nosso logo por ele desenhado.
Aqui na equipa dos Faroleiros ocorre uma substituição, entra a Susana que, tal como a pescada, antes de o ser já o era, uma vez que já tem participado com diversos posts aqui n'O Farol das Artes.
O Alexandre apesar de sair d'O Farol continuará a estar sempre presente, nomeadamente no nosso logo por ele desenhado.
"AS ONDAS" de VIRGINIA WOOLF
(...) Ao aproximarem-se da praia as ondas erguiam-se, tomavam forma e desfaziam-se arrastando pela areia um ténue véu de espuma branca. A ondulação detinha-se, partia de novo, suspirando como alguém que dorme e cujo sopro vai e vem sem que a sua consciência saiba. Pouco a pouco, a barra escura do horizonte clareou como as impurezas de um vinho antigo que se depositassem na garrafa, deixando transparecer o seu vidro. Lá ao fundo, também o céu se tornou translúcido, como se nele se houvesse desprendido um sedimento branco, ou o braço de uma mulher reclinada no horizonte erguesse ao alto uma lâmpada. Faixas de branco, amarelo e verde alongararam-se sob o céu como longas folhas de um leque. Depois a mulher ergueu a lâmpada ainda mais alto: o ar inflamado pareceu cindir-se em fibras vermelhas e amarelas, elevando-se da superfície verde num frémito ardente, como as chamas envoltas em fumo de uma fogueira. Pouco a pouco, todas as fibras numa única massa incandescente e o cinzento do céu transformou-se num milhão de átomos de um suave azul. A superfície do mar tornou-se transparente e as grandes linhas escuras quase desapareceram no ondular das águas e na sua cintilação. O braço que sustinha a lâmpada continuou a subir devagar até que uma grande labareda surgiu.
Um disco de fogo ardeu no rebordo do horizonte e o mar à sua volta tornou-se um esplendor de ouro. (...)
Virginia Woolf
in "As Ondas"
(Ed.Relógio D'Água)
(...) Ao aproximarem-se da praia as ondas erguiam-se, tomavam forma e desfaziam-se arrastando pela areia um ténue véu de espuma branca. A ondulação detinha-se, partia de novo, suspirando como alguém que dorme e cujo sopro vai e vem sem que a sua consciência saiba. Pouco a pouco, a barra escura do horizonte clareou como as impurezas de um vinho antigo que se depositassem na garrafa, deixando transparecer o seu vidro. Lá ao fundo, também o céu se tornou translúcido, como se nele se houvesse desprendido um sedimento branco, ou o braço de uma mulher reclinada no horizonte erguesse ao alto uma lâmpada. Faixas de branco, amarelo e verde alongararam-se sob o céu como longas folhas de um leque. Depois a mulher ergueu a lâmpada ainda mais alto: o ar inflamado pareceu cindir-se em fibras vermelhas e amarelas, elevando-se da superfície verde num frémito ardente, como as chamas envoltas em fumo de uma fogueira. Pouco a pouco, todas as fibras numa única massa incandescente e o cinzento do céu transformou-se num milhão de átomos de um suave azul. A superfície do mar tornou-se transparente e as grandes linhas escuras quase desapareceram no ondular das águas e na sua cintilação. O braço que sustinha a lâmpada continuou a subir devagar até que uma grande labareda surgiu.
Um disco de fogo ardeu no rebordo do horizonte e o mar à sua volta tornou-se um esplendor de ouro. (...)
Virginia Woolf
in "As Ondas"
(Ed.Relógio D'Água)
Os diferentes tipos de estados
Existem diferentes tipos de estados: o estado de direito, o estado democrático e o estado a que isto chegou...
Existem diferentes tipos de estados: o estado de direito, o estado democrático e o estado a que isto chegou...
Ballet Gulbenkian
Para quem gosta de dança moderna aqui fica a sugestão de um espectáculo do Ballet Gulbenkian a que assisti esta noite e recomendo!
O espectáculo apresenta duas coreografias, sendo a primeira "Delicado" interpretada por bailarinas e encenado por Gilles Jobin. "White" ? é o título da segunda parte, com coreografia de Paulo Ribeiro e que conta com 10 bailarinos . A Música de "Danças Ocultas" acompanhada da expressividade dos corpos vestidos de negro transmite-nos um turbilhão de emoções! Paulo Ribeiro descreve assim a sua coreografia: ? O optimismo é uma poderosa injecção de disponibilidade para a vida – alimenta o sonho e a noção do valor das pequenas coisas.
Espaço predilecto dos corpos que falam sem palavras para fazer passar a emoção que preenche e permeia sensibilidades distintas. A exaltação dos sentidos prova que estamos vivos e que o corpo é inseparável dessa realidade.
Esta espécie de atitude universal, que suporta variantes que vão da simples ingenuidade ao pensamento mais profundo, constitui o material que me interessa desenvolver.
Quem trabalha com o corpo vive todos os dias nesta situação de conflito permanente. O optimismo absoluto transforma em elevação e movimento qualquer condenação à imobilidade.
Voltaire dizia que o Optimismo “c’est la Rage de soutenir que tout est bien quand on est mal”. Interessa-me explorar esta realidade feita de prazer e dor de carne, de elevação e humor, de ironia e banalidade. Vamos dar corpo a um conceito esgotado, esquecido, marginalizado.
Vamos criar uma espécie de microclima do discreto que defendido pela eloquência dos corpos, se pode tornar uma ética dos sentidos.»
Paulo Ribeiro
2004-01-30
Mármore ou a imaginação sem limites
O que podemos ver no mármore? Quase tudo o que quisermos. Basta ficarmos a contemplá-lo, sem pressas, imaginando. Perscrutando, definindo e redefinindo contornos. Entranhando-nos nos mistérios que a pedra nos reserva.
Na foto abaixo, do lado esquerdo, o mármore tal qual foi fotografado. Do lado direito, são iluminadas algumas possíveis figuras, de estilo indefinido, visíveis apenas após o exercício que sugerimos. Mas cada um pode construir as suas próprias imagens. É como criar vida onde ela não existe. Será um exercício de contemplação e ou meditação que ainda vai virar moda?
O que podemos ver no mármore? Quase tudo o que quisermos. Basta ficarmos a contemplá-lo, sem pressas, imaginando. Perscrutando, definindo e redefinindo contornos. Entranhando-nos nos mistérios que a pedra nos reserva.
Na foto abaixo, do lado esquerdo, o mármore tal qual foi fotografado. Do lado direito, são iluminadas algumas possíveis figuras, de estilo indefinido, visíveis apenas após o exercício que sugerimos. Mas cada um pode construir as suas próprias imagens. É como criar vida onde ela não existe. Será um exercício de contemplação e ou meditação que ainda vai virar moda?
GOVERNO MANHOSO
Depois dos congelamentos dos salários e do discurso do rigor para as contas públicas, o Governo de Durão Barroso voltou a mostrar que nem tudo o que diz é para seguir à risca. Com o mesmo despudor com que meteu o "choque fiscal" na gaveta, o executivo inaugurou, na Função Pública, o velho truque das empresas manhosas: reteve os descontos para a segurança social de 600 funcionários do Ministério da Justiça.
A ministra tentou, com explicações gagas, esclarecer porque motivo alguns dos seus funcionários ficaram privados de regalias sociais. Deu uma conferência de imprensa, foi à televisão e, com isso, quis encerrar o assunto. Aos que se escandalizaram, o partido a que pertence respondeu como lhe é hábito: são os desordeiros do costume. E, pronto, o Governo parece ter escapado a mais uma crise.
É assim que este governo funciona: a escapar a crises. Os que ficaram sem protecção social interessam pouco. É um caso para encher jornais e não para pensar na qualidade dos governantes e do Governo. Pensar, por exemplo, que nos tempos que correm nem o Estado é uma pessoa de bem capaz de pagar decentemente aos seus trabalhadores, de lhes garantir segurança social e reforma por inteiro. Depois, ainda há quem se espante que o País não evolua.
Marta Caires - DN Madeira
2004-01-29
E o Blog Don Vivo, também participou na nossa 5ª Temática, Obrigada!
O tema é aliciante, mas vago: o mar? Qual mar? O dos dias santos, com 15 nós de vento pela alheta, ou o dos dias normais, 30 nós em plena proa? (Sim, porque quem anda à vela no mar sabe que uma das verdades imutáveis é “ou não há vento ou ele está contra”).
Nunca percebi bem, e garanto que já passei muitas horas, muitos dias, a tentar perceber, o que nos faz gostar do mar. O aforismo diz “um dia bom vale dez dos maus”; se ao menos a proporção fosse essa... Mas não é, nunca é. As descrições de dias maus são inúmeras, e incluem invariavelmente os termos “muito vento”, “pouco vento”, “bolina”, “popa arrasada”, “falta de visibilidade”, “sol estarrecedor”, “frio”, “calor impossível”, “nevoeiro”, “maré contra”, “um cargueiro apontado a nós a --- (segue-se um número, normalmente pequeno) metros”.
Já o vocabulário para os dias bons é escasso: limita-se aos sinónimos de “paz”, “harmonia”, “calma”. Deve ser por isso que a proporção nem sequer é de um para dez. Mas a verdade é que, chegado por exemplo a Las Palmas às quatro da manhã após 7 dias “maus”, quando às 08h30 nos disseram que tínhamos de ir para Tenerife não me custou nada largar, nada. Fomos para Santa Cruz e vi que, ao contrário do que comumente se pretende, o bom tem muito mais força do que o mau. Ou, chegados à Martinique após uma travessia de três semanas que incluiu entre outras coisas um rasto de ciclone e uma ferragem de estai a partir, a tripulação em peso me disse “se fôr preciso sair amanhã, saímos”.
No fundo talvez seja porque não há dias “maus” a bordo: só há dias “menos bons”... É indesmentível, incontestável, que passar sete dias à bolina com 25 ou 30 nós de vento pode, à primeira vista, parecer desagradável: qualquer movimento é uma subida, cozinhar um sacrifício, ir à casa de banho o equivalente a três horas no ginásio com um instrutor sádico. Ler é impossível, o barco está desarrumado porque tudo cai, sobretudo as matérias oleaginosas como o azeite ou peganhentas como os ovos – os quais, se não forem limpos, deixam um traço olfactivo da sua presença nos fundos -, e se estamos numa regata temos de ir dormir para o outro lado cada vez que viramos de bordo. O barco bate nas vagas, e, como um casco não passa de uma enorme caixa de ressonância, faz um barulho que nos suscita muitas perguntas sobre a competência dos arquitectos que o desenharam e dos operários que o construiram.
Mas isso é só à primeira vista... se fosse assim tão desagradável, que nos levaria a repetir já amanhã, a tudo largar, se preciso fôr, para lá voltar agora, já? Será aquela meia-dúzia de horas que passamos, cada dois anos, com vento de força 3 a um largo folgado, spi em cima, o barco a deixar-se governar com dois dedos, a mulher por quem estamos apaixonados ao leme e com um sorriso que parece uma porção da linha do equador; ou aquela noite, numa latitude baixa, em que a lua nasceu cheia, parecia um holofote a 50 metros – o homem do leme chamou-me, pensando tratar-se de um navio; ou a passagem do estreito de Gibraltar, com força 6, a fazer gincana entre os cargueiros, spi em cima e o barco (“Isichia”, um Gibsea de 35’) a saltar de vaga em vaga como um cabrito que uma vez vi nos Alpes saltar de rocha em rocha; ou o whisky do fim do dia, quando navegamos para leste e o sol se põe na popa, e estamos sozinhos a bordo e temos a noção de que somos o centro de uma “imensidão sem centro”, como lhe chama o poeta espanhol Gabriel Celaya; ou chegar à terra ao princípio da noite – se fôr uma cidade importante o clarão confunde-se com o pôr-do-sol, e sabemos que no bar haverá certamente alguém que encontrámos noutro porto, noutro barco, noutro mundo.
Talvez seja isso, ou talvez simplesmente os dias “maus” sejam bons: porque esforçar-se, resistir, “never let go, never” pode ser uma fonte de prazer - a posteriori, certo. Como escrever: quem é que dizia “eu não gosto de escrever, mas gosto de ter escrito”?
É bom estar no mar para uma regata de duas horas como para uma travessia de três semanas; é bom estar num barco grande e confortável como num pequeno e lento (o maior conforto de um barco é a velocidade...); é tão bom amar num barco como estar sozinho; navegar com uma tripulação bem treinada ou ter que ensinar mesmo os gestos mais elementares; é bom comer um peixe que acabou de se pescar – e que se matou com um pouco de vodka – ou abrir uma lata de qualquer coisa para comer a correr; é bom fazer um barco andar com vento fraco ou controlá-lo quando o vento sopra; é bom chegar a um porto e é bom dele sair (se bem que por vezes tanto um como outro possam ser dificeis); é bom passar três dias num porto do c... da Irlanda à espera que o nevoeiro nos permita sair como é atravessar de uma ilha das Caraíbas para outra. É bom receber notícias de um amigo que vive no Sul da Patagónia e no dia seguinte falar com outro que navega no lago Léman.
O tema é aliciante, mas vago: o mar? Qual mar? O dos dias santos, com 15 nós de vento pela alheta, ou o dos dias normais, 30 nós em plena proa? (Sim, porque quem anda à vela no mar sabe que uma das verdades imutáveis é “ou não há vento ou ele está contra”).
Nunca percebi bem, e garanto que já passei muitas horas, muitos dias, a tentar perceber, o que nos faz gostar do mar. O aforismo diz “um dia bom vale dez dos maus”; se ao menos a proporção fosse essa... Mas não é, nunca é. As descrições de dias maus são inúmeras, e incluem invariavelmente os termos “muito vento”, “pouco vento”, “bolina”, “popa arrasada”, “falta de visibilidade”, “sol estarrecedor”, “frio”, “calor impossível”, “nevoeiro”, “maré contra”, “um cargueiro apontado a nós a --- (segue-se um número, normalmente pequeno) metros”.
Já o vocabulário para os dias bons é escasso: limita-se aos sinónimos de “paz”, “harmonia”, “calma”. Deve ser por isso que a proporção nem sequer é de um para dez. Mas a verdade é que, chegado por exemplo a Las Palmas às quatro da manhã após 7 dias “maus”, quando às 08h30 nos disseram que tínhamos de ir para Tenerife não me custou nada largar, nada. Fomos para Santa Cruz e vi que, ao contrário do que comumente se pretende, o bom tem muito mais força do que o mau. Ou, chegados à Martinique após uma travessia de três semanas que incluiu entre outras coisas um rasto de ciclone e uma ferragem de estai a partir, a tripulação em peso me disse “se fôr preciso sair amanhã, saímos”.
No fundo talvez seja porque não há dias “maus” a bordo: só há dias “menos bons”... É indesmentível, incontestável, que passar sete dias à bolina com 25 ou 30 nós de vento pode, à primeira vista, parecer desagradável: qualquer movimento é uma subida, cozinhar um sacrifício, ir à casa de banho o equivalente a três horas no ginásio com um instrutor sádico. Ler é impossível, o barco está desarrumado porque tudo cai, sobretudo as matérias oleaginosas como o azeite ou peganhentas como os ovos – os quais, se não forem limpos, deixam um traço olfactivo da sua presença nos fundos -, e se estamos numa regata temos de ir dormir para o outro lado cada vez que viramos de bordo. O barco bate nas vagas, e, como um casco não passa de uma enorme caixa de ressonância, faz um barulho que nos suscita muitas perguntas sobre a competência dos arquitectos que o desenharam e dos operários que o construiram.
Mas isso é só à primeira vista... se fosse assim tão desagradável, que nos levaria a repetir já amanhã, a tudo largar, se preciso fôr, para lá voltar agora, já? Será aquela meia-dúzia de horas que passamos, cada dois anos, com vento de força 3 a um largo folgado, spi em cima, o barco a deixar-se governar com dois dedos, a mulher por quem estamos apaixonados ao leme e com um sorriso que parece uma porção da linha do equador; ou aquela noite, numa latitude baixa, em que a lua nasceu cheia, parecia um holofote a 50 metros – o homem do leme chamou-me, pensando tratar-se de um navio; ou a passagem do estreito de Gibraltar, com força 6, a fazer gincana entre os cargueiros, spi em cima e o barco (“Isichia”, um Gibsea de 35’) a saltar de vaga em vaga como um cabrito que uma vez vi nos Alpes saltar de rocha em rocha; ou o whisky do fim do dia, quando navegamos para leste e o sol se põe na popa, e estamos sozinhos a bordo e temos a noção de que somos o centro de uma “imensidão sem centro”, como lhe chama o poeta espanhol Gabriel Celaya; ou chegar à terra ao princípio da noite – se fôr uma cidade importante o clarão confunde-se com o pôr-do-sol, e sabemos que no bar haverá certamente alguém que encontrámos noutro porto, noutro barco, noutro mundo.
Talvez seja isso, ou talvez simplesmente os dias “maus” sejam bons: porque esforçar-se, resistir, “never let go, never” pode ser uma fonte de prazer - a posteriori, certo. Como escrever: quem é que dizia “eu não gosto de escrever, mas gosto de ter escrito”?
É bom estar no mar para uma regata de duas horas como para uma travessia de três semanas; é bom estar num barco grande e confortável como num pequeno e lento (o maior conforto de um barco é a velocidade...); é tão bom amar num barco como estar sozinho; navegar com uma tripulação bem treinada ou ter que ensinar mesmo os gestos mais elementares; é bom comer um peixe que acabou de se pescar – e que se matou com um pouco de vodka – ou abrir uma lata de qualquer coisa para comer a correr; é bom fazer um barco andar com vento fraco ou controlá-lo quando o vento sopra; é bom chegar a um porto e é bom dele sair (se bem que por vezes tanto um como outro possam ser dificeis); é bom passar três dias num porto do c... da Irlanda à espera que o nevoeiro nos permita sair como é atravessar de uma ilha das Caraíbas para outra. É bom receber notícias de um amigo que vive no Sul da Patagónia e no dia seguinte falar com outro que navega no lago Léman.
O Mar
Tenho uma paixão incondicional pelo mar. Porque me fez sonhar e transportar para além do horizonte. Mas, sobretudo, porque me acolheu no seu seio. Deixou-me retirar das suas entranhas lapas e polvos, sustento de Verão, numa valsa que ainda hoje me arrepia. Poupou-me a vida, algumas vezes, com alguma crispação, mas reconhecendo a ingenuidade de um puto que teimosamente o desafiava. Depois embalou-me nas suas ondas, deixando-me sulcá-lo com os ventos de feição e adversos. Hoje, que não tenho barco e já não mergulho, contemplo-o, como se lhe devesse tributo. Abeiro-me, com a calmaria que se seguem às tempestades, e deixo-o salpicar-me. Sinto, então, que ele me reconhece e ficamos, ali, a sussurrar recordações, a voar nas asas das gaivotas, a sonhar de novo. É quando a inquietude me assalta e fujo, para resistir ao chamamento. Até um dia...
Tenho uma paixão incondicional pelo mar. Porque me fez sonhar e transportar para além do horizonte. Mas, sobretudo, porque me acolheu no seu seio. Deixou-me retirar das suas entranhas lapas e polvos, sustento de Verão, numa valsa que ainda hoje me arrepia. Poupou-me a vida, algumas vezes, com alguma crispação, mas reconhecendo a ingenuidade de um puto que teimosamente o desafiava. Depois embalou-me nas suas ondas, deixando-me sulcá-lo com os ventos de feição e adversos. Hoje, que não tenho barco e já não mergulho, contemplo-o, como se lhe devesse tributo. Abeiro-me, com a calmaria que se seguem às tempestades, e deixo-o salpicar-me. Sinto, então, que ele me reconhece e ficamos, ali, a sussurrar recordações, a voar nas asas das gaivotas, a sonhar de novo. É quando a inquietude me assalta e fujo, para resistir ao chamamento. Até um dia...
Participação especial da Janela Indiscreta
Antes do nome.
Repara como os canaviais, a humidade arenosa e o espaço subitamente total – como se além de espaço não existisse mais nada – precedem a praia e anunciam o rumor indómito das ondas, e os gestos são em ti a última coisa que encontra a água. Antes dos teus passos, água. Além deles, água. Água funda em corpo informe, salgada, desconhecedora de clausuras e de credos, azul, às vezes, água sem tempo verbal adequado, sem beleza e sem feiura, água que não conhece a obediência, o orgulho, a inquietação ou o arrependimento. Água desconhecedora da tua existência no mundo e desconhecedora, muito provavelmente, da existência do mundo. Deste-lhe um nome e inventaste com ele um particípio passado para o guiness. A água ignora ter um nome no seu lugar mais vasto e permanece inteira e indiferente, tu tens o som imensamente repetido e versejado desse lugar – que coisa viu quem o pronunciou primeiro?
Ana Alves
Leni Riefenstahl | Crocodile fish - Red Sea
Antes do nome.
Repara como os canaviais, a humidade arenosa e o espaço subitamente total – como se além de espaço não existisse mais nada – precedem a praia e anunciam o rumor indómito das ondas, e os gestos são em ti a última coisa que encontra a água. Antes dos teus passos, água. Além deles, água. Água funda em corpo informe, salgada, desconhecedora de clausuras e de credos, azul, às vezes, água sem tempo verbal adequado, sem beleza e sem feiura, água que não conhece a obediência, o orgulho, a inquietação ou o arrependimento. Água desconhecedora da tua existência no mundo e desconhecedora, muito provavelmente, da existência do mundo. Deste-lhe um nome e inventaste com ele um particípio passado para o guiness. A água ignora ter um nome no seu lugar mais vasto e permanece inteira e indiferente, tu tens o som imensamente repetido e versejado desse lugar – que coisa viu quem o pronunciou primeiro?
Ana Alves
Leni Riefenstahl | Crocodile fish - Red Sea
Mar
Sentada na pedra
Ao cair da tarde
Todos os dias invariavelmente...
A mulher, já de idade, contemplava o mar
Não chorava, para quê?
Cada ruga que tinha contava uma história
Um filho perdido...
Um marido levado pelo mar...
Tantas histórias num só rosto
Mas não odiava o mar
Fora a escolha dos seus...
Apenas o contemplava
E pensava na sua grandeza
No seu poder de atracção
De continuar a chamar seus homens!
Um Mar de Poesias
Quando, no nome do mar
Quando digo o nome do mar não é do mar
que digo o nome, mas de tudo o que
antes e para lá do mar ficou
em sobressalto nos perigos da sua travessia.
Aprendi isso em lugares raros,
como o último silêncio, a última gota
de água ou de mel.
Francisco José Viegas
hoje escrevi um poema
ou o mar
cada palavra é feita de espuma
ao colo, no cimo da água
Jorge Reis-Sá
Sou um contorno de mar
Sou um contorno de mar
- mulher -
e trago na íntima geografia do desejo
uma paisagem de danças e regressos,
uma praia que se estende e depois
se encolhe, reacendendo-se,
na secreta passagem dos instantes
Sandra Costa
estou deitado sobre a minha ausência,
como poderia estar deitado se existisse.
amanhã as ondas imitar-me-ão na praia.
José Luís Peixoto
A pintura é de Portinari
2004-01-28
Ciclo Lars von Trier
Para quem tem telecine, amanhã podem ver pelas 21.00 e 23.40, respectivamente, no gallery, os filmes, Ondas de Paixão e Europa.
Para quem tem telecine, amanhã podem ver pelas 21.00 e 23.40, respectivamente, no gallery, os filmes, Ondas de Paixão e Europa.
2004-01-27
As nomeações estão aí...E o Óscar vai para....
Melhor Filme
The Lord of the Rings: The Return of the King
Lost in Translation
Master and Commander: The Far Side of the World
Mystic River
Seabiscuit
Realizador
Fernando Meirelles - Cidade de Deus
Peter Jackson - The Lord of the Rings: The Return of the King
Sofia Coppola - Lost in Translation
Peter Weir - Master and Commander: The Far Side of the World
Clint Eastwood - Mystic River
Actor
Johnny Depp - Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl
Ben Kingsley - House of Sand and Fog
Jude Law - Cold Mountain
Bill Murray - Lost in Translation
Sean Penn - Mystic River
Actriz
Keisha Castle-Hughes - Whale Rider
Diane Keaton - Something's Gotta Give
Samantha Morton - In America
Charlize Theron - Monster
Naomi Watts - 21 Grams
Actor Secundário
Alec Baldwin - The Cooler
Benicio Del Toro - 21 Grams
Djimon Hounsou - In America
Tim Robbins - Mystic River
Ken Watanabe - The Last Samurai
Actriz Secundária
Shohreh Aghdashloo - House of Sand and Fog
Patricia Clarkson - Pieces of April
Marcia Gay Harden - Mystic River
Holly Hunter - Thirteen
Renée Zellweger - Cold Mountain
Argumento Adaptado
American Splendor
Cidade de Deus
The Lord of the Rings: The Return of the King
Mystic River
Seabiscuit
Argumento original
The Barbarian Invasions
Dirty Pretty Things
Finding Nemo
In America
Lost in Translation
Filme Animado
Brother Bear
Finding Nemo
The Triplets of Belleville
Direcção Artística
Girl with a Pearl Earring
The Last Samurai
The Lord of the Rings: The Return of the King
Master and Commander: The Far Side of the World
Seabiscuit
Cinematografia
Cidade de Deus
Cold Mountain
Girl with a Pearl Earring
Master and Commander: The Far Side of the World
Seabiscuit
Guarda-Roupa
Girl with a Pearl Earring
The Last Samurai
The Lord of the Rings: The Return of the King
Master and Commander: The Far Side of the World
Seabiscuit
Montagem
Cidade de Deus
Cold Mountain
The Lord of the Rings: The Return of the King
Master and Commander: The Far Side of the World
Seabiscuit
Caracterização
The Lord of the Rings: The Return of the King
Master and Commander: The Far Side of the World
Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl
Banda Sonora Original
Danny Elfman - Big Fish
Garbriel Yared - Cold Mountain
Thomas Newman - Finding Nemo
James Horner - House of Sand and Fog
Howard Shore - The Lord of the Rings: The Return of the King
Musica
"Into the West" - The Lord of the Rings: The Return of the King
"A Kiss at the End of the Rainbow - A Mighty Wind
"Scarlet Tide" - Cold Mountain
"The Triplets of Belleville" - The Triplets of Belleville
"You Will Be My Ain True Love" - Cold Mountain
Som
The Last Samurai
The Lord of the Rings: The Return of the King
Master and Commander: The Far Side of the World
Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl
Seabiscuit
Montagem de Som
Finding Nemo
Master and Commander: The Far Side of the World
Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl
Efeitos Visuais
The Lord of the Rings: The Return of the King
Master and Commander: The Far Side of the World
Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl
Curta-Metragem Animada
Boundin'
Destino
Gone Nutty
Harvie Krumpet
Nibbles
Curta-Metragem 'Live Action'
Die Rote Jacke (The Red Jacket)
Most (The Bridge)
Squash
(A) Torzija ([A] Torsion)
Two Soldiers
Documentário
Balseros
Capturing the Friedmans
The Fog of War
My Architect
The Weather Underground
Documentário (Curto)
Asylum
Chernobyl Heart
Ferry Tales
Filme Estrangeiro
The Barbarian Invasions - Canadá
Evil - Suécia
The Twilight Samurai - Japão
Twin Sisters - Holanda
Želary - República Checa
Podes saber mais aqui
"O PRAZER DA ESCRITA"
Tinha perdido o sentido das palavras
e um dia numa simples ligação
descobri três letras nascidas nas marcas do deserto
indicadoras do caminho do oásis.
Chegado lá saciei a minha sede de poesia
e comecei a edificar a minha casa no bairro,
mas no vocabulário da minha nova casa
não poderia haver portas fechadas, nem chaves,
apenas uma entrada larga para uma simples sala,
onde a todos fosse permitido habitar,
apesar de por vezes existirem olhares não coincidentes
e se trocarem ideias opostas.
Os antagonismos gerados pelas palavras,
originam o saber e a beleza da descoberta
de novos mundos e de outros seres,
para partilhar o mesmo território de liberdade,
na diversidade das linguagens,
e assim nasceu a arte de escrever,
como aprendi recentemente.
A arte de escrever, não possui tempo nem lugar,
ela existe em comunhão com o desejo,
o desejo sem deveres nem leis,
porque as palavras nascem livres de condicionalismos
e só asssim é possível nascer a poesia.
Rui Luís Lima
Tinha perdido o sentido das palavras
e um dia numa simples ligação
descobri três letras nascidas nas marcas do deserto
indicadoras do caminho do oásis.
Chegado lá saciei a minha sede de poesia
e comecei a edificar a minha casa no bairro,
mas no vocabulário da minha nova casa
não poderia haver portas fechadas, nem chaves,
apenas uma entrada larga para uma simples sala,
onde a todos fosse permitido habitar,
apesar de por vezes existirem olhares não coincidentes
e se trocarem ideias opostas.
Os antagonismos gerados pelas palavras,
originam o saber e a beleza da descoberta
de novos mundos e de outros seres,
para partilhar o mesmo território de liberdade,
na diversidade das linguagens,
e assim nasceu a arte de escrever,
como aprendi recentemente.
A arte de escrever, não possui tempo nem lugar,
ela existe em comunhão com o desejo,
o desejo sem deveres nem leis,
porque as palavras nascem livres de condicionalismos
e só asssim é possível nascer a poesia.
Rui Luís Lima
Silêncios
Há uma velha anedota que pergunta "como é que se consegue saber quais os pares que são casados num restaurante ?" e a resposta é: "é simples, são os que estão calados".
Mas essa velha anedota esquece-se de referir que existem dois tipos de silêncio, o dos que já nada têm para dizer e o dos que já aprenderam a comunicar sem palavras.
"UMA ONDA"
(...) E embora essa outra pergunta que fiz e de que não consigo
Lembrar-me vá deslocar-se ainda mais para cima, lançando
Enormemente a sua sombra sobre o lugar onde fico, não a entendo.
Basta saber apenas que em breve terei respondido por mim mesmo,
Terei sido levado para novas averiguações e trazido depois de volta
Ao quarto extraordináriamente silencioso em que toda a minha vida teve lugar.
Vê como vai e volta; as paredes, como véus, nunca são as mesmas,
Mas a sede permanece idêntica, ser sempre entretido
E olhado com admiração. E por fim somos nós quem acaba com isso,
Põe a andar o hóspede que parte, para que nenhuma pergunta fique
Por fazer, e portanto sem resposta. Por favor, quase
Parece dizer, leva-me contigo, tenho idade para isso. Exactamente.
E assim cada um de nós tem de ficar sózinho, consciente do outro
Até ao dia em que a guerra nos absolva das nossas diferenças. Diremos
Qualquer coisa. Assim eles fizeram, a toda a hora. (...)
John Ashbery
in "Uma Onda"
(...) E embora essa outra pergunta que fiz e de que não consigo
Lembrar-me vá deslocar-se ainda mais para cima, lançando
Enormemente a sua sombra sobre o lugar onde fico, não a entendo.
Basta saber apenas que em breve terei respondido por mim mesmo,
Terei sido levado para novas averiguações e trazido depois de volta
Ao quarto extraordináriamente silencioso em que toda a minha vida teve lugar.
Vê como vai e volta; as paredes, como véus, nunca são as mesmas,
Mas a sede permanece idêntica, ser sempre entretido
E olhado com admiração. E por fim somos nós quem acaba com isso,
Põe a andar o hóspede que parte, para que nenhuma pergunta fique
Por fazer, e portanto sem resposta. Por favor, quase
Parece dizer, leva-me contigo, tenho idade para isso. Exactamente.
E assim cada um de nós tem de ficar sózinho, consciente do outro
Até ao dia em que a guerra nos absolva das nossas diferenças. Diremos
Qualquer coisa. Assim eles fizeram, a toda a hora. (...)
John Ashbery
in "Uma Onda"
(...)
E TINHA valido a pena, depois de tudo isto,
Depois da geleia, das xícaras, do chá,
Entre porcelanas, a meio de qualquer conversa de nós dois,
Tinha valido a pena
Ter rematado o assunto com um sorriso,
Ter estreitado o universo numa bola
E fazê-la rolar, rumo a qualquer questão inevitável,
E dizer "Sou Lázaro e venho de entre os mortos.
Voltei para vos contar tudo" -
se alguém, ajeitando a cabeça dela na almofada,
Dissesse "Não era nada disso que eu queria dizer.
Não é isso, nada disso."
(...)
T.S.Eliot (1888-1965)
A Canção de AMor de J. Alfred Prufrock
(tradução de João Almeida Flor)
in Poemário Assírio & Alvim
E TINHA valido a pena, depois de tudo isto,
Depois da geleia, das xícaras, do chá,
Entre porcelanas, a meio de qualquer conversa de nós dois,
Tinha valido a pena
Ter rematado o assunto com um sorriso,
Ter estreitado o universo numa bola
E fazê-la rolar, rumo a qualquer questão inevitável,
E dizer "Sou Lázaro e venho de entre os mortos.
Voltei para vos contar tudo" -
se alguém, ajeitando a cabeça dela na almofada,
Dissesse "Não era nada disso que eu queria dizer.
Não é isso, nada disso."
(...)
T.S.Eliot (1888-1965)
A Canção de AMor de J. Alfred Prufrock
(tradução de João Almeida Flor)
in Poemário Assírio & Alvim
"LONGE DO PARAÍSO"
Caminhando pela estrada
contemplamos a cor de tijolo
que as árvores nos oferecem,
as memórias dos dias passados, essas
fogem pelos anos que se contam pelos dedos.
O destino? Um Paraíso qualquer
onde a idade e a cor da pele nada importam
apenas as cores, dos rostos, das crianças
que brincam na neve,
e o sol brilha ali mesmo no Paraíso.
Ana Cristina Augusto
Caminhando pela estrada
contemplamos a cor de tijolo
que as árvores nos oferecem,
as memórias dos dias passados, essas
fogem pelos anos que se contam pelos dedos.
O destino? Um Paraíso qualquer
onde a idade e a cor da pele nada importam
apenas as cores, dos rostos, das crianças
que brincam na neve,
e o sol brilha ali mesmo no Paraíso.
Ana Cristina Augusto
2004-01-26
O PIOR INIMIGO
(...) Estou convencido de que somos o nosso pior inimigo. Aquilo que vem de fora toca-nos na periferia, mas não penetra no interior da cidadela. Aquilo que fazemos, porém, alcança o núcleo do nosso ser. É uma ilusão pensarmos que somos aquilo que a vida - os outros, os acontecimentos... - fez de nós. Somos, antes, aquilo que as nossas escolhas determinaram. A vida pode arrastar-nos de um lado para outro, magoar-nos, oferecer-nos frio ou calor. Mas não nos corrompe. "Quando eu vivia num dos campos de concentração da Alemanha Nazi, pude observar que alguns dos prisioneiros andavam de barraca em barraca, consolando outros, distribuindo as suas últimas fatias de pão. Podem ter sido poucos, mas ensinaram-me uma lição que jamais esqueci: tudo pode ser tirado de um homem, menos a última das suas liberdades - escolher de que maneira vai agir diante das circunstâncias do seu destino", escreveu Vicktor Frankl.
Somos os autores da nossa felicidade ou da nossa infelicidade. Gostamos de nos queixar, mas não temos razão. Podemos adaptar-nos àquilo que nos sucede. Podemos aguentar. Podemos esperar. Mas quando actuamos mal, quando as nossas escolhas são contrárias à nossa natureza humana, chega-se a um ponto em que viver é insuportavelmente doloroso. A dor pode vir-nos do exterior. A felicidade, contudo, está relacionada apenas com o nosso comportamento, com as nossas escolhas, e nada exterior no-la pode roubar (...).
Texto: Paulo Geraldo (http://aldeia.no.sapo.pt)
Fotografia: João Coutinho (http://www.joaocoutinho.net)
2004-01-25
O principío da atracção
Há quem diga que o que mais atrai um homem numa mulher é a sua beleza, outros a simpatia ou o bom humor. Há quem refira o bem-vestir e outros que falam de "um-não-sei-quê-que-me-põe-em-estado-de-euforia".
Pois eu acho que o que mais atrai o homem numa mulher é a sua auto-estima. A simpatia, o bom humor e o bem vestir vêm daí e a beleza apenas serve para ajudar a criar a auto-estima.
Para quem está a acenar negativamente com a cabeça pergunto se já reparou que quando uma mulher está apaixonada lhe chovem novos pretendentes todos os dias.
"AS CIDADES"
(A QUINTA-TEMÁTICA CHEGOU A UM DOMINGO)
Como aprendi neste sábado...ao olhar as ondas do mar, enquanto o piano de Mike Nock tocava o lirismo das ondas no interior do carro...(nunca é tarde para fazer inversão de marcha on the road)...pedi ajuda ao Tom Waits e ele com a cinza a cair-lhe do cigarro sorriu e disse o poema:
MURIEL
Desde que deixaste a cidade, Muriel, os clubes fecharam
E há mais um candeeiro fundido na rua principal
Ali onde costumávamos passear.
Muriel, ainda assombro os meus velhos antros
E tu segues-me sempre onde quer que vá
Muriel, vejo-te num sábado à noite na casa de jogos
Com o cabelo apanhado, atrás
E aquele brilho de diamante no olhar
É a única aliança que alguma vez te comprarei Muriel.
E, Muriel, quantas vezes abandonei esta cidade
Para me esconder da tua memória
Que me persegue
Mas nunca vou além do bar mais próximo
Onde compro outro charuto barato e te encontro em cada noite
Muriel, Muriel...
Olá amigo, tem lume?
TOM WAITS
Para escutar no cd "Foreign Affairs"
PS- Ver Farolices
(A QUINTA-TEMÁTICA CHEGOU A UM DOMINGO)
Como aprendi neste sábado...ao olhar as ondas do mar, enquanto o piano de Mike Nock tocava o lirismo das ondas no interior do carro...(nunca é tarde para fazer inversão de marcha on the road)...pedi ajuda ao Tom Waits e ele com a cinza a cair-lhe do cigarro sorriu e disse o poema:
MURIEL
Desde que deixaste a cidade, Muriel, os clubes fecharam
E há mais um candeeiro fundido na rua principal
Ali onde costumávamos passear.
Muriel, ainda assombro os meus velhos antros
E tu segues-me sempre onde quer que vá
Muriel, vejo-te num sábado à noite na casa de jogos
Com o cabelo apanhado, atrás
E aquele brilho de diamante no olhar
É a única aliança que alguma vez te comprarei Muriel.
E, Muriel, quantas vezes abandonei esta cidade
Para me esconder da tua memória
Que me persegue
Mas nunca vou além do bar mais próximo
Onde compro outro charuto barato e te encontro em cada noite
Muriel, Muriel...
Olá amigo, tem lume?
TOM WAITS
Para escutar no cd "Foreign Affairs"
PS- Ver Farolices
2004-01-24
Quatro telemoveis tocam ao mesmo tempo e sete pessoas levam as mãos aos bolsos e às bolsas. Estranho que com tantos toques fónicos, afónicos e polifónicos, todos tenham a "missão impossível" no telemóvel.
OBRIGADO
Hoje depois de mais um dia dificil, decidi passar pela fnac em busca de um velho Amigo....e por fim descobri o seu livro "Caesar'v Vast Ghost - Aspects of Provence"..sim, é claro que estou outra vez a falar de Lawrence Durrell, mas as paixões literárias...são como as humanas...o tempo passa...e elas permanecem quando as sabemos cultivar...É um pouco como essa flor da amizade...ela precisa sempre de um sorriso para vencer as intempéries...e fazer frente aos pequenos males do universo...que muitas vezes...como diria uma AMIGA minha...por vezes até somos nós que os criamos sem saber...para mais tarde descobrir que a sua cura...se encontra nas palavras...dos escritores eleitos da nossa vida...sim porque as vidas que possuímos necessitam das sementes da amizade, para se desenvolverem e transmitirem a outros seres.
Depois de se encontrar a solução para expulsar as razíes paralizantes da escrita...e de cometer o pequeno pecado de fumar um cigarro...admiro com prazer e ternura, os mails e os msm recebidos e sinto a minha criança nocturna a dizer que hoje vai poder enfim dormir sem pesadelos e sonhar com a sua paisagem favorita...as palavras escritas na água. E ela que terminou de ler as memórias que Durrell tinha da amiga Martine, pediu-me para vos deixar um poema do Larry...ele aqui fica para vocês...chegou a hora de também eu ir sonhar com um qualquer Quarteto de Alexandria...Ah! Esta pequena lágrima que me invade os dedos de saudades deste Farol!
Rui Luís Lima
**************************************************************
TAORMINA
Nós três passámos a noite inteira sentados
No roseiral bebendo e esperando
Que a lua tornasse pretas as nossas rosas
No seu lento passeio pelo céu. Falámos
Uma vez por outra na nossa amiga ausente.
Algumas peças de xadrez caíram,
Morrem também os que apenas se sentem e esperam
A lua nova diante desta porta aberta.
Que outra viagem podemos desejar a amigos
Para adular a sua ausência com a nossa lembrança -
Um que se seguiu o peixe-voador para além das remotas Américas, outro para morrer em combate,
Outro para viver na Pérsia e nunca mais escrever.
Ela a todos amou consoante a necessidade deles.
Agora eles são pó na memória de alguém
Esperando em perfeita ordem uma deixa.
Assim e desta maneira te lembraremos.
O fumo dos cachimbos sobe num contentamento puro,
As rosas esticam os pescoços e eis que enfim
Ela cavalga além para emprestar
Uma forma e ficção ao nosso carinhoso desejo.
As legiões dos silenciosos esperam, todas.
LAWRENCE DURRELL
in "Carrossel Siciliano"
Ed.Livros do Brasil
2004-01-23
Lost in Translation (O amor é um lugar estranho)
Estreou ontem o segundo filme de Sofia Coppola, depois do êxito de Virgens Suicidas, a realizadora escreveu e realizou um novo filme.
Bob e Charlotte, ambos americanos, encontram-se casualmente num hotel em Tóquio. Bill está casado há 25 anos e atravessa uma crise da chamada meia idade, Charlotte está casada há apenas dois anos, e procura um sentido para a vida.
Entre eles surge uma bela amizade, numa cidade onde ambos desconhecem a língua, eles saiem, passeiam, cantam karaoke e não conseguem dormir...
Um filme realizado com uma grande sensibilidade, a realizadora soube captar todos os pequenos pormenores, que poderiam parecer insignificantes.
Um filme que revela uma certa melancolia, um sentimento - a amizade ... Se entre eles a amizade evolui, nós não sabemos, Bill segreda os sentimentos ao ouvido de Charlotte, mas interessaria saber? Um excelente desempenho dos actores Scarlett Johansson e Bill Murray.
Um filme a não perder!
Estreou ontem o segundo filme de Sofia Coppola, depois do êxito de Virgens Suicidas, a realizadora escreveu e realizou um novo filme.
Bob e Charlotte, ambos americanos, encontram-se casualmente num hotel em Tóquio. Bill está casado há 25 anos e atravessa uma crise da chamada meia idade, Charlotte está casada há apenas dois anos, e procura um sentido para a vida.
Entre eles surge uma bela amizade, numa cidade onde ambos desconhecem a língua, eles saiem, passeiam, cantam karaoke e não conseguem dormir...
Um filme realizado com uma grande sensibilidade, a realizadora soube captar todos os pequenos pormenores, que poderiam parecer insignificantes.
Um filme que revela uma certa melancolia, um sentimento - a amizade ... Se entre eles a amizade evolui, nós não sabemos, Bill segreda os sentimentos ao ouvido de Charlotte, mas interessaria saber? Um excelente desempenho dos actores Scarlett Johansson e Bill Murray.
Um filme a não perder!
A cruz de Santo André
Este livro é uma crónica de um desmoronamento escrita em papel higiénico. Um relato interminável e aparentemente desconexo de uma série de factos e personagens. Tudo isto a uma velocidade estonteante.
O resultado ? Estranho, delicioso desde que não tenhamos a pretensão de querer seguir o fio à meada, pois cada parágrafo, por si só, é suculento. Segue um trecho deste livro escrito por Camilo José Cela, prémio Nobel em 1989.
De repente aconteceram muitas coisas em pouco tempo: o major don Alfonso foi operado à próstata, isso acaba por acontecer a quase toda a gente; Franco visita a zona de regadio de Bembézar; Heliodoro Erbecedo Fernandéz, o irmão da falecida Ermitas, ou seja a Clara, que vive há muitos anos em Buenos Aires, está de viagem pela Europa e passa pela Corunha; o homem mais velho do mundo chama-se Shiraly Mislimov, tem 164 anos de idade e vive na aldeia de Barravu, no Arzebeijão; duas senhoritas em monoquini são detidas em Sevilha; o jovem cubano Armando Socarrás viaja da Havana até Madrid no trem de aterragem de um avião da Iberia suportando temperaturas de até quarenta graus abaixo de zero.
Ficaram sem fôlego ? É normal, este livro é de cortar a respiração...
O olhar de um ilhéu
A propósito dos comentários feitos ao post do Avelino - A Cidade, a Susana Fernandes enviou-nos este poema
Azul imenso...
No seu azul imenso
Repousei o meu olhar
Nesse mar que me envolve
Nesse oceano que me prende
Aquela linha lá ao fundo
Que tantos sonhos elevou
É a mesma linha que as minhas asas cortou
Não te olho com mágoa
Sobre ti não derramo as minhas lágrimas
Os sonhos são eternos
E a cada novo dia a esperança renasce
Por vezes sinto-te tão perto
Por vezes não me deixo ficar
Fecho os olhos e transponho
Quebro os limites e por ti viajo
Nesse azul imenso
Tudo pode acontecer
A inspiração nasce e a vida acontece
Sinto-me livre como um pássaro
O mundo escancara-se na minha frente
E pouso em cada porto
Até sentir que a minha ilha é onde quero ficar
Até sentir que basta-me te olhar e ... continuar a sonhar!
Susana
17/04/2002
A propósito dos comentários feitos ao post do Avelino - A Cidade, a Susana Fernandes enviou-nos este poema
Azul imenso...
No seu azul imenso
Repousei o meu olhar
Nesse mar que me envolve
Nesse oceano que me prende
Aquela linha lá ao fundo
Que tantos sonhos elevou
É a mesma linha que as minhas asas cortou
Não te olho com mágoa
Sobre ti não derramo as minhas lágrimas
Os sonhos são eternos
E a cada novo dia a esperança renasce
Por vezes sinto-te tão perto
Por vezes não me deixo ficar
Fecho os olhos e transponho
Quebro os limites e por ti viajo
Nesse azul imenso
Tudo pode acontecer
A inspiração nasce e a vida acontece
Sinto-me livre como um pássaro
O mundo escancara-se na minha frente
E pouso em cada porto
Até sentir que a minha ilha é onde quero ficar
Até sentir que basta-me te olhar e ... continuar a sonhar!
Susana
17/04/2002
2004-01-22
A Cidade
Vivo na cidade porque gosto de me sentir incógnito entre a multidão. Dizia eu isso há muitos anos atrás. Era então quando se manifestava o antagonismo com um meio pequeno, onde vivera e em que toda a gente se conhecia. As coscuvilheiras das janelas, debruçadas sobre o seu pequeno Mundo, faziam chegar, nunca soube porque artes, a notícia das minhas peripécias nocturnas a casa antes do meu regresso. Porque não havia telefone e o passa-palavra estava impedido por uma ponte e mais uns bons metros de estrada. Embora nunca tenha ligado muito a isso, senti-me muito mais livre e senhor de mim mesmo na Capital, descobrindo os novos horizontes.
Hoje, não sei se é assim. Vivo na Cidade como se não vivesse. Faço um percurso diário periférico e volto-lhe costas sempre que posso. Tento dosear a “baixa” como medicamento de recurso e inevitável. Reconheço as vantagens das grandes superfícies comerciais, mas sei, quase sempre, à partida, onde está o que quero mesmo. No hipermercado levo cerca de meia hora nas compras da semana. As promoções passam-me, quase sempre, despercebidas. No ano passado, sofri a vergonha de me terem telefonado a pedir explicações por ter respondido a um inquérito em que afirmava não ter notado o “Festival da Páscoa” ou outra coisa parecida, que até tinha milhares de ovos e coelhinhos. Não vi mesmo, mas compreendo o desespero deles com pessoas assim como eu.
Mas não respondi à minha própria dúvida. Tento pensar como seria viver longe da cidade, num qualquer lugar. Talvez até a poucos quilómetros da Capital. Mas nem imagino. Sou dos acérrimos defensores da descentralização e da criação de valências locais. Vocifero contra os engarrafamentos, contra a poluição, contra a perda de tempo e do tempo não vivido, mas não me imagino a viver fora da Cidade. É uma contradição, aceito. É como sentir, ao mesmo tempo, que estou longe e perto, com tudo à mão. É como estar isolado, sabendo que posso ter um banho de multidão anónima, que me pode apetecer cumprimentar, mas não tenho de o fazer e muito menos de inventar conversas de ocasião. Coisas de ilhéu!...
(A foto é de uma rua estreita para os lados de Alcântara)
Vivo na cidade porque gosto de me sentir incógnito entre a multidão. Dizia eu isso há muitos anos atrás. Era então quando se manifestava o antagonismo com um meio pequeno, onde vivera e em que toda a gente se conhecia. As coscuvilheiras das janelas, debruçadas sobre o seu pequeno Mundo, faziam chegar, nunca soube porque artes, a notícia das minhas peripécias nocturnas a casa antes do meu regresso. Porque não havia telefone e o passa-palavra estava impedido por uma ponte e mais uns bons metros de estrada. Embora nunca tenha ligado muito a isso, senti-me muito mais livre e senhor de mim mesmo na Capital, descobrindo os novos horizontes.
Hoje, não sei se é assim. Vivo na Cidade como se não vivesse. Faço um percurso diário periférico e volto-lhe costas sempre que posso. Tento dosear a “baixa” como medicamento de recurso e inevitável. Reconheço as vantagens das grandes superfícies comerciais, mas sei, quase sempre, à partida, onde está o que quero mesmo. No hipermercado levo cerca de meia hora nas compras da semana. As promoções passam-me, quase sempre, despercebidas. No ano passado, sofri a vergonha de me terem telefonado a pedir explicações por ter respondido a um inquérito em que afirmava não ter notado o “Festival da Páscoa” ou outra coisa parecida, que até tinha milhares de ovos e coelhinhos. Não vi mesmo, mas compreendo o desespero deles com pessoas assim como eu.
Mas não respondi à minha própria dúvida. Tento pensar como seria viver longe da cidade, num qualquer lugar. Talvez até a poucos quilómetros da Capital. Mas nem imagino. Sou dos acérrimos defensores da descentralização e da criação de valências locais. Vocifero contra os engarrafamentos, contra a poluição, contra a perda de tempo e do tempo não vivido, mas não me imagino a viver fora da Cidade. É uma contradição, aceito. É como sentir, ao mesmo tempo, que estou longe e perto, com tudo à mão. É como estar isolado, sabendo que posso ter um banho de multidão anónima, que me pode apetecer cumprimentar, mas não tenho de o fazer e muito menos de inventar conversas de ocasião. Coisas de ilhéu!...
(A foto é de uma rua estreita para os lados de Alcântara)
As cidades
Ponderei no que poderia escrever sobre as cidades .... e não tenho dúvidas que tenho de falar da minha cidade: Évora! Não por puro bairrismo; mas é a cidade onde nasci e onde tenho vivido toda a minha existência.
Em Évora eu cresci, amei, estudei, fiz loucuras e descobertas interessantes. Pelas calçadas das suas ruas carpi as minhas mágoas, pulei de alegria e satisfação em momentos especiais, aqui iniciei os meus estudos de liberdade e pisei um palco; tive muitos encontros na Praça de Geraldo onde geralmente as pessoas se encontram; passei muitas horas na Biblioteca Pública e deambuelei pelas igrejas e conventos. As pessoas passaram, mas os lugares ficaram e não me imagino a viver numa outra cidade!
E deixo-vos aqui dois poemas sobre a minha cidade com os quais muito me identifico :
EVORA
Évora! Ruas ermas sobre os céus
Cor de violetas roxas… Ruas frades
Pedindo em triste penitência a Deus
Que nos perdoe as míseras vaidades!
Tenho em vão corrido tantas cidades!
E só aqui recordo os beijos teus,
E só aqui eu sinto que são meus
Os sonhos que sonhei noutras idades!
Évora! …O teu olhar… o teu perfil…
Tua boca sinuosa, um mês de Abril,
Que o coração no peito me alvoroça!
… Em cada viela o vulto dum fantasma…
E a minh alma soturna escuta e pasma …
E sente-se passar menina e moça…
Florbela Espanca
Canção a Évora
Évora que não és minha
E que eu gostava de ter:
Moira cativa e rainha
Que não pude converter!
Não tenho nas minhas veias
Nem o templo de Diana,
Nem a Praça de Geraldo,
Nem a brancura redonda
Da água das tuas fontes…
Tenho montes,
Vinho maduro e granito,
E esta certeza de ser
Filho de Cristo e de Judas.
Ah! Se eu pudesse mudar,
Já que tu, moira, não mudas!...
Miguel Torga
1/4/1946
As Cidades Invisíveis
"As cidades e a memória. 2
O homem que cavalga longamente por terrenos bravios sente o desejo de uma cidade. Finalmente quando chega a Isidora, cidade onde os prédios têm escadas de caracol incrustadas de búzios marinhos, onde se fabricam artísticos óculos e violinos, onde quando o forasteiro está indeciso entre duas mulheres encontra uma terceira, onde as lutas de galos degeneram em brigas sangrentas entre os apostantes. Era em todas estas coisas que ele pensava quando desejava uma cidade. Assim Isidora é a cidade dos seus sonhos: com uma diferença. A vida sonhada continha-o jovem; a Isidora chega em idade tardia. Na praça há o paredão dos velhos que vêem passar a juventude; ele está sentado em fila com eles. Os desejos são já recordações."
Italo Calvino
in "As Cidades Invisíveis"
"As cidades e a memória. 2
O homem que cavalga longamente por terrenos bravios sente o desejo de uma cidade. Finalmente quando chega a Isidora, cidade onde os prédios têm escadas de caracol incrustadas de búzios marinhos, onde se fabricam artísticos óculos e violinos, onde quando o forasteiro está indeciso entre duas mulheres encontra uma terceira, onde as lutas de galos degeneram em brigas sangrentas entre os apostantes. Era em todas estas coisas que ele pensava quando desejava uma cidade. Assim Isidora é a cidade dos seus sonhos: com uma diferença. A vida sonhada continha-o jovem; a Isidora chega em idade tardia. Na praça há o paredão dos velhos que vêem passar a juventude; ele está sentado em fila com eles. Os desejos são já recordações."
Italo Calvino
in "As Cidades Invisíveis"
Para os apaixonados da sétima arte quando falamos na cidade podemos pensar
na célebre série O Sexo e a Cidade, ou podemos viajar até cidades
americanas, cheias de violência, pela mão de Martin Scorcese, podemos
ainda, neste continente rir com o subtil humor de Woody Allen, e as suas
comédias citadinas. Podemos visitar anjos na Cidade dos Anjos, ao lado de
Meg Ryan e Nicolas Cage. Mas quanto a mim, vou até ao Brasil assistir mais
uma vez à Cidade de Deus.
A Cidade de Deus, foi um importante filme estreado recentemente nas
grandes salas de cinema, já se encontra disponivel em video e Dvd.
Baseado na obra escrita de Paulo Lins, e sob a direcção de Fernando
Meirelles, surge esta espécie de "denúncia" cinematográfica que nos mostra
uma favela - Cidade de Deus - que abriga todos os desalojados de uma
grande cheia no Rio de Janeiro. A violência do filme arrepia, mata-se por
qualquer motivo - se me irritas, estás morto! É um relato impressionante
pela voz de Buscapé um menino que vive no meio do crime e roubo, mas que
tem dois desejos, não ser criminoso e ser fotógrafo. Os habitantes da
Cidade de Deus, o seu calão, as suas taras, a sua crueldade, estão aqui,
num filme amargamente realista.
Perdidos na amarga
loucura da cidade
onde o nevoeiro cerca os corpos
no limbo sem rumo,
as vozes perseguem
na infeliz cidade
onde o cinzento domina
e o preto corrói
o branco não vence
a lua esconde-se
e as trevas asfixiam
o chão treme com
a passagem subterrânea do metro
e nós na cidade vacilamos.
2004-01-21
A Cidade frenética
- Posso parar aqui o carro ? - Não faço a mínima ideia.
O Metropolitano engasga-se à hora de ponta. Neste momento na cidade existem 324 elevadores a descer e apenas 12 a subir, os outros estão parados ou avariados sendo que os que estão avariados também estão parados e existem alguns que ainda ninguém sabe que avariaram porque, isso mesmo, estão parados. Um avião sobrevoa a cidade fazendo acordar o bebé da Isabelinha, o que a deixa muito irritada porque estava com o homem da telepizza que também deve fazer uns biscates no gás natural porque naquele momento estava a tratar-lhe da canalização.
Uma ambulância passa ruidosamente pela rua, não leva nenhum ferido mas são horas da mudança de turno. As línguas de dois amantes encontram-se pela primeira vez na esquina mais escondida do canto mais recôndito da cidade, sentem como se uma enorme borracha apagasse toda a cidade e apenas eles restassem, imóveis no tempo e ágeis nas línguas.
O sangue flui normalmente nas principais artérias e o PSI20 baixou meio ponto percentual.
- Posso parar aqui o carro ? - Não faço a mínima ideia.
O Metropolitano engasga-se à hora de ponta. Neste momento na cidade existem 324 elevadores a descer e apenas 12 a subir, os outros estão parados ou avariados sendo que os que estão avariados também estão parados e existem alguns que ainda ninguém sabe que avariaram porque, isso mesmo, estão parados. Um avião sobrevoa a cidade fazendo acordar o bebé da Isabelinha, o que a deixa muito irritada porque estava com o homem da telepizza que também deve fazer uns biscates no gás natural porque naquele momento estava a tratar-lhe da canalização.
Uma ambulância passa ruidosamente pela rua, não leva nenhum ferido mas são horas da mudança de turno. As línguas de dois amantes encontram-se pela primeira vez na esquina mais escondida do canto mais recôndito da cidade, sentem como se uma enorme borracha apagasse toda a cidade e apenas eles restassem, imóveis no tempo e ágeis nas línguas.
O sangue flui normalmente nas principais artérias e o PSI20 baixou meio ponto percentual.
Os rostos do Funchal
Rostos sem nome
Sem idade, sem cor, sem cheiro
Simplesmente rostos
Com que nos cruzamos
Na caminhada diária
Olham-se; não se vêem,
Cruzam-se; não se tocam,
Inconscientemente (ou não) afastam-se para não se encontrarem
Por vezes esboça-se um sorriso
Às vezes forçado...
Algumas, essas mais raramente,
Tocam-se as mãos num cumprimento apressado.
Faça sol ou faça chuva
Os mesmos rostos sem nome
Faça dia ou faça noite
A mesma estrada palmilhada
Com pressa ou sem pressa
Os mesmos rostos cabisbaixos....
Nunca há tempo...
Há sempre alguém ou algo à espera
Saímos a correr e chegamos cansados
Com vontade de tudo
Sem vontade de nada
Com mil e um planos na mente
Sem nenhum deles realmente concretizado...
Corremos apressados para quê?...
Olhamos sem ver porquê?....
Chegaremos onde?...
Chegaremos como?....
Valerá a pena a pressa!?.....
Susana Fernandes
Rostos sem nome
Sem idade, sem cor, sem cheiro
Simplesmente rostos
Com que nos cruzamos
Na caminhada diária
Olham-se; não se vêem,
Cruzam-se; não se tocam,
Inconscientemente (ou não) afastam-se para não se encontrarem
Por vezes esboça-se um sorriso
Às vezes forçado...
Algumas, essas mais raramente,
Tocam-se as mãos num cumprimento apressado.
Faça sol ou faça chuva
Os mesmos rostos sem nome
Faça dia ou faça noite
A mesma estrada palmilhada
Com pressa ou sem pressa
Os mesmos rostos cabisbaixos....
Nunca há tempo...
Há sempre alguém ou algo à espera
Saímos a correr e chegamos cansados
Com vontade de tudo
Sem vontade de nada
Com mil e um planos na mente
Sem nenhum deles realmente concretizado...
Corremos apressados para quê?...
Olhamos sem ver porquê?....
Chegaremos onde?...
Chegaremos como?....
Valerá a pena a pressa!?.....
Susana Fernandes
Participação especial do avatares de um desejo
Às vezes apetece resgatar certas ideias do bafio de dicotomias antigas, esgotadas. A cidade tem sido vítima dessa dolorosa contraposição com o desenho romântico de um imaginário pré-moderno. Embora muitos a cantem em louvor, a cidade será sempre vítima de uma romantização do rural. Mas, para mim, a única coisa faz sentido contrapor à cidade é o meu quarto. É este o dualismo que realmente me apreende, o meu quarto de um lado, e do outro, a “minha cidade”. Ou as cidades da minha imaginação.
Estou convencido que o mais significativo trânsito de vidas se dá entre quartos semi-adormecidos e o burburinho das urbes. Do único trânsito importante nunca falam as rádios matutinas!
Ela anoiteceu só na sua cama cerca de 7000 noites (tem para aí 20 anos), e já há anos que, nas ruas, cafés, escolas, bares, bibliotecas, cinemas, vai procurando, como quem não quer a coisa, uma alma que a enlace, uma alma que ela queira enlaçar. Até que telefona uma amiga e diz as duas palavras fatais: “É Ele!”. Seguem-se uns meses de profundo encanto. De mão dada correm as avenidas, encostam-se nos jardins, ficam-se numa esplanada com vista para os semáforos. Nesses caminhos os sítios íntimos de cada um vão sendo partilhados, e pelo meio dessas topografias de afecto há aquilo a que Marc Augé chama “não-lugares”. Lugares de passagem onde não se assentam memórias, onde as identidades não se demoram. Há por isso várias cidades, há muitos lugares e não-lugares numa só cidade; os espaços que nós colonizamos são os nossos lugares, os nossos pontos de passagem serão os lugares de outrem.
Calcorrearam os recantos, ambos ensinaram os sítios amados de um e de outro, ambos conheceram novos lugares das suas cidades, e assim andaram colonizando a cidade com seu amor. Até que um dia ela não anoiteceu só no seu quarto, a cama dela e o seu corpo deram guarida a mais uma alma. O quarto dela, a morada primeira, a placa giratória de tantos ensejos, a cama das 7087 noites, conhecia agora um anoitecer a dois. Muitas noites haveriam de se seguir, muitas noites também visitou ela o quarto dele. Um dia acabaram. Cada um acordou num quarto desfigurado por memórias. Os quartos pediam cidade, pediam uma fuga. Mas para onde, se os lugares já estavam quase todos tomados pelo passado? Durante algum tempo ambos fugiram da cidade antiga, sozinhos lá iam perseguindo novos lugares, novas gentes, como quem viaja dentro das muralhas. Na verdade, pouco mais fizeram que deambular nas ruínas, tropeçando nos despojos de uma antiga colonização. Não duraria. De novo o quarto voltaria a ser um espaço de solitário conforto; laboriosas, as apropriações inventivas tratariam de criar outra cidade.
Por vezes, quando passeio por aí, olho para uma viela e fico-me a pensar nas cidades de que terá feito parte. Aconselho-me cuidado para não tropeçar nas minhas.
Bruno Martins
Às vezes apetece resgatar certas ideias do bafio de dicotomias antigas, esgotadas. A cidade tem sido vítima dessa dolorosa contraposição com o desenho romântico de um imaginário pré-moderno. Embora muitos a cantem em louvor, a cidade será sempre vítima de uma romantização do rural. Mas, para mim, a única coisa faz sentido contrapor à cidade é o meu quarto. É este o dualismo que realmente me apreende, o meu quarto de um lado, e do outro, a “minha cidade”. Ou as cidades da minha imaginação.
Estou convencido que o mais significativo trânsito de vidas se dá entre quartos semi-adormecidos e o burburinho das urbes. Do único trânsito importante nunca falam as rádios matutinas!
Ela anoiteceu só na sua cama cerca de 7000 noites (tem para aí 20 anos), e já há anos que, nas ruas, cafés, escolas, bares, bibliotecas, cinemas, vai procurando, como quem não quer a coisa, uma alma que a enlace, uma alma que ela queira enlaçar. Até que telefona uma amiga e diz as duas palavras fatais: “É Ele!”. Seguem-se uns meses de profundo encanto. De mão dada correm as avenidas, encostam-se nos jardins, ficam-se numa esplanada com vista para os semáforos. Nesses caminhos os sítios íntimos de cada um vão sendo partilhados, e pelo meio dessas topografias de afecto há aquilo a que Marc Augé chama “não-lugares”. Lugares de passagem onde não se assentam memórias, onde as identidades não se demoram. Há por isso várias cidades, há muitos lugares e não-lugares numa só cidade; os espaços que nós colonizamos são os nossos lugares, os nossos pontos de passagem serão os lugares de outrem.
Calcorrearam os recantos, ambos ensinaram os sítios amados de um e de outro, ambos conheceram novos lugares das suas cidades, e assim andaram colonizando a cidade com seu amor. Até que um dia ela não anoiteceu só no seu quarto, a cama dela e o seu corpo deram guarida a mais uma alma. O quarto dela, a morada primeira, a placa giratória de tantos ensejos, a cama das 7087 noites, conhecia agora um anoitecer a dois. Muitas noites haveriam de se seguir, muitas noites também visitou ela o quarto dele. Um dia acabaram. Cada um acordou num quarto desfigurado por memórias. Os quartos pediam cidade, pediam uma fuga. Mas para onde, se os lugares já estavam quase todos tomados pelo passado? Durante algum tempo ambos fugiram da cidade antiga, sozinhos lá iam perseguindo novos lugares, novas gentes, como quem viaja dentro das muralhas. Na verdade, pouco mais fizeram que deambular nas ruínas, tropeçando nos despojos de uma antiga colonização. Não duraria. De novo o quarto voltaria a ser um espaço de solitário conforto; laboriosas, as apropriações inventivas tratariam de criar outra cidade.
Por vezes, quando passeio por aí, olho para uma viela e fico-me a pensar nas cidades de que terá feito parte. Aconselho-me cuidado para não tropeçar nas minhas.
Bruno Martins
Para aumentar o número de pontos de vista em cada 5ª Temática surgiu a ideia de convidar um outro blog a participar nestes post à volta de um tema. O blog convidado para esta sessão inaugural foi o avatares de um desejo que amavelmente acedeu ao nosso convite com um belissimo texto.
O André
O André já cá não está. Já não brinca lá fora debaixo deste sol. Já não vem de manhã para a escola com o sorriso e os livros.
Já não o veremos fugir das funcionárias, com aquele ar malandro, pelos corredores fora. Não escreverá à D. Ana no S. Valentim do próximo ano. Nunca mais poderei ralhar com ele nas aulas.
O André era um dos nossos. Já chorámos por causa do André. Temos saudades dele. Era um dos nossos e partiu à nossa frente.
Para outro lugar.
Gostamos de ter, como tiveram sempre os nossos antepassados, a certeza firme de que a morte é apenas como mudar de casa. A esperança de que aqueles de quem gostámos estão guardados para nós e nos esperam.
Noutro lugar. O André está noutro lugar. Com quem brincas tu agora, André?
Chegou ao fim do caminho a sorrir. O Almeno, que estava lá naquele sábado, contou que a última coisa que o André fez foi sorrir. No meio da dor da queda.
Quem vive a sorrir morre a sorrir.
Disse-me o professor Luís que é costume os bons morrerem cedo. O André era bom. Eu sei. Não tinha jeito para estudar, nem paciência para estar quieto numa aula durante muito tempo. Como tantos de nós...
Mas esforçava-se. Tentava.
Uma vez dei-lhe o conselho de não se sentar, nas aulas, à beira dos colegas com quem gostava mais de brincar e conversar. Disse-lhe que assim podia aprender mais coisas nas aulas.
Não sei se o André conseguiu realmente aprender mais coisas, mas, a partir desse dia, quase sempre se sentava sozinho, lá naquele lugar da sala catorze que para nós ficará sempre vazio.
E custava-lhe muito fazer isso. Eu sei.
O André tentava. E os bons são os que tentam sempre, os que querem melhorar ao menos um bocadinho.
O André não fazia tudo bem. Era preciso ralhar com ele muitas vezes.
Eu não faço tudo bem. Vocês fazem?
Mas gostávamos dele, assim como ele era. Alguns só agora é que estão a entender como gostavam dele.
É que só podemos gostar de pessoas com defeitos. Porque as pessoas sem defeitos não existem.
Eu ralhei muito com o André, porque às vezes temos de ralhar com as outras pessoas. Mas não deve ser à conta de nos estarem a incomodar. Deve ser para bem delas, porque gostamos delas e queremos que sejam melhores.
Nada de zangas. Ralhar, sim. Mas ralhar e gostar.
(O André foi meu aluno e meu amigo. Morreu aos 12 anos, na aldeia onde vivia, em consequência de uma queda de bicicleta. Eu, depois, fui para casa escrever isto...).
Texto: Paulo Geraldo ( www.aldeia.no.sapo.pt )
Foto: João Coutinho (www.joaocoutinho.net)
2004-01-20
COMO NASCE UM PARADIGMA
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão.
Depois de algum tempo, sempre que um macaco tentava subir a escada, os outros enchiam-no de pancada.
Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos.
A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram. Depois de alguma surras, o novo integrante do grupo deixou de tentar subir a escada.
Um segundo macaco foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que
tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: " Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."
Seria bom que, de vez em quando, nos questionássemos acerca do porquê de fazermos algumas coisas sem pensar. Foi Albert Einstein quem disse: "É MAIS FÁCIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO DO QUE UM PRECONCEITO"
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula em cujo centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria nos que estavam no chão.
Depois de algum tempo, sempre que um macaco tentava subir a escada, os outros enchiam-no de pancada.
Passado mais algum tempo, mais nenhum macaco subia a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos.
A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que lhe bateram. Depois de alguma surras, o novo integrante do grupo deixou de tentar subir a escada.
Um segundo macaco foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato.
Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam a bater naquele que
tentasse chegar às bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: " Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..."
Seria bom que, de vez em quando, nos questionássemos acerca do porquê de fazermos algumas coisas sem pensar. Foi Albert Einstein quem disse: "É MAIS FÁCIL DESINTEGRAR UM ÁTOMO DO QUE UM PRECONCEITO"
2004-01-19
Pequenas fugas em dias de Sol
Quando vêm estes dias de sol no Inverno, e ainda que um vento gelado nos venha avermelhar as bochechas, sabe bem fazer pequenas evasões para aqueles sitíos que no Verão se tornam intoleráveis, de tão cheios que estão.
Hoje deixo aqui duas sugestões na zona de Oeiras, O Parque dos Poetas onde podemos ler alguns dos nossos melhors autores entre as verduras e arquitectura metálica de jardim, e A fábrica da Pólvora, espécie de jardim-museu onde a industrialidade se conjuga em harmonia com a natureza.
Quando vêm estes dias de sol no Inverno, e ainda que um vento gelado nos venha avermelhar as bochechas, sabe bem fazer pequenas evasões para aqueles sitíos que no Verão se tornam intoleráveis, de tão cheios que estão.
Hoje deixo aqui duas sugestões na zona de Oeiras, O Parque dos Poetas onde podemos ler alguns dos nossos melhors autores entre as verduras e arquitectura metálica de jardim, e A fábrica da Pólvora, espécie de jardim-museu onde a industrialidade se conjuga em harmonia com a natureza.
Eu sabia...
Eu sabia...Eu não sabia...
Eu sabia que te amava
Eu não sabia que não me amavas
Eu sabia o que é amor
Eu não sabia que o amor magoa
Eu sabia ser feliz
Eu não sabia o que é estar vazia
Eu sabia viver
Eu não sabia sobreviver
Eu sabia amar
Eu não sabia odiar
Eu sabia rir
Eu não sabia chorar
Hoje sei sobreviver
Hoje sei chorar
Hoje não sei ser feliz!
Cristina Augusto
Eu sabia...Eu não sabia...
Eu sabia que te amava
Eu não sabia que não me amavas
Eu sabia o que é amor
Eu não sabia que o amor magoa
Eu sabia ser feliz
Eu não sabia o que é estar vazia
Eu sabia viver
Eu não sabia sobreviver
Eu sabia amar
Eu não sabia odiar
Eu sabia rir
Eu não sabia chorar
Hoje sei sobreviver
Hoje sei chorar
Hoje não sei ser feliz!
Cristina Augusto
Na América, é um delicioso filme de Jim Sheridan, o realizador de O meu pé
esquerdo, Em nome do Pai e O Boxeur.
Jim Sheridan dá-nos uma perspectiva da América, diferente, da violência que
Scorcese habitualmente nos mostra ou a caricatura habitual nos filmes de
Woody Allen.
O argumento foi escrito por Sheridan e pelas suas duas filhas, e é uma
espécie de biografia pessoal do realizador irlandês e familia em terras
americanas.
Um casal com duas filhas chegam à América, desempregados mas cheios de
sonhos e esperança. Consigo trazem também um "fantasma" que foi a perda de
um filho. Chegados à grande cidade, integram-se num prédio de drogados e
travestis. A narração é feita pela filha mais velha do casal.
Um filme muito humano, lindo, com uma grande sensibilidade, a esperança e o
amor numa familia. É como que uma fábula humana, que Sheridan nos apresenta!
Interpretações excelentes, destaque para as duas pequeninas, irmãs no filme
e na vida real, que são a alma do filme.
PS - Não esquecer de levar lenços de papel.
2004-01-18
Coisas que detesto no Cinema
Uma coisa que detesto quando vou ao cinema são as pessoas que chegam atrasadas e nos obrigam a levantar para passar, tapando a imagem e fazendo com que o casaco que já repousava esquecido no meu colo, resvale inexoravelmente para o chão.
Outra coisa que detesto é a mania das pipocas ou qualquer outros alimentos obrigando-nos a ouvir a banda sonora misturada com um mastigar ruidoso. Por vezes é o suficiente para quebrar toda a tensão de uma cena.
Também detesto estar sentado a ver todas aquelas apresentações repetidas e ter fome durante o filme, razões suficientes para chegar sempre atrasado e levar alguma coisa para comer...
Uma coisa que detesto quando vou ao cinema são as pessoas que chegam atrasadas e nos obrigam a levantar para passar, tapando a imagem e fazendo com que o casaco que já repousava esquecido no meu colo, resvale inexoravelmente para o chão.
Outra coisa que detesto é a mania das pipocas ou qualquer outros alimentos obrigando-nos a ouvir a banda sonora misturada com um mastigar ruidoso. Por vezes é o suficiente para quebrar toda a tensão de uma cena.
Também detesto estar sentado a ver todas aquelas apresentações repetidas e ter fome durante o filme, razões suficientes para chegar sempre atrasado e levar alguma coisa para comer...
Cary Grant...Hoje faria 100 anos...
Quem não se lembra deste galã? Que contracenou com Ginger Rogers, Deborah Kerr, Grace Kelly, Marilyn Monroe e Audrey Hepburn, e foi um dos actores favoritos do mestre Hitchcok!
Dos seus filmes temos para recordar, Com a Verdade Me Enganas, de McCarey,ou Bringing Up Baby, de Hawks, O Grande Escândalo, The Philadelphia Story, O Mundo É um Manicómio Paraíso Infernal e Intriga Internacional.
Quem não se lembra deste galã? Que contracenou com Ginger Rogers, Deborah Kerr, Grace Kelly, Marilyn Monroe e Audrey Hepburn, e foi um dos actores favoritos do mestre Hitchcok!
Dos seus filmes temos para recordar, Com a Verdade Me Enganas, de McCarey,ou Bringing Up Baby, de Hawks, O Grande Escândalo, The Philadelphia Story, O Mundo É um Manicómio Paraíso Infernal e Intriga Internacional.
2004-01-17
In the Cut – Atracção Perigosa
Frannie é uma professora, um pouco tímida e reprimida, que se vê subitamente envolvida num macabro cenário de um serial killer.
Acaba por se envolver com Giovanni Malloy o detective encarregue do caso.
O tema pode ser banal, mas quando a realização é de Jane Campion, e os actores do filme são Meg Ryan, Mark Ruffalo, Jennifer Jason Leigh e Kevin Bacon, o filme acaba por ser bem conseguido. Não tanto pelo argumento mas mais pela interpretação e realização.
Adorei o pormenor de passagens de poesia escritas no comboio do Metro.
BREVE NOTA SOBRE FRANK O'HARA
Conheci a poesia de Frank O'Hara numa antologia organizada por Manuel de Seabra sobre os novos poetas norte-americanos e a sua poesia. o livrinho editado pela futura em 1973 ainda me acompanha nos dias de hoje...nessa época era o puto apaixonado pela poesia...e o poema de Frank, intitulado "A Industria Cinematográfica em Crise" surgiu como se alguem me tivesse dado um soco no estômago...fiquei simplesmente sem respiracão...e nunca mais me esqueci dele...e de todos os poetas americanos da sua geração...e consequentemente da literatura beatnick...depois ao saber como a vida está presa apenas por um ligeiro fio...fraco e frágil...decidi contemplar as ondas do mar com o meu olhar no silêncio dos dias...e muitas vezes descobri marcas de pés na areia húmida da praia...e inevitávelmente pensava que o Frank tinha estado nesse dia naquele lugar...esse lugar que ele pisou pela última vez...e cuja beleza não o deixou ver o carro que o iria roubar do nosso convívio...mas os poetas... (sim! na poesia não há grandes e pequenos poetas...há apenas poetas e poemas)...sejam aprendizes ou consagrados...premiados ou simplesmente de gaveta...nunca esquecerão este homem, cuja poesia nascia dos temas mais simples e das pessoas anónimas que com ele se cruzavam nas ruas de Nova Iorque, enquanto ele seguia para o Moma onde trabalhava. Nascia assim o seu convivio com a pintura e com os seus artistas, Jasper John, de Koonning, Rauschenberg entre outros...na poesia encontrou em Kenneth Koch e John Ashbery a amizade (ambos já publicados entre nós)...mas nunca constituíram um grupo homogéneo como os beat de S.Francisco...devido talvez à sua singularidade...embora todos eles fossem beber a poesia de Walt Whitman - o pai de toda a moderna poesia norte-americana - O cinema, o teatro e a pintura acabaram também por surgir como matéria para os seus poemas...assim como já em menor escala a música (jazz). Ler hoje Frank O'Hara é um daqueles pequenos prazeres que nos enchem a alma de alegria, já que por vezes a vida insiste em nos oferecer por vezes a amargura e a tristeza...sabe na verdade muito bem beber a sua poesia nas noites frias de inverno, ou numa outra estação mais quente saborear a frescura das suas palavras, numa esplanada de uma praia ao cair da noite.
O Mestre de quem ele fala no poema "Cambridge" é claro o Boris Pasternak, autor do célebre "Dr.Jivago", Nobel da Literatura e fabuloso poeta (recordam-se dos poemas de Jivago para Lara?) e que viveu prisioneiro na sua terra mãe.
Frank O'Hara é um daqueles nomes que é urgente descobrir...e o Pasternak é o outro senhor, mas esta é apenas a opinião aqui do escriba...Aqui vos deixo outro poema do Frank...este cinematográfico...
POEMA
Lana Turner desmaiou!
Eu deambulava e de repente
começou a chover e a nevar
e tu disseste que caía granizo
mas o granizo acerta na cabeça
com força por isso estava a nevar
e a chover e eu tinha tanta pressa
ía ao teu encontro mas o tráfego
comportava-se exactamente como o céu
e subitamente vi um cabeçalho
LANA TURNER DESMAIOU!
não há neve em Hollywood
não há chuva na California
eu estive numa data de festas
e portei-me de forma desgraçada
mas nunca tive um desmaio
oh Lana Turner amamos-te levanta-te
Frank O'Hara
Conheci a poesia de Frank O'Hara numa antologia organizada por Manuel de Seabra sobre os novos poetas norte-americanos e a sua poesia. o livrinho editado pela futura em 1973 ainda me acompanha nos dias de hoje...nessa época era o puto apaixonado pela poesia...e o poema de Frank, intitulado "A Industria Cinematográfica em Crise" surgiu como se alguem me tivesse dado um soco no estômago...fiquei simplesmente sem respiracão...e nunca mais me esqueci dele...e de todos os poetas americanos da sua geração...e consequentemente da literatura beatnick...depois ao saber como a vida está presa apenas por um ligeiro fio...fraco e frágil...decidi contemplar as ondas do mar com o meu olhar no silêncio dos dias...e muitas vezes descobri marcas de pés na areia húmida da praia...e inevitávelmente pensava que o Frank tinha estado nesse dia naquele lugar...esse lugar que ele pisou pela última vez...e cuja beleza não o deixou ver o carro que o iria roubar do nosso convívio...mas os poetas... (sim! na poesia não há grandes e pequenos poetas...há apenas poetas e poemas)...sejam aprendizes ou consagrados...premiados ou simplesmente de gaveta...nunca esquecerão este homem, cuja poesia nascia dos temas mais simples e das pessoas anónimas que com ele se cruzavam nas ruas de Nova Iorque, enquanto ele seguia para o Moma onde trabalhava. Nascia assim o seu convivio com a pintura e com os seus artistas, Jasper John, de Koonning, Rauschenberg entre outros...na poesia encontrou em Kenneth Koch e John Ashbery a amizade (ambos já publicados entre nós)...mas nunca constituíram um grupo homogéneo como os beat de S.Francisco...devido talvez à sua singularidade...embora todos eles fossem beber a poesia de Walt Whitman - o pai de toda a moderna poesia norte-americana - O cinema, o teatro e a pintura acabaram também por surgir como matéria para os seus poemas...assim como já em menor escala a música (jazz). Ler hoje Frank O'Hara é um daqueles pequenos prazeres que nos enchem a alma de alegria, já que por vezes a vida insiste em nos oferecer por vezes a amargura e a tristeza...sabe na verdade muito bem beber a sua poesia nas noites frias de inverno, ou numa outra estação mais quente saborear a frescura das suas palavras, numa esplanada de uma praia ao cair da noite.
O Mestre de quem ele fala no poema "Cambridge" é claro o Boris Pasternak, autor do célebre "Dr.Jivago", Nobel da Literatura e fabuloso poeta (recordam-se dos poemas de Jivago para Lara?) e que viveu prisioneiro na sua terra mãe.
Frank O'Hara é um daqueles nomes que é urgente descobrir...e o Pasternak é o outro senhor, mas esta é apenas a opinião aqui do escriba...Aqui vos deixo outro poema do Frank...este cinematográfico...
POEMA
Lana Turner desmaiou!
Eu deambulava e de repente
começou a chover e a nevar
e tu disseste que caía granizo
mas o granizo acerta na cabeça
com força por isso estava a nevar
e a chover e eu tinha tanta pressa
ía ao teu encontro mas o tráfego
comportava-se exactamente como o céu
e subitamente vi um cabeçalho
LANA TURNER DESMAIOU!
não há neve em Hollywood
não há chuva na California
eu estive numa data de festas
e portei-me de forma desgraçada
mas nunca tive um desmaio
oh Lana Turner amamos-te levanta-te
Frank O'Hara
CAMBRIDGE
Ainda chove e o fruto amarelo-verde do algodão
no peitoril parece tonto dando no inverno troncos
com apenas três folhas pardacentas. A chapa de aquecimento funciona,
é o único calor na terra, e café instantâneo. Eu
visto as minhas calças de veludo quente, uma camisola grossa castanha
e envolvo-me no meu velho roupão castanho. Como Pasternak
em Marburg (dizem que a Itália e a França são mais frias,
mas estou certo que a Alemanha é tão fria como isto) e,
faltando-me a inspiração do Mestre, posso morrer gelado
antes de conseguir sair para a chuva branca. Poderia ter deixado
a janela fechada durante a noite? Mas é de onde a saúde
vem! A sua respiração desde os Urais, incendiando-me
como um cigarro esquecido. Arde! isto não é negligível,
sendo poético, não sendo frágil, pois que é patrocionado pelo
maior poeta Russo vivo com um custo incalculável.
Do outro lado da rua há uma casa em construção,
abandonada à chuva. Secretamente, irei trabalhar nela.
Frank O'Hara
in "vinte e cinco poemas à hora de almoço"
Ed. Assírio & Alvim
Ainda chove e o fruto amarelo-verde do algodão
no peitoril parece tonto dando no inverno troncos
com apenas três folhas pardacentas. A chapa de aquecimento funciona,
é o único calor na terra, e café instantâneo. Eu
visto as minhas calças de veludo quente, uma camisola grossa castanha
e envolvo-me no meu velho roupão castanho. Como Pasternak
em Marburg (dizem que a Itália e a França são mais frias,
mas estou certo que a Alemanha é tão fria como isto) e,
faltando-me a inspiração do Mestre, posso morrer gelado
antes de conseguir sair para a chuva branca. Poderia ter deixado
a janela fechada durante a noite? Mas é de onde a saúde
vem! A sua respiração desde os Urais, incendiando-me
como um cigarro esquecido. Arde! isto não é negligível,
sendo poético, não sendo frágil, pois que é patrocionado pelo
maior poeta Russo vivo com um custo incalculável.
Do outro lado da rua há uma casa em construção,
abandonada à chuva. Secretamente, irei trabalhar nela.
Frank O'Hara
in "vinte e cinco poemas à hora de almoço"
Ed. Assírio & Alvim
As Vozes
A infância vem
pé ante pé
sobe as escadas
e bate à porta
- Quem é?
- É a mãe morta
- São coisas passadas
- Não é ninguém
Tantas vozes fora de nós!
E se somos nós quem está lá fora
e bate à porta? E se nos fomos embora?
E se ficámos sós?
Manuel António Pina
Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança
in Poemário
Assírio & Alvim
2004-01-16
LAWRENCE DURRELL E O "CARROSSEL SICILIANO"
Um dia, numa daquelas conversas de adolescentes em busca do prazer da Literatura, alguém falou em Lawrence Durrell e no seu "Quarteto de Alexandria"...os anos passaram e muito tempo depois, todos os que me conhecem, sabem que o Larry faz parte dos meus escritores favoritos...os tais cuja obra levaria para a ilha deserta, com a certeza de que nunca iria encontrar a solidão...pois teria sempre a sua companhia maravilhosa. Mas hoje o livro/divertimento de que vos quero falar ? de "O Carrossel Siciliano" que anda perdido nas estantes das livrarias e que poderemos obter apenas com uma nota de cinco euros.
Fica aqui uma das mais saborosas passagens do livro, em que o autor surge como personagem na primeira pessoa, mergulhado num grupo de excursionistas de diversos países, na descoberta da paisagem Siciliana, mas tamb?m com a mem?ria de duas antigas amizades/paixões...o amor de Martine e a inesquecível Grécia com as suas paisagens e história.
"(...) A cidade parecia sossegada e com pouco movimento, apesar de ainda ser cedo. Houe um pequenino contratempo no hotel, onde descobrimos que os porteiros tinham feito greve nesse dia. Tivemos por isso de carregar com as nossas malas de que precisávamos para aquela noite.
Isso não teria sido uma questão muito séria se o elevador não estivesse tão atravancado e se o casal diplomático francês conhecesse a arte elementar de fazer as malas. (...) ? saída colidimos de novo no corredor, e, com uma espécie
de angustia sibilante, o meu companheiro de viagem disse: "Cher maitre, queira desculpar."
O meu coração desfaleceu, pois compreendi que tinha sido reconhecido, em virtude, talvez, de ter aparecido demasiadas vezes na televis?o, em Paris. Mas ele continuou: " Esteja tranquilo, o seu anonimato será respeitado por mim e pela minha mulher. Ninguém saberá nunca, que Lawrence Durrell está connosco." Foi como se Stendhal se encontrasse com Rossini no elevador. Pouco faltou para que ele fizesse uma genuflexão - quanto a mim, creio que inchei de orgulho, como um sapo. Ele afastou-se às arrecuas pelo corredor fora para o seu quarto - como se faz à realeza ou ao Papa. Eu segui pensativamente para o meu. (...)
(...) A noite estava serena e fragrante. Quando andávamos de um lado para o outro, o francês saiu, viu-nos e avançou com o seu cartão de visita em riste. "Como un ancien préfet de Paris" disse, "permita que me apresente. Conde Petremend, ás suas ordens". Tinha umas maneiras deliciosas e inocentes de astúcia.(...)
(...)Fez-nos companhia num charuto e demos os tres uma volta, para cima e para baixo pelo jardim tépido e sossegado. "Comoveu-me a sua menção do meu anonimato", declarei, emocionado. "Nunca tive qualquer problema com ele, antes. Uma ou duas vezes estive quase a ser declarado persona non grata, mas ficou por aí. Na verdade, a única cruz que tenho que carregar é a de, aonde quer que vá me pedirem que autografe os livros do meu irmão. ? invariável." Devo ter falado com grande veemência, pois Deeds olhou para mim com alguma surpresa e disse: "Ainda não aconteceu. " "Mas acontecerá, Deeds, acontecera." (Dois dias depois, aconteceu. Não me fiz rogado, como de costume, e assinei Marcel Proust com o floreado adequado.)
Nessa noite o nosso conhecimento não foi mais longe porque a mulher do Conde apareceu com uma rima de cartas para ele endereçar e estampilhar - e o conde despediu-se, uma vez mais com a mesma cortesia requintada.(...)
Lawrence Durrelll
in "Carrossel Siciliano"
Ed. Livros do Brasil (1992)
Um dia, numa daquelas conversas de adolescentes em busca do prazer da Literatura, alguém falou em Lawrence Durrell e no seu "Quarteto de Alexandria"...os anos passaram e muito tempo depois, todos os que me conhecem, sabem que o Larry faz parte dos meus escritores favoritos...os tais cuja obra levaria para a ilha deserta, com a certeza de que nunca iria encontrar a solidão...pois teria sempre a sua companhia maravilhosa. Mas hoje o livro/divertimento de que vos quero falar ? de "O Carrossel Siciliano" que anda perdido nas estantes das livrarias e que poderemos obter apenas com uma nota de cinco euros.
Fica aqui uma das mais saborosas passagens do livro, em que o autor surge como personagem na primeira pessoa, mergulhado num grupo de excursionistas de diversos países, na descoberta da paisagem Siciliana, mas tamb?m com a mem?ria de duas antigas amizades/paixões...o amor de Martine e a inesquecível Grécia com as suas paisagens e história.
"(...) A cidade parecia sossegada e com pouco movimento, apesar de ainda ser cedo. Houe um pequenino contratempo no hotel, onde descobrimos que os porteiros tinham feito greve nesse dia. Tivemos por isso de carregar com as nossas malas de que precisávamos para aquela noite.
Isso não teria sido uma questão muito séria se o elevador não estivesse tão atravancado e se o casal diplomático francês conhecesse a arte elementar de fazer as malas. (...) ? saída colidimos de novo no corredor, e, com uma espécie
de angustia sibilante, o meu companheiro de viagem disse: "Cher maitre, queira desculpar."
O meu coração desfaleceu, pois compreendi que tinha sido reconhecido, em virtude, talvez, de ter aparecido demasiadas vezes na televis?o, em Paris. Mas ele continuou: " Esteja tranquilo, o seu anonimato será respeitado por mim e pela minha mulher. Ninguém saberá nunca, que Lawrence Durrell está connosco." Foi como se Stendhal se encontrasse com Rossini no elevador. Pouco faltou para que ele fizesse uma genuflexão - quanto a mim, creio que inchei de orgulho, como um sapo. Ele afastou-se às arrecuas pelo corredor fora para o seu quarto - como se faz à realeza ou ao Papa. Eu segui pensativamente para o meu. (...)
(...) A noite estava serena e fragrante. Quando andávamos de um lado para o outro, o francês saiu, viu-nos e avançou com o seu cartão de visita em riste. "Como un ancien préfet de Paris" disse, "permita que me apresente. Conde Petremend, ás suas ordens". Tinha umas maneiras deliciosas e inocentes de astúcia.(...)
(...)Fez-nos companhia num charuto e demos os tres uma volta, para cima e para baixo pelo jardim tépido e sossegado. "Comoveu-me a sua menção do meu anonimato", declarei, emocionado. "Nunca tive qualquer problema com ele, antes. Uma ou duas vezes estive quase a ser declarado persona non grata, mas ficou por aí. Na verdade, a única cruz que tenho que carregar é a de, aonde quer que vá me pedirem que autografe os livros do meu irmão. ? invariável." Devo ter falado com grande veemência, pois Deeds olhou para mim com alguma surpresa e disse: "Ainda não aconteceu. " "Mas acontecerá, Deeds, acontecera." (Dois dias depois, aconteceu. Não me fiz rogado, como de costume, e assinei Marcel Proust com o floreado adequado.)
Nessa noite o nosso conhecimento não foi mais longe porque a mulher do Conde apareceu com uma rima de cartas para ele endereçar e estampilhar - e o conde despediu-se, uma vez mais com a mesma cortesia requintada.(...)
Lawrence Durrelll
in "Carrossel Siciliano"
Ed. Livros do Brasil (1992)
O Corpo - Hanif Kureishi
Não meninas, este não é o corpo de Hanif Kureishi, se bem que talvez ele não se importasse, mas isto de escolher um corpo não é bem como ir a uma loja escolher um casaco, mas e se fosse ?
Essa foi a questão que se pôs a Adam no conto O Corpo que dá nome ao mais recente livro deste autor inglês conhecido pelos seus romances Intimidade ou O dom de Gabriel.
Esta fórmula: colocar seres humanos perante uma impossibilidade absoluta e ver como reagem, explorando os seus sentimentos (em que Saramago se revela mestre) resulta muito bem para escritores que conseguem entrar na cabeça dos seus personagens, o que é o caso de Hanif Kureishi.
Os outros contos que completam o livro mantém a mesma qualidade e incidem sobre relações familiares tensas, com personagens intensas como é hábito neste escritor.
E já agora, se fosses escolher um novo corpo para ti, mantinhas o mesmo sexo ? Escolhias um corpo bonito, mais novo ?
SUA MAJESTADE "QUEEN MARY 2"
FUNCHAL MADRUGOU PARA RECEPÇÃO APOTEÓTICA AO "QUEEN MARY 2"
O Funchal "madrugou" para assistir à escala inaugural do maior navio do Mundo. O dia não tinha ainda nascido quando, pelas 7:10 horas o "Queen Mary 2" ("QM") fazia ecoar o famoso apito audível a 10 milhas, entrando no porto do Funchal rodeado de uma flotilha de dezenas de embarcações da frota regional em verdadeira apoteose. Além do belo "teatro" de luzes, os flashes que surgiam das máquinas fotográficas em vários pontos da cidade davam a entender que a "rainha dos mares" não estava só.
Após um início de viagem atribulada, com os ventos ciclónicos que "varriam" o Canal da Mancha, o comandante Warwick, do "QM2" (filho do primeiro capitão do "Queen Elizabeth 2" que, curiosamente, efectuou a sua primeira viagem entre Southampton e o Funchal, em 1969) referiu que o poderoso navio de 150 mil toneladas correspondeu à altura.
Os madeirenses não quiseram perder o impacto visual com a entrada do "gigante" iluminado. A afluência de milhares de pessoas à avenida do Mar foi evidente, assim como aos principais miradouros. Foi como que um São Silvestre celebrado no mar pela aurora. E a largada voltou a cativar o público.
O comandante do "QM2" ficou bastante sensibilizado com a «recepção calorosa» dos madeirenses. Recorda, em especial, o momento da aproximação ao porto do Funchal, quando pegou no binóculo e viu «aquelas pessoas, ao longo da marginal, de onde saíam tantos flashes do meio da escuridão».
Quanto à eleição do porto do Funchal para esta escala inaugural, o comandante diz que essa «não foi uma decisão difícil de tomar», isto «porque há muitos anos que a ilha está fortemente associada à "Cunard Line"». Disse mesmo que «a Madeira é uma paragem óbvia», distinguindo as óptimas condições de manobrabilidade, a profundidade das águas e a beleza da baía.
O "navio dos superlativos"
Não é só no custo (780 milhões de euros), no comprimento (345 m), na altura (72 m), na largura (41 m) e na tonelagem (150 mil) que o "QM2" é o maior do Mundo. Também a bordo há pormenores que tornam o navio de 17 pisos e 1.310 cabines com varandas privadas, num navio singular.
A título de exemplo, este é o primeiro paquete com planetário a bordo, onde são projectados filmes tridimensionais numa abóbada gigante, sendo os 150 lugares centrais amovíveis. O primeiro salão de dança "flutuante" chama-se "Queen Room".
Realce ainda para o restaurante "à la carte" "Britannia", em homenagem ao primeiro navio da companhia "Cunard Line". A biblioteca e livraria conta com oito mil volumes em quatro línguas, enquanto na ampla zona de entretenimento para crianças, não faltam televisores personalizados, "x-boxes" e até uma discoteca infantil. As actividades culturais são preenchidas com peças musicais do grupo teatral da "Royal Court Theather".
Do interior do maior transatlântico do Mundo sobressai o luxo e os pormenores dos acabamentos, associados ao requinte e distinção britânica, que conserva o estilo clássico, como que a evocar os grandes paquetes dos anos setenta, em combinação com a elegância dos paquetes modernos. Por isso é que se diz que este navio foi concebido ao detalhe.
Em termos de tecnologia e operacionalidade, o "QM2" é o mais avançado de sempre, podendo ser comandado através de um simples "joystick". É o primeiro navio de passageiros dirigido a partir de quatro propulsores, que permitem uma rotação de 360 graus para manobras e navegação, tendo autonomia total para atracar, dispensando o auxílio de rebocadores. Quatro estabilizadores verticais flexíveis reduzem o movimento de rotação do navio em 90%, sendo capaz de suportar a pior das tempestades.
Funchal despediu-se do "vapor": A relação dos madeirenses com os navios não se resume à aritmética da receita turística; é um fascínio que vem de longe
Das velas, aos vapores, aos transatlânticos, ao modesto rebocador. Desde sempre os madeirenses se sentiram atraídos pelos navios e prestaram-lhes homenagem. Invenções fantásticas que iludiam o isolamento e davam a sensação de que o Mundo também passava por aqui. Que não estávamos perdidos no meio do Atlântico e que, nem que fosse só em sonhos, também podíamos viajar. "Nesses barcos a chegar", como cantaria Max.
Deve ter sido esta tradição "genética", aliada a toda a publicidade e cobertura mediática – no continente só "descobriram" na quarta-feira que o navio passava por cá, mas... – que levou milhares a acordar muito cedo para receber o "Queen Mary 2". E muitos mais a encherem a Avenida do Mar e o calhau, na despedida do maior paquete do Mundo. Depois de uma "visita de médico" de algumas horas que se repetirá, lá para Abril.
Máquinas fotográficas, das tradicionais às digitais e até aos telemóveis especiais de corrida, tudo serviu para registar a passagem pelo nosso porto da última maravilha do mar. Era o "cromo" do momento e esta terra de entusiastas de navios não podia perder.
Às seis da tarde – muita gente deve ter "roubado" umas horas ao patrão – eram milhares a acotovelarem-se para ver partir o novo "Titanic". Pelo menos foi assim que muitas crianças lhe chamaram e desenharam. "Sou o rei do mundo!", podia ler-se num dos desenhos na montra do DIÁRIO.
A praia do cais encheu-se, recordando os tempos em que os "vapores do Cabo" aportavam e os passageiros eram transportados em canoas. O fascínio foi o mesmo, só que agora era para saber se o comandante conseguia fazer a "tangente" à Pontinha. E fez, para alegria de todos os que, armados em conhecedores, sabiam que o paquete tinha direcção assistida e mais não sei quantos turbos.
Na Pontinha estavam menos, porque o dispositivo de segurança, essa invenção dos nossos tempos, obrigou a manter distâncias rigorosas. Por isso, não foi possível recordar as tardes de despedidas dos anos sessenta. As lágrimas que marcavam o adeus aos que emigravam, a bordo do Santa Maria, ou aos jovens que seguiam, no Vera Cruz e no Príncipe Perfeito, para uma guerra que ficava longe. Era o tempo em que o mar levava.
Ricardo Duarte Freitas / Jorge Freitas Sousa - DN Madeira
FUNCHAL MADRUGOU PARA RECEPÇÃO APOTEÓTICA AO "QUEEN MARY 2"
O Funchal "madrugou" para assistir à escala inaugural do maior navio do Mundo. O dia não tinha ainda nascido quando, pelas 7:10 horas o "Queen Mary 2" ("QM") fazia ecoar o famoso apito audível a 10 milhas, entrando no porto do Funchal rodeado de uma flotilha de dezenas de embarcações da frota regional em verdadeira apoteose. Além do belo "teatro" de luzes, os flashes que surgiam das máquinas fotográficas em vários pontos da cidade davam a entender que a "rainha dos mares" não estava só.
Após um início de viagem atribulada, com os ventos ciclónicos que "varriam" o Canal da Mancha, o comandante Warwick, do "QM2" (filho do primeiro capitão do "Queen Elizabeth 2" que, curiosamente, efectuou a sua primeira viagem entre Southampton e o Funchal, em 1969) referiu que o poderoso navio de 150 mil toneladas correspondeu à altura.
Os madeirenses não quiseram perder o impacto visual com a entrada do "gigante" iluminado. A afluência de milhares de pessoas à avenida do Mar foi evidente, assim como aos principais miradouros. Foi como que um São Silvestre celebrado no mar pela aurora. E a largada voltou a cativar o público.
O comandante do "QM2" ficou bastante sensibilizado com a «recepção calorosa» dos madeirenses. Recorda, em especial, o momento da aproximação ao porto do Funchal, quando pegou no binóculo e viu «aquelas pessoas, ao longo da marginal, de onde saíam tantos flashes do meio da escuridão».
Quanto à eleição do porto do Funchal para esta escala inaugural, o comandante diz que essa «não foi uma decisão difícil de tomar», isto «porque há muitos anos que a ilha está fortemente associada à "Cunard Line"». Disse mesmo que «a Madeira é uma paragem óbvia», distinguindo as óptimas condições de manobrabilidade, a profundidade das águas e a beleza da baía.
O "navio dos superlativos"
Não é só no custo (780 milhões de euros), no comprimento (345 m), na altura (72 m), na largura (41 m) e na tonelagem (150 mil) que o "QM2" é o maior do Mundo. Também a bordo há pormenores que tornam o navio de 17 pisos e 1.310 cabines com varandas privadas, num navio singular.
A título de exemplo, este é o primeiro paquete com planetário a bordo, onde são projectados filmes tridimensionais numa abóbada gigante, sendo os 150 lugares centrais amovíveis. O primeiro salão de dança "flutuante" chama-se "Queen Room".
Realce ainda para o restaurante "à la carte" "Britannia", em homenagem ao primeiro navio da companhia "Cunard Line". A biblioteca e livraria conta com oito mil volumes em quatro línguas, enquanto na ampla zona de entretenimento para crianças, não faltam televisores personalizados, "x-boxes" e até uma discoteca infantil. As actividades culturais são preenchidas com peças musicais do grupo teatral da "Royal Court Theather".
Do interior do maior transatlântico do Mundo sobressai o luxo e os pormenores dos acabamentos, associados ao requinte e distinção britânica, que conserva o estilo clássico, como que a evocar os grandes paquetes dos anos setenta, em combinação com a elegância dos paquetes modernos. Por isso é que se diz que este navio foi concebido ao detalhe.
Em termos de tecnologia e operacionalidade, o "QM2" é o mais avançado de sempre, podendo ser comandado através de um simples "joystick". É o primeiro navio de passageiros dirigido a partir de quatro propulsores, que permitem uma rotação de 360 graus para manobras e navegação, tendo autonomia total para atracar, dispensando o auxílio de rebocadores. Quatro estabilizadores verticais flexíveis reduzem o movimento de rotação do navio em 90%, sendo capaz de suportar a pior das tempestades.
Funchal despediu-se do "vapor": A relação dos madeirenses com os navios não se resume à aritmética da receita turística; é um fascínio que vem de longe
Das velas, aos vapores, aos transatlânticos, ao modesto rebocador. Desde sempre os madeirenses se sentiram atraídos pelos navios e prestaram-lhes homenagem. Invenções fantásticas que iludiam o isolamento e davam a sensação de que o Mundo também passava por aqui. Que não estávamos perdidos no meio do Atlântico e que, nem que fosse só em sonhos, também podíamos viajar. "Nesses barcos a chegar", como cantaria Max.
Deve ter sido esta tradição "genética", aliada a toda a publicidade e cobertura mediática – no continente só "descobriram" na quarta-feira que o navio passava por cá, mas... – que levou milhares a acordar muito cedo para receber o "Queen Mary 2". E muitos mais a encherem a Avenida do Mar e o calhau, na despedida do maior paquete do Mundo. Depois de uma "visita de médico" de algumas horas que se repetirá, lá para Abril.
Máquinas fotográficas, das tradicionais às digitais e até aos telemóveis especiais de corrida, tudo serviu para registar a passagem pelo nosso porto da última maravilha do mar. Era o "cromo" do momento e esta terra de entusiastas de navios não podia perder.
Às seis da tarde – muita gente deve ter "roubado" umas horas ao patrão – eram milhares a acotovelarem-se para ver partir o novo "Titanic". Pelo menos foi assim que muitas crianças lhe chamaram e desenharam. "Sou o rei do mundo!", podia ler-se num dos desenhos na montra do DIÁRIO.
A praia do cais encheu-se, recordando os tempos em que os "vapores do Cabo" aportavam e os passageiros eram transportados em canoas. O fascínio foi o mesmo, só que agora era para saber se o comandante conseguia fazer a "tangente" à Pontinha. E fez, para alegria de todos os que, armados em conhecedores, sabiam que o paquete tinha direcção assistida e mais não sei quantos turbos.
Na Pontinha estavam menos, porque o dispositivo de segurança, essa invenção dos nossos tempos, obrigou a manter distâncias rigorosas. Por isso, não foi possível recordar as tardes de despedidas dos anos sessenta. As lágrimas que marcavam o adeus aos que emigravam, a bordo do Santa Maria, ou aos jovens que seguiam, no Vera Cruz e no Príncipe Perfeito, para uma guerra que ficava longe. Era o tempo em que o mar levava.
Ricardo Duarte Freitas / Jorge Freitas Sousa - DN Madeira
Madrugada
Vi hoje um arco-íris,
cheio de muitas cores.
São as dores, as dores
da madrugada.
Quando procuro o eu
e vagueio pelos sonhos
da noite ainda cansada,
o dia é uma incógnita,
uma palavra maldita,
dita sob as olheiras
por um boca fechada.
Eu quero ser como os pássaros,
sem nome, bebendo a natureza.
Vivendo da luz coada pelas árvores,
que me lustram e afagam as penas.
Voar com as asas largas do cio,
mergulhando no esteio do teu rio.
Até que a melodia do crepúsculo
me embale para uma margem dura,
como uma ave abandonada, ferida,
sussurrando, de olhos já fechados,
ainda com medos, quase pecados:
- Foste a mulher da minha vida!
Lisboa, 05.12.2003
(As desculpas, por não "blogado" ontem)
Vi hoje um arco-íris,
cheio de muitas cores.
São as dores, as dores
da madrugada.
Quando procuro o eu
e vagueio pelos sonhos
da noite ainda cansada,
o dia é uma incógnita,
uma palavra maldita,
dita sob as olheiras
por um boca fechada.
Eu quero ser como os pássaros,
sem nome, bebendo a natureza.
Vivendo da luz coada pelas árvores,
que me lustram e afagam as penas.
Voar com as asas largas do cio,
mergulhando no esteio do teu rio.
Até que a melodia do crepúsculo
me embale para uma margem dura,
como uma ave abandonada, ferida,
sussurrando, de olhos já fechados,
ainda com medos, quase pecados:
- Foste a mulher da minha vida!
Lisboa, 05.12.2003
(As desculpas, por não "blogado" ontem)
2004-01-15
AS CORES DO ARCO-ÍRIS
O Criador do Universo decidiu levar as CORES a julgamento, para tentar ordenar o caos que elas estavam a provocar no cosmos, por ele criado. Decidiu ser ele próprio o Juiz e a defesa ficou a cargo de cada uma das cores.
- Minhas senhoras estamos aqui para decidir o novo lugar que as diferentes cores irão ocupar no Universo. Podemos começar pela cor BRANCA.
- E de que deseja que eu fale?
- Podes dizer as tuas razões para ocupares mais espaço no universo!
- Eu sou o símbolo da paz, da inocência, da pureza original. Transmito paz, harmonia, tranquilidade - disse a cor branca em voz pausada e tranquila.
-Também simbolizo a paz e a harmonia! Diz a cor AZUL indignada.
- Pois eu represento a vida, a acção, a guerra, alegria, movimento! Diz o vermelho em voz bem alta.
- Estou associado à noite, à tristeza e ao luto. Diz a cor preta em voz pausada e monótona.
E cada cor lá continuou a esgrimir os seus argumentos com os quais procuravam convencer o Criador a conceder-lhes uma quota maior na Sociedade Colorida do Universo. O Criador foi escutando … e se inicialmente escutava interessado foi-se desligando e acabou por adormecer!
- Eu sou a mais importante! gritavam todas as cores em uníssono…. Entretanto entraram em luta atirando rajadas de cores em todos os sentidos da sala! Os gritos e as rajadas acordaram o Criador que ficou furioso com tal desordem!
- Como castigo todas irão conviver harmoniosamente e ao lado umas das outras no arco-íris!
E assim reza a lenda que explica a criação do arco-íris pelo Criador do Universo.
O Criador do Universo decidiu levar as CORES a julgamento, para tentar ordenar o caos que elas estavam a provocar no cosmos, por ele criado. Decidiu ser ele próprio o Juiz e a defesa ficou a cargo de cada uma das cores.
- Minhas senhoras estamos aqui para decidir o novo lugar que as diferentes cores irão ocupar no Universo. Podemos começar pela cor BRANCA.
- E de que deseja que eu fale?
- Podes dizer as tuas razões para ocupares mais espaço no universo!
- Eu sou o símbolo da paz, da inocência, da pureza original. Transmito paz, harmonia, tranquilidade - disse a cor branca em voz pausada e tranquila.
-Também simbolizo a paz e a harmonia! Diz a cor AZUL indignada.
- Pois eu represento a vida, a acção, a guerra, alegria, movimento! Diz o vermelho em voz bem alta.
- Estou associado à noite, à tristeza e ao luto. Diz a cor preta em voz pausada e monótona.
E cada cor lá continuou a esgrimir os seus argumentos com os quais procuravam convencer o Criador a conceder-lhes uma quota maior na Sociedade Colorida do Universo. O Criador foi escutando … e se inicialmente escutava interessado foi-se desligando e acabou por adormecer!
- Eu sou a mais importante! gritavam todas as cores em uníssono…. Entretanto entraram em luta atirando rajadas de cores em todos os sentidos da sala! Os gritos e as rajadas acordaram o Criador que ficou furioso com tal desordem!
- Como castigo todas irão conviver harmoniosamente e ao lado umas das outras no arco-íris!
E assim reza a lenda que explica a criação do arco-íris pelo Criador do Universo.
Um arco-íris por SMS
Sempre que vejo um arco-íris pendurado no céu, pego no telemóvel e escrevo "O arco-íris que está no céu é para ti" e depois dedico-o, via sms, a alguém. De cada vez que o faço sinto-me 50% pateta ... e 100% feliz.
"OVER THE RAINBOW"
Para o Zé Pedro e a Luísa
Na quinta-feira temática, os Faroleiros, tal como os Mosqueteiros respondem à chamada...desta vez, foi o tema proposto pela Henriqueta, que nos reuniu à volta do "Arco-Íris". Por razões de saúde, o texto que desejava escrever acabou por não nascer...mas vou falar um pouco dele.
Chamava-se "O Vale do Arco-Íris" e tinha a fazer-lhe companhia o piano de Keith Jarrett enviando para o azul do céu o tema "over the rainbow", é claro que o espaço onde se iria passar o final da história...seria retirado de "Brigadoon"(A Lenda dos Beijos Perdidos) de Vincent Minnelli e a sua coreografia acabaria por encher de colorido as palavras dos nossos heróis.
Ele chamava-se Peter e ela Megan, viviam em Whiteblack Town, uma pequena povoação perdida nas Montanhas Rochosas, perto de Yosemith e onde chovia diáriamente, já fazia uma decada, como se de uma maldição se tratasse. Nessa cidade não existia crime ou pobreza, apenas "bem estar" baseado no politicamente correcto, e no entanto Peter e Megan sentiam o vazio das suas vidas sem sentido, pois antes de dizerem ou escreverem uma palavra, os seus interlocutores, já estavam ao corrente dela, exibindo sorrisos forçados no rosto. Na verdade o sentido das suas vidas, era uma estrada para lugar nenhum, uma rua sem saída, um beco inexistente.
Um dia, Peter conheceu um esquilo, possivelmente um primo afastado do Bichinho, e ofereceu-lhe abrigo na sua casa, mas os pais depois de o castigarem, deram-lhe oito horas para se livrar do maravilhoso esquilo.
Nessa mesma noite encontrou-se com Megan, debaixo do velho carvalho que insistia em permanecer na Main Street, e num impulso, partiram para lado nenhum...sabiam apenas que nunca mais poderiam regressar a casa. E caminharam até já não sentirem os pés e adormeceram, junto a um pequeno ribeiro, completamente exaustos.
No dia seguinte ao acordarem, repararam que o esquilo tinha desaparecido, mas o fundo do pequeno ribeiro era visí vel, devido à transparência das águas, e nele haviam tonalidades desconhecidas. A pouco e pouco Peter e Megan foram habituando o olhar ás desconhecidas cores que surgiam em seu redor. Era certo o mistério que rodeava o nome daquelas tonalidades e a sua beleza quase os cegava. Por fim Peter segurou na mão de Megan e juntos continuaram a descida, ao longo do pequeno ribeiro, até que por fim, avistaram um vale meio escondido nas brumas...e de súbito surgiu radioso o Arco-Íris, ao mesmo tempo que pequenas sonoridades cristalinas, oriundas de um piano maravilhoso, os conduzia a Brigadoon...over the rainbow.
(Como diria o meu amigo Zé Pedro para a Joana Falcão..."aqui fica o esqueleto da história", agora tenho que ir procurar a Luísa, que está, já vão três semanas, no bar da fnac/Colombo, à espera que aqueles dois preguiçosos, decidam o seu destino)
PS- Nota do Editor: Que eu saiba o preguiçoso só é um, pois a "bola" está do seu lado, meu caro amigo, mas tendo em conta o estado de saúde do Bichinho, vou ser tolerante...tem mais uma semanita, para passar a bola, para o outro lado do Arco-Íris!
Para o Zé Pedro e a Luísa
Na quinta-feira temática, os Faroleiros, tal como os Mosqueteiros respondem à chamada...desta vez, foi o tema proposto pela Henriqueta, que nos reuniu à volta do "Arco-Íris". Por razões de saúde, o texto que desejava escrever acabou por não nascer...mas vou falar um pouco dele.
Chamava-se "O Vale do Arco-Íris" e tinha a fazer-lhe companhia o piano de Keith Jarrett enviando para o azul do céu o tema "over the rainbow", é claro que o espaço onde se iria passar o final da história...seria retirado de "Brigadoon"(A Lenda dos Beijos Perdidos) de Vincent Minnelli e a sua coreografia acabaria por encher de colorido as palavras dos nossos heróis.
Ele chamava-se Peter e ela Megan, viviam em Whiteblack Town, uma pequena povoação perdida nas Montanhas Rochosas, perto de Yosemith e onde chovia diáriamente, já fazia uma decada, como se de uma maldição se tratasse. Nessa cidade não existia crime ou pobreza, apenas "bem estar" baseado no politicamente correcto, e no entanto Peter e Megan sentiam o vazio das suas vidas sem sentido, pois antes de dizerem ou escreverem uma palavra, os seus interlocutores, já estavam ao corrente dela, exibindo sorrisos forçados no rosto. Na verdade o sentido das suas vidas, era uma estrada para lugar nenhum, uma rua sem saída, um beco inexistente.
Um dia, Peter conheceu um esquilo, possivelmente um primo afastado do Bichinho, e ofereceu-lhe abrigo na sua casa, mas os pais depois de o castigarem, deram-lhe oito horas para se livrar do maravilhoso esquilo.
Nessa mesma noite encontrou-se com Megan, debaixo do velho carvalho que insistia em permanecer na Main Street, e num impulso, partiram para lado nenhum...sabiam apenas que nunca mais poderiam regressar a casa. E caminharam até já não sentirem os pés e adormeceram, junto a um pequeno ribeiro, completamente exaustos.
No dia seguinte ao acordarem, repararam que o esquilo tinha desaparecido, mas o fundo do pequeno ribeiro era visí vel, devido à transparência das águas, e nele haviam tonalidades desconhecidas. A pouco e pouco Peter e Megan foram habituando o olhar ás desconhecidas cores que surgiam em seu redor. Era certo o mistério que rodeava o nome daquelas tonalidades e a sua beleza quase os cegava. Por fim Peter segurou na mão de Megan e juntos continuaram a descida, ao longo do pequeno ribeiro, até que por fim, avistaram um vale meio escondido nas brumas...e de súbito surgiu radioso o Arco-Íris, ao mesmo tempo que pequenas sonoridades cristalinas, oriundas de um piano maravilhoso, os conduzia a Brigadoon...over the rainbow.
(Como diria o meu amigo Zé Pedro para a Joana Falcão..."aqui fica o esqueleto da história", agora tenho que ir procurar a Luísa, que está, já vão três semanas, no bar da fnac/Colombo, à espera que aqueles dois preguiçosos, decidam o seu destino)
PS- Nota do Editor: Que eu saiba o preguiçoso só é um, pois a "bola" está do seu lado, meu caro amigo, mas tendo em conta o estado de saúde do Bichinho, vou ser tolerante...tem mais uma semanita, para passar a bola, para o outro lado do Arco-Íris!
Um Arco Íris
Percorremos caminhos
Vislumbramos rotas
Paramos
Recomeçamos num lugar qualquer
Sem eu, sem ti
Nós.
Mergulhamos os nossos corpos
Num arco íris de cores imaginárias
Fusão emocional
Temperamental
Tão nossa.
Enquanto o amarelo aquece
Para que não tropecemos no frio
Adormeçamos no vulcão
Eterna erupção
Revolução
Do nosso sentir.
O quadro é de Georgia O'Keeffe e tem o nome de "Yellow Calla".
Percorremos caminhos
Vislumbramos rotas
Paramos
Recomeçamos num lugar qualquer
Sem eu, sem ti
Nós.
Mergulhamos os nossos corpos
Num arco íris de cores imaginárias
Fusão emocional
Temperamental
Tão nossa.
Enquanto o amarelo aquece
Para que não tropecemos no frio
Adormeçamos no vulcão
Eterna erupção
Revolução
Do nosso sentir.
O quadro é de Georgia O'Keeffe e tem o nome de "Yellow Calla".
A 125 Azul
Música: João Gil
Letra: Luís Represas
Foi sem mais nem menos
Que um dia selei a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para abalar sem destino nenhum
Foi sem graça nem pensando na desgraça
Que eu entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
P'ra insistir na companhia
O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta
Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes, sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar
Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre
Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar
De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu
Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre
Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar
Foi sem mais nem menos
Que um dia selou a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que partiu sem destino nenhum
Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer
Mas Deus leva os que ama
Só Deus tem os que mais ama
Música: João Gil
Letra: Luís Represas
Foi sem mais nem menos
Que um dia selei a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que me deu para abalar sem destino nenhum
Foi sem graça nem pensando na desgraça
Que eu entrei pelo calor
Sem pendura que a vida já me foi dura
P'ra insistir na companhia
O tempo não me diz nada
Nem o homem da portagem na entrada da auto-estrada
A ponte ficou deserta nem sei mesmo se Lisboa
Não partiu para parte incerta
Viva o espaço que me fica pela frente e não me deixa recuar
Sem paredes, sem ter portas nem janelas
Nem muros para derrubar
Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre
Curiosamente dou por mim pensando onde isto me vai levar
De uma forma ou outra há-de haver uma hora para a vontade de parar Só que à frente o bailado do calor vai-me arrastando para o vazio E com o ar na cara, vou sentindo desafios que nunca ninguém sentiu
Talvez um dia me encontre
Assim talvez me encontre
Entre as dúvidas do que sou e onde quero chegar
Um ponto preto quebra-me a solidão do olhar
Será que existe em mim um passaporte para sonhar
E a fúria de viver é mesmo fúria de acabar
Foi sem mais nem menos
Que um dia selou a 125 azul
Foi sem mais nem menos
Que partiu sem destino nenhum
Foi com esperança sem ligar muita importância àquilo que a vida quer Foi com força acabar por se encontrar naquilo que ninguém quer
Mas Deus leva os que ama
Só Deus tem os que mais ama
Falar do arco íris é falar daquele tesouro perdido no fundo daquela risca linda de cores que nos distrai na paisagem entre o aguaceiro e o sol.
É ainda falar de cores. É construir um “tesouro” nosso, pessoal.
Vermelho de vida
Laranja de vitalidade
Amarelo de inteligência e alegria
Verde de amizade
Azul celeste de paz
Azul índigo de evolução
Violeta de transformação.
Entre poetas, lágrimas, chuva, risos, sol, cores, potes de ouro, estradas, vida, um arco íris para ti!
É ainda falar de cores. É construir um “tesouro” nosso, pessoal.
Vermelho de vida
Laranja de vitalidade
Amarelo de inteligência e alegria
Verde de amizade
Azul celeste de paz
Azul índigo de evolução
Violeta de transformação.
Entre poetas, lágrimas, chuva, risos, sol, cores, potes de ouro, estradas, vida, um arco íris para ti!
2004-01-14
As cores do Arco Irís.... e o seu tesouro...
Esse dia amanheceu cinzento,
Ao longo do dia essa cor negra e fria foi-se impregnando na minha alma fazendo com que eu me sentisse ainda mais escura e gelada que o cinzento que testemunhei logo pela manhã...
Amaldiçoei o dia,
Roguei pragas à cor do céu,
Desculpei o meu mau humor na metereologia,
Senti-me miserável
Acreditando que todos os desaires do meu dia eram os piores do universo
Acreditei que ter perdido o autocarro
Era o pior que podia acontecer,
Acreditei que não ter saído a lotaria a mim
Era azar a mais,
Acreditei que manchar a blusa com o café com o qual já tinha escaldado a boca
Era a maior vergonha,
Acreditei também que o facto do chefe me ter chamado à atenção
Era uma humilhação terrível,
Acreditei ainda que o meu marido já não olhava para mim
Só por não ter comentado o meu penteado novo!
Saí à varanda,
Sob o cinzento que ainda morava lá no céu consegui vislumbrar (apesar da minha dificuldade), as vivas cores que formavam um belo arco-irís
Pesadamente sentei-me na cadeira que me permitiria um merecidíssimo descanso ou uma exigida e urgente reflexão....
Fechei os olhos...
Uma a uma fui apreciando as cores daquele arco-irís que (propositadamente) tropeçou na minha mente escurecida,
Uma a uma, as cores foram desfilando perante a minha alma,
Uma a uma, foram colorindo o meu pensamento...
Finalmente permiti-me viver o dia!
Repensei cada momento e a cada tropeção sorri-me do suposto desastre....
De repente um toque carinhoso roçava no meu braço que logo se arrepiou e, por momentos fiquei ainda de olhos fechados achando que era o tal tesouro que se encontra no fim do arco-irís....
Saboreei e receei abrir os olhos....
Quando finalmente o fiz
A tempestado do dia tinha-se esvanecido
O arco-irís tinha-se recolhido ...
deixando as suas cores gravadas no olhar do meu filho que me fixava e que com a sua vozinha carinhosa me dizia:
"mãe... estás triste?... não fiques assim, tu és linda... vem brincar comigo!"
Sorri e abracei o tesouro que é o meu arco-irís!!!
Susana Fernandes
Esse dia amanheceu cinzento,
Ao longo do dia essa cor negra e fria foi-se impregnando na minha alma fazendo com que eu me sentisse ainda mais escura e gelada que o cinzento que testemunhei logo pela manhã...
Amaldiçoei o dia,
Roguei pragas à cor do céu,
Desculpei o meu mau humor na metereologia,
Senti-me miserável
Acreditando que todos os desaires do meu dia eram os piores do universo
Acreditei que ter perdido o autocarro
Era o pior que podia acontecer,
Acreditei que não ter saído a lotaria a mim
Era azar a mais,
Acreditei que manchar a blusa com o café com o qual já tinha escaldado a boca
Era a maior vergonha,
Acreditei também que o facto do chefe me ter chamado à atenção
Era uma humilhação terrível,
Acreditei ainda que o meu marido já não olhava para mim
Só por não ter comentado o meu penteado novo!
Saí à varanda,
Sob o cinzento que ainda morava lá no céu consegui vislumbrar (apesar da minha dificuldade), as vivas cores que formavam um belo arco-irís
Pesadamente sentei-me na cadeira que me permitiria um merecidíssimo descanso ou uma exigida e urgente reflexão....
Fechei os olhos...
Uma a uma fui apreciando as cores daquele arco-irís que (propositadamente) tropeçou na minha mente escurecida,
Uma a uma, as cores foram desfilando perante a minha alma,
Uma a uma, foram colorindo o meu pensamento...
Finalmente permiti-me viver o dia!
Repensei cada momento e a cada tropeção sorri-me do suposto desastre....
De repente um toque carinhoso roçava no meu braço que logo se arrepiou e, por momentos fiquei ainda de olhos fechados achando que era o tal tesouro que se encontra no fim do arco-irís....
Saboreei e receei abrir os olhos....
Quando finalmente o fiz
A tempestado do dia tinha-se esvanecido
O arco-irís tinha-se recolhido ...
deixando as suas cores gravadas no olhar do meu filho que me fixava e que com a sua vozinha carinhosa me dizia:
"mãe... estás triste?... não fiques assim, tu és linda... vem brincar comigo!"
Sorri e abracei o tesouro que é o meu arco-irís!!!
Susana Fernandes
As cores dos sentidos
# É a dor dos teus olhos verdes nos meus que mais me fere.
Impotente, canto como uma cigarra enganando a minha fome.
# Passo noites brancas recordando momentos que não vivi durante o dia.
Rasgo memórias imaginárias e só assim preencho este vazio em que me afogo.
# A imensidão do azul à minha frente dá-me a mesma calma que o calor da tua mão pousada na minha.
Feliz quem vive em maré cheia.
# Percorro os arrepios da tua pele. São as pequenas imperfeições que atraem o vermelho dos meus beijos.
Pudera eu beijar-te a alma e não encontraria onde pousar os lábios.
# O ciúme adquire a sua face mais doentia - o amarelo náusea. Persigo-te os movimentos e tento penetrar na tua mente à força de tanto te olhar.
Indiferente, segues o teu caminho que eu espio, tentando descobrir o que não quero saber.
pintura de Marco Vangelisti
Colapso
Tudo está
eternamente
escrito
(Spinosa)
Tudo está
eternamente
em Quito
(Uma Rosa)
Mário CesarinyManual de Prestidigitação
in poemário Assírio & Alvim
Na net somos melhores ...
Não sei se já repararam mas na net as pessoas são mais compreensivas. Quando entro num chat e após filtrar os "puro engate" facilmente encontro alguém com disponibilidade para me ouvir. Alguém que compreende os meus sentimentos, que me encoraja e que me dá bons conselhos.
Na vida real, ou off-line, as pessoas estão sempre com pressa. Criticam mais que amparam, falam mais que ouvem, desconfiam mais que confiam.
Na net dizem-me, no final de uma conversa – "Gostei muito de falar contigo" ou "espero voltar a ver-te" ou mesmo "é tão bom falar com alguém que me entende". Off-line esse tipo de frases era imposivel. Levo com um "ciao" ou um instituicional "prazer em conhecer-te".
As pessoas que andam na net serão melhores ?
O engraçado é que já conheço pessoalmente muitas pessoas cujo primeiro contacto foi na net. E mesmo com as pessoas, de entre essas, que considero amigas, a conversa flui de forma diferente estejamos on line ou off line. Na net os sentimentos fluem mais facilmente. As pessoas são mais simpáticas, mais atenciosas. Também já me aconteceu a situação contrária – pessoas que conheci cá fora, e com quem troco agora mails ou falo num chat. E também nestes casos, por vezes, a conversa cibernauta resulta melhor.
Num mail a sinceridade é maior.
Daqui poder-se-ia partir para uma análise sociológica que não vem agora ao caso. O que eu penso é, e ao contrário do que se poderá pensar à primeira vista, na net as pessoas são mais sinceras. Quando me dizem "gostei muito de falar contigo", gostaram mesmo. E quando na vida real falam comigo e gostam (será que gostam ?) não o dizem, retraem-se.
Na net somos mais compreensivos, disponíveis e sinceros. E somos mais nós próprios. Ou seja: na verdade nós somos melhores que aparentamos, nós, cá dentro, somos muito mais bonitos do que o mostramos às pessoas com quem convivemos no dia a dia. E, não poucas vezes, essas são as pessoas de quem mais gostamos.
Como prova do que digo, e podem gostar desta crónica ou não, eu nunca seria tão sincero se não estivesse a escrever. Nunca diria estas palavras de viva voz ...
E realmente, é cheio de remorso que confesso que enquanto escrevia esta crónica para a minha página na net, o meu filho veio-me chamar para brincar e levou uma corrida ...
Pedro Farinha
Não sei se já repararam mas na net as pessoas são mais compreensivas. Quando entro num chat e após filtrar os "puro engate" facilmente encontro alguém com disponibilidade para me ouvir. Alguém que compreende os meus sentimentos, que me encoraja e que me dá bons conselhos.
Na vida real, ou off-line, as pessoas estão sempre com pressa. Criticam mais que amparam, falam mais que ouvem, desconfiam mais que confiam.
Na net dizem-me, no final de uma conversa – "Gostei muito de falar contigo" ou "espero voltar a ver-te" ou mesmo "é tão bom falar com alguém que me entende". Off-line esse tipo de frases era imposivel. Levo com um "ciao" ou um instituicional "prazer em conhecer-te".
As pessoas que andam na net serão melhores ?
O engraçado é que já conheço pessoalmente muitas pessoas cujo primeiro contacto foi na net. E mesmo com as pessoas, de entre essas, que considero amigas, a conversa flui de forma diferente estejamos on line ou off line. Na net os sentimentos fluem mais facilmente. As pessoas são mais simpáticas, mais atenciosas. Também já me aconteceu a situação contrária – pessoas que conheci cá fora, e com quem troco agora mails ou falo num chat. E também nestes casos, por vezes, a conversa cibernauta resulta melhor.
Num mail a sinceridade é maior.
Daqui poder-se-ia partir para uma análise sociológica que não vem agora ao caso. O que eu penso é, e ao contrário do que se poderá pensar à primeira vista, na net as pessoas são mais sinceras. Quando me dizem "gostei muito de falar contigo", gostaram mesmo. E quando na vida real falam comigo e gostam (será que gostam ?) não o dizem, retraem-se.
Na net somos mais compreensivos, disponíveis e sinceros. E somos mais nós próprios. Ou seja: na verdade nós somos melhores que aparentamos, nós, cá dentro, somos muito mais bonitos do que o mostramos às pessoas com quem convivemos no dia a dia. E, não poucas vezes, essas são as pessoas de quem mais gostamos.
Como prova do que digo, e podem gostar desta crónica ou não, eu nunca seria tão sincero se não estivesse a escrever. Nunca diria estas palavras de viva voz ...
E realmente, é cheio de remorso que confesso que enquanto escrevia esta crónica para a minha página na net, o meu filho veio-me chamar para brincar e levou uma corrida ...
Pedro Farinha
2004-01-12
e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia.
Al Berto
Fotografia de Margarida
O Último Samurai
Um filme que dispensa apresentações, pois tem tido imensa cobertura por
todos os "media".
Nathan, Tom Cruise, é um soldado americano, um pouco infeliz na vida,
divide-se entre um passado corajoso e heróico na luta contra os índios, mas
também se debate em consciência com a morte de milhares de inocentes.
É contratado para ir para o Japão ensinar as artes do combate, numa fase em
que a espada dá lugar à espingarda. O poder dos samurais está posto em
causa, mas ao ser capturado por estes, Nathan aprende uma nova filosofia de
vida. A disciplina, regras, as místicas tradições guerreiras de uma elite em
extinção.
Um filme de acção/guerra que se vê muito bem!
Um bom desempenho de Tom Cruise, mas será desta o óscar? Eu tenho as minhas
dúvidas, se calhar deveria ter vindo no Nascido a 4 de Julho ou em Magnolia!
Destaque para o actor Ken Watanabe (Katsumoto) que veste lindamente a "pele"
do último Samurai.
Um filme que dispensa apresentações, pois tem tido imensa cobertura por
todos os "media".
Nathan, Tom Cruise, é um soldado americano, um pouco infeliz na vida,
divide-se entre um passado corajoso e heróico na luta contra os índios, mas
também se debate em consciência com a morte de milhares de inocentes.
É contratado para ir para o Japão ensinar as artes do combate, numa fase em
que a espada dá lugar à espingarda. O poder dos samurais está posto em
causa, mas ao ser capturado por estes, Nathan aprende uma nova filosofia de
vida. A disciplina, regras, as místicas tradições guerreiras de uma elite em
extinção.
Um filme de acção/guerra que se vê muito bem!
Um bom desempenho de Tom Cruise, mas será desta o óscar? Eu tenho as minhas
dúvidas, se calhar deveria ter vindo no Nascido a 4 de Julho ou em Magnolia!
Destaque para o actor Ken Watanabe (Katsumoto) que veste lindamente a "pele"
do último Samurai.