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2004-04-30

 
Tortura no Iraque

O escândalo de tortura no Iraque, protagonizado por soldados norte-americanos, causa-me horror, mas não me surpreende. Fazem-me lembrar fotos que, na juventude, me foram mostradas, como troféus, por um cabo do nosso exército que andou na guerra em Angola. E, garanto, bem piores do que as que nos foram mostradas agora pela comunicação social. É assim. O ser humano, quando mal formado, pertença a que Estado for, milite em que guerra seja, é o pior inimigo de si mesmo. Quando é que os valores ditos de imutáveis, e em particular o direito à dignidade, entram no léxico e comportamento de todos, participantes iguais desta aldeia, cada vez mais, global?


 
Coisas sem sentido

O meu PC resolveu fazer greve e eu, como democrata que sou, deixei-o em paz. Mas, como patrão e viciado no teclado, ao cabo do primeiro dia já roía as unhas e andava de um lado para o outro, matutando sobre a minha permissividade. A meio do segundo dia, ameacei-o com o despedimento por justa causa e, no seguinte, de o atirar do segundo andar do escritório, entregando-me, de seguida, à Justiça. Ao quarto dia passei-me de vez e fui a vias de facto. Escuso de reproduzir cenas tristes, mas ele lá tugiu, engasgado, dando alguns sinais hesitantes de retoma do trabalho. Mais uns abanões, ameaças explícitas em português vernáculo e pronto. Fim da greve. Assim é que é. Patrão é patrão e trabalhador faz o que se lhe manda e ponto final.
Ponto final mesmo?!... Como dependo do meu empregado, que apesar de maltratado, tem de me merecer confiança, fico com a intrigante sensação de que alguma coisa não está bem. Bato as teclas furiosamente e a escrita sai escorreita, palavra por palavra, com vírgulas e pontos no sítio certo. Mas não sei se o texto faz sentido. Ou será que fui eu que fiquei traumatizado e fora do contexto? No primeiro caso, uma crónica sobre pedofilia concluiu pela inocência de todos os detidos, por ausência de prova, e a sua libertação por alturas do Euro2004. Noutra, logo após o Euro2004 e da conquista do título pela equipa das quinas, foram retiradas as medidas de coacção aos implicados no caso “apito dourado” para evitar a manietação da maioria da classe política e, consequentemente, ficarmos sem Governo e Assembleia da República. Finalmente, uma notícia sobre o alargamento da UE, que escrevinhei com todo o cuidado, rezou assim: “A cerimónia que deveria ocorrer no próximo Domingo, foi antecipada para Sábado, em virtude da realização do derby lisboeta Sporting-Benfica, cuja importância internacional poderia ofuscar o brilho do acto de adesão”.
Realmente, há aqui qualquer coisa que não me agrada... E que não bate mesmo certo.

 
Cannes #5



2046
De Wong Kar-Wai, uma história de amor e de ficção cientifica, numa China do futuro. O realizador traz-nos de novo o casal de Disponível para amar.

2004-04-29

 
Muitos Parabéns !


Pois é, hoje faz anos a faroleira Susana. Um dia muito feliz e tudo de bom.

 



Cannes #4

The Motorcycle Diaries
Do brasileiro Walter Salles chega-nos a juventude de Che Guevara, numa viagem de moto que este líder fez com um amigo Alberto Granado. Che é protagonizado pelo actor Gael Garcia Bernal.

2004-04-28

 



Acordo com o teu nome nos
meus lábios - amargo beijo

esse que o tempo dá sem
aviso a quem não esquece

Maria do Rosário Pedreira em "Nenhum nome depois"

 
Cannes #3



The Ladykillers
De Joel e Ethan Coen, um remake de uma velha comédia de 1955. Tom Hanks protagoniza. Está prometida desde já uma grande dose de humor.

2004-04-27

 


Corto Maltese na Sibéria

Transformar a famosa personagem de banda desenhada, criada por Hugo Pratt em 1967, Corto Maltese - o marinheiro romântico do brinco na orelha, numa personagem de filme animado, representava um tremendo desafio, mas também um sonho para Pascal Morelli.

Na verdade, e apesar do estilo marcadamente cinamatográfico de Hugo Pratt, era difícil imaginar como conseguir todo aquele espaço, aquelas pausas e as conversas dúbias e plenas de referências, num filme animado.

Acabei de ver o filme que saiu recentemente no mercado nacional e acho que foi conseguido o possível. A história é respeitada integralmente e as aguarelas que preenchem parte dos cenários bem como os fumos e as névoas criadas pelos desenhadores resultam muito bem, conseguindo criar a atmosfera "prattiana". Mas há qualquer coisa que parece que falta... acho que é a magia e o preto e branco.



 
Cannes #2



La Mala Educación
O filme de abertura do festival, fora de competição.
Almodóvar explora temas polémicos, a pedofilia, o abuso do poder da Igreja, sexo. Dois amigos vítimas de abuso sexual de padres, encontram-se muitos anos depois. Gael Garcia Bernal protagoniza.

2004-04-26

 


Fantasia para dois coronéis e uma piscina

Este romance de Mário de Carvalho , contado de forma particular, com alguma cumplicidade com o leitor e uma piscadela de olho ao estilo literário de Saramago, conta-nos a história de dois coronéis que se retiram para montes no baixo Alentejo e se dedicam, entre outras coisas, a manter uma piscina impecável apesar de nunca ter sido usada para além do dia da inauguração.

É um livro pleno de critica social, muito bom humor e de agradável leitura. Não passa no entanto disso.

E foi assim que o jovem Emanuel, uma bela tarde, chegou no seu Renault Quatro ao monte do coronel Bernardes, alvoroçou um novelo de galinhas em estrédula revoada e deu duas buzinadelas a preceito. Após, saiu do carro, encheu o peito de ar, admirou as casas e os horizontes e ficou à espera. Alto, desengonçado, com um cabelo espigado, às farripas e uma cara agaiatada, de traquinice benigna, não ficava mal na paisagem.
Não tardaram o coronel e, mais tarde, Maria das Dores.
Foi tratado por ele paternalmente, e por ela talvez mais maternalmente do que seria apropriado.

 



Cannes #1

De 12 a 23 de Maio, realiza-se o talvez mais importante Festival de Cinema, o de Cannes, já indo na 57ª edição.

Destacam-se, alguns, nomes já nossos conhecidos Emir Kusturica – La vie est un miracle; Joel e Ethan Coen – The Ladykillers, Wong Kar-Wai – 2046, Michael Moore – Fahrenheit 9/11, Irwin Winkler – De-Lovely, do Brasil - de Walter Salles – The Motorcycle Diaries e da Dreamworks – Shrek2 que promete arrasar!

Fora de competição a abrir o festival estará o filme de Almodóvar – La Mala Educación, e a encerrar o filme de Irwin Winkler – De-Lovely.
Quem presidirá ao Júri é Quentin Tarantino

2004-04-25

 



BELLEVILLE RENDEZ-VOUS
Les Triplettes de Belleville

É mais que um filme animado….é soberbo!
Madame Souza portuguesa, vive em Paris com o seu melancólico neto. Tudo faz para lhe agradar desde comprar Bruno, um cão, até descobrir a paixão do seu pequeno neto – o ciclismo.
Uns anos mais tarde o neto é raptado por mafiosos, e a avó parte parte com o cão na busca do seu querido neto numa grande aventura. Encontra por acaso, umas idosas que no passado foram famosas cantoras, que a vão ajudar no salvamento.
O filme não tem legendas apenas o som nos guia, através das imagens, pelo desenrolar dos acontecimentos, mas está genial. Impossível sair de uma sala de cinema sem estalar os dedos cantarolando o grande êxito das jovens Triplettes de Belleville. Soberbo! Sublime! A não perder!

 
Criança de Abril
post escrito para o Barnabé

Recordo acima de tudo o transformar das expressões dos meus pais. Do ar preocupado à gargalhada não reprimida. Lembro-me ainda de os ver, brilho nos olhos, a ir buscar discos proibidos que apenas nos era permitido ouvir baixinho...

Mas aquilo que lembro e me cravou a minha infância de Abril, são momentos que se deram depois, marcas que não se desvanecem apesar de ter dificuldade em os seguir cronologicamente. Uma birra monumental dos meus seis anos por não me deixarem ir ao primeiro 1º de Maio e o orgulho de, já que tinha ficado em casa da minha avó, me terem "alfinetado" um cravo vermelho ao peito.

Lembro-me de ter assistido a sessões de esclarecimento (era assim que se chamavam) que eram acima de tudo uma festa, com o Zeca Afonso em Porto Salvo, ou mais tarde com o G.A.C do Zé Mário Branco. Ainda nas memórias musicais, e políticas, recordo uma festa após uma ocupação de casas no Monte Estoril com o José Barata Moura e a pequenada, de que eu fazia parte, a cantar com a mesma alegria o "Come a papa Joana", como noutros dias cantávamos "A cantiga é uma arma" ou a "Grândola".

A casa onde eu vivia passou a ter um corropio de gente que eu não conhecia e que brincava, ainda, à clandestinidade. As mesmas pessoas que tinham um nome com que eu as cumprimentava quando nos cruzávamos nos cafés, eram nesses momentos tratadas por outros nomes... e as saídas de casa faziam-se intervaladas de dez minutos para não levantar suspeitas. Suspeitas ? Na minha rua, cheia de meninos do MIRN, todos nos chamavam Comunas e conheciam bem a nossa "cor".

Recordo Abril com a ingenuidade de uma criança. Mas sei que essa vivência que tive tão novo, me marcou mais profundamente do que ouso admitir.

 
Hoje a blogoesfera acordou vestida de cravos vermelhos

2004-04-24

 



Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós .




2004-04-23

 



Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.

Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo cualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.

 


R de Revolução

Trinta anos depois querem tirar o r
se puderem vai a cedilha e o til
trinta anos depois alguém que berre
r de revolução r de Abril
r até de porra r vezes dois
r de renascer trinta anos depois

Trinta anos depois ainda nos resta
da liberdade o l mas qualquer dia
democracia fica sem o d .
Alguém que faça um f para a festa
alguém que venha perguntar porquê
e traga um grande p de poesia.

Trinta anos depois a vida é tua
agarra as letras todas e com elas
escreve a palavra amor (onde somos sempre dois)
escreve a palavra amor em cada rua
e então verás de novo as caravelas
a passar por aqui: trinta anos depois

Manuel Alegre

Foto tirada daqui

 
Livros.... escritores .... poetas... um escritor Português: Sebastião da Gama

Hoje irei comemorar o Dia Mundial do Livro assistindo a uma Conferência com a participação da viúva de Sebastião da Gama.
Para recordar esse poeta deixo aqui um poema dele que quase todos já conhecemos, mas que é sempre actual!

O Sonho



Pelo Sonho é que vamos,

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não haja frutos,

pelo sonho é que vamos.



Basta a fé no que temos,

Basta a esperança naquilo

que talvez não teremos.

Basta que a alma demos,

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e do que é do dia-a-dia.



Chegamos? Não chegamos?



- Partimos. Vamos. Somos.


Sebastião da Gama


 
OFERTA DE LIVROS NO DIA MUNDIAL DO LIVRO

Hoje, dia 23 de Abril, comemora-se o Dia Mundial do Livro!
Diversos organismos estão a oferecer livros
O Instituto Português do Livro e das Bibliotecas divulga a seguinte iniciativa no seu site :
"De manhã e ao fim da tarde, no café e no autocarro, há? um conto ? sua espera. Cinco cores para cinco autores: Alice Vieira, José Luís Peixoto, Luísa Costa Gomes, Rui Zink e Vasco Graça Moura.
Cinco livros, cinco contos que vão ser distribuídos hoje em Lisboa, no Porto e em Coimbra. Na capital, durante a manhã? e o final da tarde, alunos de teatro do Conservatório vão andar de transportes públicos. Transportam a leitura. Fazem-lhe chegar um livro feito para celebrar este dia. Se não se cruzar com os livros nos transportes, vá? ter com eles: na baixa de Lisboa, em frente ao café? Nicola, entre as 9 e as 11 da manhã?. No Porto, vá? beber um cimbalino ao Magestic e, antes de entrar, aceite um livro. Em Coimbra passe perto café? Nicola e leve para casa um conto.
Nas bibliotecas da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas há muitos livros para dar hoje, 23 de Abril, Dia Mundial do Livro."


A edição de hoje do Diário de Notícias oferece um livro !


Boas leituras!


2004-04-22

 
Última Hora

A faroleira Filomena ganhou um prestigiado concurso de um não menos prestigiado blog. Saiba tudo aqui.

 
Os poetas que Abril abriu #4

De coração e raça

Sou português de coração e raça
Meio século comido pela traça
Fechados numa caixa
E agora ou vai ou racha
E agora ou vai ou racha

Agora vamos é ser
Donos do nosso trabalhar
Em vez de andar para alugar
Com escritos na camisa
E o dinheiro que desliza
Do salário p'ra despesa
Compro cama vendo mesa
deito contas à pobreza.

Sou português de coração e raça
Meio século comido pela traça
Fechados numa caixa
E agora ou vai ou racha
E agora ou vai ou racha

Agora vamos é ser
Donos do nosso produzir
Em vez de ter de partir
Com escritos numa mala
E a idade que resvala
Do nascimento p'ra morte
Vou p'ró leste perco o norte
E o meu corpo é passaporte.

Sou português de coração e raça
Meio século comido pela traça
Fechados numa caixa
E agora ou vai ou racha
E agora ou vai ou racha.

Sérgio Godinho



 



POETA quer dizer Possesso. Não devemos confundir os artistas do verso com os criadores de Poesia. Os primeiros interessam apenas à Literatura, ao passo que os segundos têm um interesse vital e universal, como uma flor ou uma estrela.
Teixeira de Pascoaes (1877-1952)
In Aforismos
Poemário
Assírio & Alvim

 
A sabedoria das crianças!

Estava eu um dia destes sentada a explicar ao meu filho de 4 anos (depois de ele me exigir que desligasse o ferrro de engomar para conversar com ele), como se chamava a "um conjunto de".... várias coisas, como por exemplo: um conjunto de peixes - cardume; um conjunto de ovellhas - rebanho. Ao primeiro respondeu-me acertadamente; ao segundo não sabia muito bem e eu lá o ajudei... mas quando perguntei como chamaria a "um conjunto de pessoas..." manteve-se mudo e pensativo, insisti, "se estiverem muitas pessoas juntas, um grupo muito grande"... e ele bem que olhava para mim na expectativa. Eu acabei por dizer:´"é... uma... multidão!"
Aí prontamente o seu silêncio foi interrompido e diz-me muito sério e convicto: "Não, não! É mas é uma confusão!!!" É... é.... "

Palavras para quê!?!?!? :) Eles sabem....

2004-04-21

 
Um Metro de Vida de Nuno Gomes dos Santos



Uma avaria no metro. Nove pessoas encurraladas numa carruagem 2 horas...o pânico, o desespero envolvem-nos a todos. Um padre, um operário, uma empregada de escritório, um casal de namorados, um cego e o neto, uma prostituta e uma madame são surpeendidos por este acaso.

Um desilusão. A ideia era boa, mas ficamos por aqui. O conhecimento da empresa é mau, e a narrativa nada nos traz.....Parece que nada acontece e o que poderia acontecer não acontece....a evitar!


 
Sob Escuta



EVANESCENCE

My Immortal

I'm so tired of being here
Suppressed by all my childish fears
And if you have to leave
I wish that you would just leave
'Cause your presence still lingers here
And it won't leave me alone

These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time cannot erase

['horus:]
When you cried I'd wipe away all of your tears
When you'd scream I'd fight away all of your fears
I held your hand through all of these years
But you still have
All of me

You used to captivate me
By your resonating light
Now I'm bound by the life you left behind
Your face it haunts
My once pleasant dreams
Your voice it chased away
All the sanity in me

These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time cannot erase

[Chorus]

I've tried so hard to tell myself that you're gone
But though you're still with me
I've been alone all along

[Chorus]

 
O post segundo...

José Saramago


O café era como qualquer outro café que o leitor pode encontrar na cidade. Cenário provável para a entrada da rapariga, pois de uma rapariga se tratava, àquela hora da manhã. O rapaz, já sentado, café à frente e olhar pousado no infinito, era igualmente vulgar pelo que se poderia perguntar qual a razão deste post, uma rapariga a entrar num café, um rapaz a já lá estar assim como o empregado, eslavo pela certa, mas de quem não vale a pena perder tempo a descrever dado pouco ser mais que um mero figurante, ainda que louro e de olhos azuis, diria que sim, bonito, mas que na dimensão deste post, que já se alonga e ainda mais com estas palavras, não tem espaço para entrar.
A rapariga senta-se e pede um café, e o tom da sua voz faz levantar os olhos ao rapaz, olhar repentinamente desperto, pensamentos interrompidos se é que se pode dar esse nome a uma ou duas ideias difusas que lhe entretinham a mente.
A rapariga ao beber o café tem que erguer o olhar, assim como a chávena, para não entornar, e eis que os olhares se cruzam, comunicam, perguntam um ao outro, Vamos dar uma volta, responde o outro ao primeiro que sim, e ei-los levantados, os corpos que não os olhares, e saem de mãos dadas do café, deixando-me a mim e ao leitor, arredados da continuação desta história que ainda agora mal começou e já tem de terminar, tão abruptamente, regras dos posts, força da internet, ou falta de perícia do autor.


José Luís Peixoto

O café.
O rapaz dentro do café.
Os pensamentos tristes dentro do rapaz dentro do café.
Os olhos que se baixam e olham para dentro de dentro de si, sem respostas, só perguntas.

A rapariga.
A rapariga a abrir a porta do café, muito depressa e a sentar-se na cadeira de madeira puída. Na beira da cadeira, quase em desequilibro.

O empregado de um país distante ergue os olhos para a rapariga, como se fosse fazer uma pergunta. Uma pergunta que não chega a fazer pois a rapariga na sua pressa não lhe dá tempo – um café – pede.

O rapaz.
O rapaz dentro do café ouve aquela voz que lhe soa como se fosse um som muito conhecido mas muito distante. Um som que lhe faz lembrar as brincadeiras com a sua irmã mais nova ou a voz da mãe, cristalina, a chama-los para a mesa. O rapaz a levantar os olhos para ver de onde provinha aquela voz e a rapariga a erguer os olhos com a chávena na mão. Os olhos a cruzarem-se e com os olhos, a cruzarem-se as emoções, os desejos, os pensamentos e uma vontade expressa na voz da rapariga: Vamos dar uma volta.

As mãos que se dão e que se tornam o primeiro contacto entre os dois fazem surgir um sol muito forte lá fora que os recebe de braços abertos.


Mia Couto

Manhã solheira traz a moça gingando para dentro do café. O rapaz lá dentro, entregue a uns pensatristes não ergue os olhos para ela.

Ela não repara, olha para o empregado louro e acafeza-se no pedido. O rapaz, pele escura e dentes brancos, ouve naquela voz os sons da madrugada a espantar bichezas do mato. Levanta o rosto e sorri-se a boca. Entreolham-se os dois mas é ela que se levanta, com a elegância de uma gazela bailarina, e com um sorriso bota estas palavras para fora:

- Vamos dar uma volta ?

O rapaz, afirmativo, levanta-se num desassossego e saem os dois, porta fora, para a benção do pai sol.


Margarida Rebelo Pinto

Ela já vai apressada, entra no café e senta-se numa cadeira cruzando as pernas compridas e morenas, fruto de muito solário e doses maciças de creme.
Olha para o empregado, giraço, mas com cara indisfarçavel de ucraniano.

O rapaz, veste um polo vermelho e traz uns jeans azuis, desbotados que lhe ficam a matar. Tens uns olhos muito escuros daqueles que provocam arrepios quando nos olham directamente. Está sentado na mesa à frente, mergulhado em pensamentos e dores de alma e não dá pela agitação causada pela entrada intempestiva dela.

Pelo canto do olho, a rapariga olha para ele e aprecia-lhe os cabelos encaracolados em madeixas castanho escuras e, mais abaixo, os jeans bem apertados.

- Um café se faz favor.

Ao som da sua voz, ele ergue os olhos e olha para ela directamente provocando-lhe um ligeiro arrepio na espinha. Sem querer acreditar no que está a acontecer e a sentir-lhe o chão a fugir debaixo dos pés, ela dá pela sua boca se abrir, e dizer:

- Vamos dar uma volta.

Os dois saem de mãos dadas, a dele muito escura, a dela clara e bem cuidada mas ligeiramente húmida de excitação.

 
OS FUNDAMENTALISTAS


Eles nem sabem nem sonham que o sonho comanda a vida ...
começa assim a "Pedra Filosofal" não é ? ... Quem sonha sabe admitir vários cenários possiveis,mas há neste planeta seres que se consideram superiores e detentores da verdade !Já conclui que não vale a pena atribuir-lhes importância! Eles são fundamentalistas! E são eles que têm uma visão muito estreita e limitada! Prefiro tentar ser pluralista, admitir a diferença de opiniões e procurar respeita-las !

2004-04-20

 
Quem é o Carlinhos?

Sei lá quem é o Carlinhos... Fazem-me cada pergunta mais parva! Querem-me arranjar problemas com o Zéquinha, é? Mais dos que já tenho?... Mas, coitadinho do Carlinhos, nem saiu nas férias da Páscoa... Também as férias que eu passei lá para o Norte... Bem mais valia ter ficado em casa. Já contei na redacção que fiz para o sítio do amigo do meu pai e não vou contar aqui agora outra vez que já não tenho mais pachorra e paciência para falar desta Páscoa.

Para fim de festa, lá encontrei o desgraçado do Zéquinha, no primeiro dia de aulas. E quando lhe perguntei porque nunca me tinha ligado, o estúpido respondeu-me se não me lembrava que tinha atirado com o telélé dele ao chão e o tinha partido no último dia de aulas antes da Páscoa... Aí eu disse-lhe que podia ter muito bem ligado do telemóvel do pai ou da mãe, ao que ele, com um ar todo enfastiado, respondeu que não lhe tinha dado jeito... Zás! Saiu chapadão. E ficámos assim, que desta vez não lhe vou pedir desculpas. Levou, embrulhou e espero que guarde bem a marca dos dedos da minha mão, que é para ver como é.

O Carlinhos é que tem razão. Também acho que não vou casar nunca, que não tou para aturar estas coisas. Eh, eh, se calhar até me ia dar bem com o Carlinhos, pelo menos ele não tem telemóvel para eu espatifar... eh, eh. Mas se for tão parvo como o Zéquinha, zás... Não sei mesmo que é que me deu, que ando com vontade de bater em toda a gente. Deve ser alguma fase da idade... Não sei não. Ainda outro dia, vi um senhor, já com idade para ter juízo, na Televisão aos pontapés a uma mesa e a querer bater no árbitro... Ai, ai, porque ando tão violenta?!... O meu pai diz que é melhor levar-me ao psiquiatra, mas a minha mãe diz que é mesmo assim, que os homens precisam é de apanhar para ficarem nos eixos. Claro, o meu pai não se ficou... e eu fui para o meu quarto, antes que eles começassem aos gritos durante meia hora e depois a empurrarem-se para o quarto deles, aos gritinhos e risinhos. A princípio ainda pensava que iam ter uma cena de violência doméstica, mas como no dia seguinte apareciam inteiros e só com olheiras, deixei de me preocupar com o assunto. Acho que não batem bem... E depois eu é que preciso de psiquiatra, né?

Tininha

 
A Janela Secreta



Johnny Depp é Mort Rainey um escritor famoso numa pior altura da vida. Depois de descobrir que a mulher tem um amante, refugia-se numa casa isolada, e sofre o “bloqueio” de escritor. Quando tudo está mal será que poderá ficar pior? Sim! Aparece-lhe Shooter um homem estranho psicótico, vindo do Mississipi, que reclama o direito de um conto, que Rainey publicou em 1994.


Baseado num livro de Stephen King, é um filme de suspense, com óptimas interpretações, destacando-se Depp que está excelente neste personagem meio lunático, mas cheio de estilo.



Depois de ter visto O Caçador de sonhos, também baseado num livro de King, que odiei, este pelo contrário gostei bastante, cheio de suspense, põe-nos até um pouco nervosos!!! Mas afinal quem é Shooter?

2004-04-19

 
Impressões de Londres #2
Muita qualidade ou pouca produtividade

Em qualquer café londrino que se entre, por mais pequeno que seja, existem sempre três ou mais pessoas atrás do balcão. Uma a quem pedimos e pagamos e outras duas para atenderem.

Nas estações de Metro reparei que no minímo tinham três funcionários em cada átrio. Nos autocarros ainda se viam muitos revisores. Nos restaurantes os funcionários abundavam...

Na verdade tudo isto traduz-se numa maior qualidade no atendimento... mas não será também uma baixa produtividade ?

 
O 30º aniversário da REVOLUÇÃO DOS CRAVOS


Esta semana ando bem disposta! Fala-se muito do 25 de abril e as comemorações, os debates, as exposições e as edições especiais multiplicam-se! É importante recordar esse momento da história das nossas vidas e aproveitar para ficar a saber um pouco mais sobre aqueles que tiveram a coragem de dar LIBERDADE a Portugal!
Não vou dizer muito mais para não cair em repetições ... mas aproveitem esta onda!

 



A pedido de várias familias (ehehehe) aqui vos deixo o itinerário que fiz em Londres. Perguntava a Mena e viste tudo? Bem tudo tudo, não vi, afinal foram 2 dias e meio, mas valeu a pena.
Comecei por Picadilly Circus, seguindo para Trafalgar Square (onde estava o Nelson, lá no alto, rodeado de enormes leões e muitossss turistas!), segui para Chinatown e Soho, bairros bem tipicos dentro do género, parecia um mundo diferente. À noite lá tinha de ir a um espectáculo, e a escolha era variada, decidi-me pelo Fantasma da Òpera, e amei! Lindo!!!!!
Fui ver obviamente o grande Big Ben, as Casas do Parlamento, percorri Victoria’Street e Oxford Street, e fui ao Madame Tussaud ver as “vistas” que garanto que valem a pena! O Marble Arch estava entaipado, não o vi....No sábado de manhã fui ao mercado de Portobelo Road, girissimo, é no Bairro Notting Hill, lembram-se do filme? Ah pois é!!! O Sir Hugh não estava lá, vejam só a desfeita, a livraria, também pelo que soube estaria “tapada” por legumes e frutas, pronto não se pode ter tudo, afinal estive com o Hugh no Madame Tussaud, e a magia do local em Notting Hill estava lá, lembram-se das árvores? Quando as estações passam? Primavera, Inverno...Lindo! Fui à Torre de Londres, que é fascinante, o tesouro real, o misticismo de uma época, os trajes usados pelos guardas, é um ambiente fantástico. The London Bridge é igualmente imponente e fascinante. Fui ainda a Convent Garden, havia animação nas ruas, rodeadas actualmente por lojas.
Foi bom, os ingleses eram poucos, Londres está habitada por várias nacionalidades e imensos turistas! Mas os ingleses são simpáticos. Adorei, as cabines telefónicas tão características, os autocarros de dois andares, o ar que se respira, quando estaos de férias, “fora”....ficará para sempre nas minhas memórias! Valeu a pena, sim, valeu!

 
Ai como eu detesto o regresso às aulas!!

Dois dos meus colegas passaram a Páscoa no Brasil. Outros três foram às Ilhas Canárias. Vieram morenos, morenos, morenos! Mais morenos do que eu consigo ficar no final das minhas férias grandes passadas a jogar à bola lá em baixo, no pátio do prédio!

Que ódio! Apetecia-me dizer-lhes que só não estava assim tão bronzeado porque a mãe insistiu em besuntar-me com factor 40 ... mas depois podiam ir fazer perguntas ao meu irmão mais novo e de certezinha absoluta que ele se descaía dizendo que a nossa Páscoa não teve mar mas sim T.V. pela frente!!!

O meu pai ainda tentou mandar-me de férias para a casa da avó Lila, mas a avó Lila mora DOIS ANDARES abaixo do nosso!!! Decididamente a casa da avó Lila não é sítio para se passar umas férias de Páscoa !!

Como se já não bastasse eu não ter férias para contar, a Susaninha e o Luís Pedro apareceram lá na escola com um telemóvel novo. Pedi à Susaninha para ver os jogos do SIEMENS SX1, mas ela disse que NÃO, que era novo e que eu podia estraga-lo. Nunca me irei casar!!! Juro que não!! Depois, que eu saiba, não se recebem telemóveis na Páscoa, pois não??!! No Natal ou pelo aniversário, tudo bem!! ... mas na PÁSCOA????

O pai, que diz que quem manda lá em casa é ele. A mãe diz que quem manda lá em casa é o empréstimo. Não sei o porquê de o papá ainda não ter acertado as contas com esse gajo...

Carlinhos

 
O Mundo dos Vivos, Nicci French



(Um livro escrito a quatro mãos. Nicci Gerard e o seu marido Sean French, adoptaram o pseudónimo Nicci French. Têm já publicados: Killing me softly, O jogo de memória, A casa secreta, À flor da pele e o Quatro vermelho. Indispensáveis para quem goste do thriller cheio de suspense)



“Havia ainda outras hipóteses. Desagradáveis. Lembrei-me da pedra sob os meus dedos. O ar húmido, como numa cave. Até agora eram só a dor e a confusão dos meus pensamentos, mas agora havia mais qualquer coisa. O medo escorreu-me pelo peito, como lama. Emiti um som. Um gemido cavo. Conseguia falar. Não sabia quem deveria chamar, nem o que dizer. Gritei mais alto. Pensei que o eco e a aspereza do som me dissessem qualquer coisa a respeito do lugar onde me encontrava, mas tudo foi abafado pelo capuz. Gritei outra e outra vez, até a garganta me doer.”

 
Vistes como eles são simpáticos ?

É nos piores momentos que se descobrem os verdadeiros amigos, frase gasta de tanto uso, ainda que muito verdadeira. Pos é, uma pessoa esforça-se a colocar uns "posts", fazer umas perguntas, e lá um viste aparece como vistes, falha pouca, pormenor de circunstancia, muda-se da segunda pessoa do singular para o plural e as coisas ficariam por aqui.

Mas não. A simpatia impera aqui pelo Farol e logo chove um reparo, quiça uma critica construtiva, que eu muito agradeço, do Miklos. Mas a simpatia não fica por aqui. A Henriqueta e a Mena, amigas insubstituíveis, conhecedoras da minha ausência em Londres logo acorrem em defesa do meu lapsus linguae.

O José Alexandre Ramos, permite ainda, na sua infinita bondade, imaginar que eu me dirijo aos meus leitores na segunda pessoa do plural e que portanto a construção da frase interrogativa está correctissíma.

Ora viste(s) como se faz um post a partir dos comentários dos outros ?

2004-04-18

 
Impressões de Londres #1
19 anos é muito tempo, mas não em Londres

Já há muito tempo que não ia a Londres, há 19 anos para ser exacto. Neste espaço de tempo as mudanças foram muito maiores em mim do que em Londres, os táxis continuam a ser pretos e enormes, os autocarros vermelhos e de dois andares e a multidão continua a encher Trafalgar Square.

Em contrapartida eu já não chego a uma cidade como esta de comboio e mochila nas costas, mas sim de avião e trolley. Já não durmo num albergue com camaratas mas sim num hotel e deixei de juntar tostões para viajar, tendo passado a juntar cêntimos.

No entanto encontrei algumas diferenças em Londres e a meu gosto, um maior cuidado com a limpeza dos monumentos e dos espaços públicos, o facto de já ser possível, e fácil, beber um café decente e, também, de encontar lojas e cafés abertos até tarde e aos fins de semana.



 
ANTES QUE SEJA TARDE


Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosse a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus - dará
e esse a da renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.


Manuel da Fonseca

2004-04-17

 


PARABÉNS HENRIQUETA

Hoje, dia 17 de Abril, a nossa Henriqueta completa mais um aniversário. Para ela, de todos nós, homólogos faroleiros, um dia repleto de emoções (das boas, claro!).

 
A lenda da serpente

Era uma vez uma serpente que passava o dia a picar e a morder as pessoas que por ela passavam. Um dia, sentindo-se muito só e sem amigos, decidiu procurar um Velho Sábio que vivia no cimo de um monte.
- "Velho Sábio, sinto-me tão só e sem amigos ... ninguém gosta de mim! Não tenho amigos... aiiiii sinto-me tão infeliz"
O Sábio olhou serenamente para a serpente e disse: "Como queres que gostem de ti se passas os dias a picar e a morder quem passa perto de ti?"
Ouvindo isto, a serpente saiu dali decidida a mudar a sua atitude para com os outros.
Uma semana mais tarde, a serpente volta ao monte a fim de falar com o Velho Sábio. Vinha muito ferida, coitada, e só a muito custo conseguia rastejar.
- "Estás a ver Velho Sábio??!! Segui o teu conselho e vê o que me fizeram! Pisaram-me! Atiraram-me pelo ar! Servi de corda ... enfim, estou neste estado miserável que tu bem podes ver!"
O Sábio respondeu:
- "Bom, amiga serpente, eu lembro-me de te ter aconselhado a não picar e a não morder os outros mas não te impedi que lhes mostrasses os teus dentes!

2004-04-15

 

Erros que (não) prejudicam a compreensão


Pergunta:
Porque compreendemos palavras ditas com modificações sofridas na boca dos falantes? Há muitas modificações sofridas pelas palavras na boca dos falantes. Porque não há prejuízo na comunicação? Porque a compreensão das palavras mencionadas não é prejudicada?

Resposta:
Antes de mais nada, importa distinguir entre as palavras que são «mal ditas» por engano e as que são «mal ditas» por desconhecimento da forma correcta. Nem uma nem outra, se não produzidas de modo radicalmente diferente da forma correcta, impedem a comunicação porque o contexto, bem como a expectativa de quem ouve, contribuem largamente para que o entendimento não seja perturbado.
Por exemplo, se disser a outra pessoa «O preço da zagolina está uma locura!», mesmo que não emende, essa pessoa vai compreender que o que queria dizer, na verdade, era «O preço da gasolina está uma loucura!».
Da mesma forma, se ouvir alguém dizer «Ouvistes o que disse o locutor na televisão?», vai saber que o que a pessoa devia ter dito era «Ouviste o que disse o locutor na televisão?».
Se ouvir dizer ainda, num falante da sua variedade do Português, «As minha mão está(ão) suja(s)», mesmo que não concorde com esta construção, sabe que o que o seu interlocutor quer dizer é «As minhas mãos estão sujas».
Este tipo de lapsos (uns feitos conscientemente, outros não), que não impedem a comunicação e o entendimento da língua, só abona em favor da tese da Gramática Universal: todos os seres humanos são dotados de um mecanismo inato, que lhes permite compreender e produzir enunciados linguísticos, desde que submetidos a um estímulo desse género.
Esse tipo de erros não são, portanto, relevantes do ponto de vista lingu(ü)ístico que impeçam a compreensão, para quem fala e para quem ouve. Mas se pensar num exemplo que implica um processo importante e que é a ordem dos constituintes na frase, já podemos dizer que, uma vez invertida essa ordem, a comunicação e o entendimento podem ser prejudicados: «Comido o bolo o João tinha ontem, estivesse de dieta se não».
Há, portanto, uma hierarquia do tipo de erros produzidos pelos falantes: uns, menos relevantes, que não impedem a comunicação; e outros, mais importantes, que prejudicam a compreensão.

Susana Correia em http://ciberduvidas.sapo.pt

2004-04-14

 


Sondagem

Nesta 5ª feira não há 5ª temática, em vez disso fazemos uma mini sondagem cultural.
As respostas devem ser deixadas nos comentários.

1. Qual o último filme que vistes ?

 
2. Qual o livro que estás a ler ou o último que leste ?

 
3. Qual a última peça de teatro que foste ver ?

 



Pois é...Estou de mala aviada...calma...só vou levar uma! Até domingo!

 
Grande Prémio de Poesia para Gastão Cruz

Foi com o livro Rua de Portugal que Gastão Cruz alcançou, muito justamente diga-se, pela primeira vez um prémio da APE.

Rumor

Voz do verão a pele que
te escuta conhece o mar

in "Crateras"

 


In Love

Já foi há alguns dias que o fui ver mas ainda não tinha colocado um post sobre este espectáculo de Alexandre Honrado, produzido pela Fábrica do Inglês, e que tem como cabeça de cartaz Fernando Mendes, bem secundado por uma série de talentos descobertos na Operação Triunfo e na Academia de estrelas.


Trata-se de uma mistura bem disposta de musical com revista. O amor e a conquista da mulher amada faz de fio condutor a um conjunto de sketches onde se alterna o humor com a dança, as canções com sevilhanas, tudo isto com grande ritmo.


Trata-se de um espectáculo ligeiro, mas profissional, e cheio de alegria e cor.

No final, lá fizemos a vontade ao Fernando Mendes e deixamo-lo tirar uma foto com algumas faroleiras.




2004-04-13

 
Os poetas que Abril abriu #3

Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir
Se tens vontade de cantar não tenhas medo:canta

É possível andar sem olhar para o chão
É possível viver sem que seja de rastos
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
Se te apetecer dizer não grita comigo: não

É possível viver de um outro modo. É
Possível transformares em arma a tua mão
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre
In “O canto e as armas



 
Lá fora



Laura, uma jornalista de sucesso muda-se para um condomínio de luxo, onde vive também, José Maria, um corretor que gosta da prática do “voyeurismo”. A partir daqui passa a controlar Laura, chegando mesmo a conversar com ela em monólogos.

Neste filme está presente a solidão, e um mundo moderno, os constantes telemóveis, os mails... O filme passa também pela questão do aborto, os filhos de pais separados, o trabalho a camuflar o vazio pessoal de cada um...

Um filme que sufoca um pouco, um pouco parado.... mas muito sinceramente não achei nada de especial, não vi nem Belarmino, nem Uma abelha na Chuva, vi O Delfim, do mesmo realizador, que é um filme muito superior a este.

 
Os rabiscos que fazemos

Conhecem aqueles rabiscos que fazemos enquanto estamos ao telefone ou numa reunião tediosa? Pois é, cada rabisco tem um significado:

FLORES
Estamos perante uma pessoa sensível. O seu jeitinho maternal faz certamente sucesso junto dos mais pequeninos.

CARAS E BOCAS
Tudo indica que se sente bem ajustado ao seu mundo. As expressões dessas figuras que surgem do nada também revelam como quem desenha se está a sentir. Ou seja, quem está contente desenha pessoas felizes, quem está triste desenha caras esquisitas (de fantasmas por exemplo).

SETAS
Desenhar setas significa ter uma ideia fixa. Se as setas apontarem para baixo ou para esquerda, elas reflectem alguma coisa que já passou. Se apontam para a direita, indicam futuro. Se as setas apontarem para cima, você está a precisar urgentemente de descanso.

CÍRCULOS
O hábito de desenhar círculos indica que estamos perante uma pessoa que se completa mas que também gosta de passar bastante tempo com as pessoas. Se são vários círculos que se sobrepõem, você gosta de ficar no seu cantinho. Também pode ser que esteja a tentar guardar um segredo. Se costuma completar o círculo cuidadosamente, isso acontece porque já se deve ter dado mal ao se abrir com os outros e, por isso, fecha-se mais agora.

OLHOS
Pessoa curiosa ou que procura alguma solução para um problema. O sentido do olhar também é importante: para a esquerda indica algo relativo ao passado; para a direita, algo relativo ao futuro. Se desenha olhos fechados, é provável que esteja com dificuldades em enfrentar uma situação ou não queira admitir algo cruel sobre si mesmo

NOMES
Se você não para de escrever seu próprio nome, pode ser um jeito inconsciente de demonstrar que está triste ou se sentido rejeitado pelos outros. Contudo pode também significar que anda muito preocupado consigo mesmo e, que nesse momento, nada mais o importa.

CUBOS
Desenhar cubos revela uma pessoa que nada tem de preguiçosa. Pelo contrário: é uma pessoa criativa, motivada e gosta de participar. Desenhar um cubo dentro do outro demonstra frustração com alguma coisa ou alguém.

ESTRELAS
Rabiscar estrelas é um sinal de ambição, de que você tem objectivos bem definidos. Se as estrelas forem simétricas, você sabe analisar as situações, é curioso e seguro de si. Já as estrelas disformes e assimétricas, indicam que você tem muita energia, mas não sabe bem como usá-la.

CASAS
Desenhar casas significa que se sente bem no lugar onde vive. Uma casa aponta para uma sensação de conforto, paz com a família, mesmo que algumas brigas com os irmãos pareçam dizer o contrário. Mas se a casa não tiver janelas nem portas, isso pode indicar uma sensação de pouco espaço.

LINHAS
Linhas reata são feitas por quem é objectivo e vai directo ao assunto. Linhas em ziguezague ou que se cruzam varias vezes indicam que alguma coisa o abalou bastante.

ONDAS
Você está pronto para mergulhar numa coisa nova que pode mudar a sua vida. As ondas lembram movimento, expectativa de uma oportunidade especial ou desejo de desaparecer, bem rapidinho, do sítio onde está.

ESPIRAIS
Quem desenha espirais não gosta de ficar sozinho. Desenhos assim são feitos, geralmente, por pessoas que gostam de se evidenciar no grupo e batalham para ter alguma função em qualquer lugar, em qualquer projecto.

 
Liberdade

Liberdade é apenas outro termo para designar a subjectividade, e qualquer dia, esta já não se aguentará a si mesma. Chegará então o momento em que se desesperará da possibilidade de criar algo através das suas próprias forças; então procurará protecção e segurança na objectividade. A liberdade conduz sempre à reviravolta dialéctica: Muito cedo, reconhece-se na delimitação, realiza-se na subordinação à lei, à regra, à coacção, ao sistema; converte-se nisso, o que não quer dizer que deixe de ser liberdade.

Thomas Mann, in "Doutor Fausto"


2004-04-12

 



Quando vou viajar existem três momentos especiais para mim: o antes, o durante e o depois.

Em boa verdade quer o planear a viagem, espalhando mapas sobre a cama e prespectivando a viagem, quer como no depois, o arquivar das fotografias e o relembrar com olhos saudosos momentos passados, dão-me quase tanto prazer como os momentos verdadeiramente passados durante as minhas estadias alhures.

Neste momento dedico-me sorridentemente ao antes.

 
De passagem

Conta-se que no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egipto, com o objectivo de visitar um velho sábio.
O turista ficou surpreendido ao ver que o sábio morava num quarto muito simples e cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.
- "Onde estão os seus móveis?" - perguntou o turista.
O sábio perguntou: - "E onde estão os seus?"
- "Os meus?!" - surpreendeu-se o turista - "Mas eu estou aqui só de passagem!"
- Eu também... - concluiu o sábio.

2004-04-11

 



O que se passou em Carandirú, só Deus, a policia e os presos sabem...Eu só ouvi os presos”. Assim termina este excelente filme.



O cinema brasileiro está de parabéns, após a Cidade de Deus, surge este novo filme. Retrato do que se passou em 1998 naquela prisão, as histórias de alguns presos, a homossexualidade na prisão, a droga, a revolta, a esperança de viver, a violência da policia...tudo nos é contado pelo médico residente daquela prisão, que acabou por viver a vida de todos eles.



Tem personagens fabulosos, (Rodrigo Santoro) um travesti – Lady Di, Majestade um negro com duas mulheres e 4 filhos, entre tantos outros.
Mais um retrato da violência brasileira, contado lindamente.


 



Ensaio sobre a lucidez

Do livro

Bem ao estilo habitual de Saramago, este romance nasce duma impossibilidade, ou melhor, de uma enorme improbabilidade, que é não só a da maioria da população votar em branco, mas também de executar acções simultâneas sem aparente coordenação.

A primeira parte do livro é sublime, onde se vê o nervosismo crescente do governo face à serenidade da população. E onde o povo da capital age como um só e como uma personagem una. O governo é composto por diversas personalidades com constantes picardias, o que funciona verdadeiramente bem como contraponto.

Na sua escrita característica, Saramago estabelece, por vezes, dialogo directo com o leitor, facilitando a empatia, e dando mudanças de ritmo à narrativa. A segunda parte do livro, onde o mesmo se transforma numa sequela ilógica do Ensaio sobre a cegueira, a qualidade do mesmo decai. Mais na trama que na escrita, mas também nesta.

“O silêncio que se sucedeu a estas palavras demonstrou uma vez mais que o tempo não tem nada a ver com o que dizem os relógios, essas maquinetas feitas de rodas que não pensam e de molas que não sentem, desprovidas de um espírito que lhes permitiria imaginar que cinco insignificantes segundos escandidos, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, haviam sido uma agónica tortura para um lado e um remanso de sublime para o outro.”


Da leitura política

Este é um livro de onde é impossível não retirar uma leitura politíca. E não se pense que é um livro de elogio ao voto em branco. Não. Se algo é elogiado neste livro é a celebre máxima do anarquismo – ordem sem coação. Na verdade o livro chega a retrar uma sociedade ideal, plena de entreajuda e solidariedade onde não é necessária a existência de forças da ordem ou de órgãos do estado.
É igualmente impossível não retirar algum paralelismo com a actual conjunta portuguesa, desde a composição do governo de coligação, à democarcia mole e pouco participativa ou ao aproveitamente político por parte dos diversos partidos onde o p.d.e. (partido da esquerda) também não é poupado ao ser o partido que mais se tenta aproveitar do maciço voto em branco.

“ Ao ministro da defesa, um civil que não havia ido à tropa, tinha sabido a pouco a declaração do estado de excepção, o que ele tinha querido era um estado de sitío a sério, dos autênticos, um estado de excepção na mais exacta acepção da palavra, duro.”


Do autor

José Saramago é indubitavelmente um excelente escritor e este livro, mesmo não sendo um dos de eleição da sua obra, vem mais uma vez comprovar isso mesmo. No entanto, vem também demonstrar alguma incoerência no seu percurso. O ataque feroz a certas instituições e a criação de um marketing absurdo relativamente à enorme polémica que o livro viria a ter.
Mesmo no próprio livro, o final (que não vou contar) é incoerente face a todo o rumo que a narrativa tinha tomado. Como se o autor tivesse tido medo de chegar ao final óbvio...

“Uivemos, disse o cão.”


Da polémica

A primeira conclusão que se chega ao ler o livro é que muitas criticas inflamadas feitas ao mesmo foram feitas por quem o não leu.
A polémica sobre a democraticidade do voto em branco que chegou a diversas personalidades ou até às sondagens do público, resulta muito mais de declarações feitas pelo autor numa lógica de marketing do que do livro propriamente dito.

“Passaram os dias, as dificuldades iam em crescendo contínuo, agravavam-se e multiplicavam-se, brotavam debaixo dos pés como tortulhos depois da chuva, mas a firmeza moral da população não parecia inclinada a rebaixar-se nem a renunciaràquilo que achavam justo e que expressara no voto, o simples direito a não seguir nenhuma opinião consensualmente estabelecida.”

2004-04-10

 



A todos os que por aqui passam...O Farol das Artes, deseja-vos uma feliz Páscoa!

2004-04-09

 



Os Anjos do Apocalipse

Este filme é a continuação do anterior “Crimes do Rio Púrpura”, que se prevê contemplar ainda mais um filme. O realizador não é Mathieu Kassovitz, mas sim Olivier Dahan.
Jean Reno veste novamente o personagem Comissário Niemans que lhe fica lindamente, e investiga uma série de crimes relacionados com o Mosteiro de Lorraine. A par desta investigação cruza-se novamente com o seu antigo parceiro Reda, desta interpretado por Benoit Magimel. Para quem goste do género policial/thriller recomenda-se, é um pouco inferior ao anterior mas vê-se lindamente.

 



Utopia

Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia.

Todas as aves partem para o sul
todas as arvores como a poesia.

in Alentejo e Ninguém de Manuel Alegre

P.S. - Conheci este poema através deste blog

2004-04-08

 
MAGIA


Quando recebi a mensagem do Pedro solicitando uma tema para esta semana estava a olhar para o Ceu e a contemplar o sol, num breve momento de repouso; depois de ter posto os meus neurónios a funcionar para definir magia! Com o cérebro a deitar fumo depois de tão grande esforço nem pensei duas vezes: Magia!
Pois ... e eu esperava ser fada e ter uma varinha de condão para hoje dizer às teclas do meu PC que escrevessem sobre magia !
Mas eu não ou maga nem fada …. Bem e se eu pudesse fazer magia que faria eu?
Tentava transformar o mundo que me rodeia num mundo que funcionasse melhor: Os donos dos cães a limparem os dejectos de que os seus animais se libertam quando passeiam pelo jardim, as pessoas a serem mais eficientes e a não sacudirem a água do capote à boa moda Portuguesa; tentava que os seres Humanos desperdiçassem menos, fossem menos egoístas e consumistas …
E que por magia todos pudessem sorrir mais tempo nas suas vidas do que chorarem !
Uma Boa Páscoa a todos !

 



Nasces por entre os gritos da dor
Por entre as lágrimas escorridas
Entras no meu mundo deserto
Que floresce, de repente, ao ritmo do teu respirar
E nascem girassóis, malmequeres, papoilas e outras mais
E olhas-me inquieto, inseguro, mas o meu corpo,
Esse, tu reconheces, e bem
E se isto não é magia, diz-me tu o que será então!

 
A Magia....

A Magia de um olhar que se cruza com o nosso e perdura mais do que um mísero segundo...

A Magia de um sorriso que nos é dirigido e que transmite a sensação de
cumplicidade...

A Magia de um toque, um leve toque propositadamente dirigido e pressionado
no nosso ombro, reconfortando-nos no preciso momento em que dele precisávamos...

A Magia do silêncio, do silêncio que nos escuta quando só queremos ser
ouvidos, quando só precisamos falar, falar...

A Magia do calor do sol que logo pela manhã banha o nosso acordar
fazendo-nos sentir vivos....

A Magia das cores da flor que desabrocha perante o nosso olhar ocasional e
que nos prende apreciando o dom da vida que nasce...

A Magia do som da gargalhada de um criança que nos toca a alma lembrando-nos o quão preciosa é a inocência, a sabedoria de saber sorrir...

A Magia do toque dos nossos pés descalços saboreando as cócegas que a erva fresca nos provoca deixando-nos aquela sensação de liberdade....

A Magia do cheiro fresco da chuva que acaba de surgir do nada, deixando o
aroma da terra molhada impregnado no nosso nariz....

A Magia de pegar nesta folha de papel e nela testemunhar em palavras os
pequenos grandes momentos mágicos que vivemos e que sem dar por eles tornam a nossa vida Mágica!!!

 
ESCOLA DE MAGIA

1. Magia com moedas


Um espectador tira uma moeda do seu porta-moedas. O leitor volta as costas ao público e pede ao espectador que agarre a moeda com a mão direita ou a esquerda fechada, levante a mão com a moeda bem no ar para todos a poderem ver e pense intensamente nela. Ao fim de cerca de cinco segundos, o espectador baixa outra vez o braço e você volta-se para o público. Fica voltado para o espectador e «tem muita dificuldade» em adivinhar em qual dos dois punhos fechados está escondida a moeda. Ao fim de pouco tempo toca na mão em causa. Acertou! entretanto olha fixamente para o seu médium Repete imediatamente a experiência e acerta novamente.

Explicação: Assim que se volta novamente para o público, olha para a cor da pele das duas mãos. A mão que o espectador levantou para «controlo» está sempre ligeiramente mais pálida que a outra, pois a irrigação foi mais fraca. Depois de ter percebido em que mão está a moeda, espera um instante até que a mão regresse à cor normal. Só então aponta para o punho fechado.


2. O balão que não rebenta

Material:
• Um balão
• Fita-cola transparente
• Alfinetes fininhos e de cabeça colorida

Enche o balão e sem que alguém veja, cola nele a fita transparente, seguidamente sobre a fita-cola espeta os alfinetes. Como por magia o balão não rebenta.




3. Adição Mágica

Faz circular pela audiência um bloco de apontamentos e uma esferográfica e solicita a um espectador que escreva um número de três algarismos. Um outro espectador escreve outro número de três algarismos por debaixo do primeiro, um terceiro espectador escreve outro número de três algarismos por debaixo dos outros dois e, por último, um quarto espectador escreve outro número de três algarismos.
O bloco é entregue a um quinto espectador a quem se solicita que proceda à adição dos números e escreva o total num pequeno cartaz.

Entretanto, o mágico não viu o que foi escrito. Encontra-se no lado oposto da sala, e pega noutro cartaz.
O mágico solicita ao espectador que fez a soma que se concentre no primeiro algarismo do total, simula concentrar-se para ler o pensamento do espectador e escreve o primeiro algarismo do total no seu cartaz. Isto repete-se para os restantes algarismos do total. No final ambos os cartazes são apresentados ao público e.... os resultados são iguais!!!
Para um efeito ainda mais surpreendente, o mágico pode escrever no seu cartaz o resultado final antes de por o bloco a circular pelos espectadores. Tapa o seu cartaz com um pano e, no final, revela os dois cartazes.

Preparação do truque: Como é possível o mágico saber a priori o resultado final? "Não tem nada que saber", o bloco realiza o truque, apesar da sua aparência inocente.
Deve-se utilizar um bloco com cerca de 10 cm x 8 cm, com a junção articulada (argolas) e, na primeira página, forme uma soma de 4 números de três algarismos



Estes números deverão ser escritos com uma caligrafia diferente para simular terem sido escritos por pessoas diferentes. Faça a soma e MEMORIZE o resultado.NÃO ESCREVA O TOTAL.

Vire o bloco, abra-o como se fosse a primeira página e coloque quatro ponto em coluna e uma linha horizontal por baixo para indicar aos espectadores onde deverão colocar os números.



Apresentação: Segure no bloco e abra-o na página que não está completa (2ª fig.). Volte a capa para a parte de trás e aproxime-se de um espectador solicitando-lhe que escreva o primeiro número de três algarismos a seguir ao primeiro ponto.
O mágico retira-se para um canto da sala e espera que outros três espectadores (afastados uns dos outros) escrevam os quatro números. O último a escrever fecha o bloco e entrega-o ao mágico.
Ao receber o bloco, o mágico coloca-o bastante acima da cabeça para evitar ver o seu conteúdo, e entrega-o a um espectador afastado dos quatro que escreveram os algarismos. Ao entregar o bloco, o mágico vira-o o que faz com que o espectador o abra na página que contém os números escritos pelo mágico (1ª fig.). Os espectadores que escreveram os números nunca desconfiarão que os números adicionados não foram os que eles escreveram.


 



2004-04-07

 
O Excesso de Civilização Prejudica a Cultura

Se a nossa fosse uma era de Cultura não se deveria falar tanto da própria Cultura. Não achas também? Eu gostaria de saber se épocas que tiveram cultura chegaram a conhecer e a usar esse termo. A ingenuidade, a espontaneidade, o óbvio, parecem-me ser o principal critério da disposição de espírito à qual conferimos essa denominação. O que nos falta é justamente isso, a ingenuidade, e tal falta, se é que cabe presumi-la, protege-nos contra muitos tipos de pitoresca barbárie, perfeitamente compatíveis com a Cultura e até com uma cultura muito elevada. Quero dizer: o nosso nível é o da Civilização, certamente um estado bem louvável, mas indubitavelmente deveríamos tornar-nos muito mais bárbaros, para podermos ser cultos outra vez. Técnica e conforto? Ao pronunciar estas palavras, a gente fala de cultura, mas não a possui.

Thomas Mann, in "Doutor Fausto"


 
Os Poetas que Abril abriu #2


Tua boca não se abriu
(à memória de Militão Ribeiro)

Acordaram-te a meio da noite
E levaram-te depressa
E das janelas do carro
Disseste adeus à cidade.

Perguntaram-te pelo nome,
Pela morada, pela idade
TUA BOCA NÃO SE ABRIU

Perguntaram-te os locais,
Os nomes dos companheiros
TUA BOCA NÃO SE ABRIU

Começaram com as torturas
O sono e as queimaduras
TUA BOCA NÃO SE ABRIU

Na altura do esgotamento
Já com o corpo feito em nada,
Camarada
TUA BOCA NÃO SE ABRIU

Guardaste bem os segredos
No teu peito clandestino,
Como um cofre-forte
Guardaste-os até à morte,
Os segredos deste povo
De pé sobre o seu destino.

TUA BOCA NÃO SE ABRIU
Não se abriu para dizer nada,
E os camaradas na rua,
Sabendo da tua força,
Fizeram-na força sua
E quando a gente hoje fala
E sonha com a madrugada
Falamos pela tua boca
PELA TUA BOCA CALADA !

José Fanha
In “Olho por Olho”

2004-04-06

 



Os Poetas que Abril abriu #1

Abril de 74 - Entre muitas outras vitórias, conquistou-se a liberdade de expressão. Livros proibidos saltaram para as montras, poesias escondidas vieram à luz do dia.

E no meio da euforia, muitos foram os poemas escritos num só fôlego com as emoções à flor da pele. Vivia-se História e sob a forma de poemas ou de canções, com maturidade literária ou com certa dose de ingenuidade, a cultura saiu à rua trajada, também, de cravos vermelhos.

Os poemas e poetas que aqui se irão apresentando são uma pequena amostra e uma singela homenagem, de quem não teve de crescer sob o jugo da ditadura e da censura, a todos aqueles que de uma forma ou de outra, conquistaram a liberdade de expressão.

Naquele tempo, a Internet, ainda não existia, mas se existisse, por certo, estaria proibida em Portugal como hoje acontece em várias ditaduras por esse mundo fora.

As portas que Abril abriu

Era uma vez um país
Onde entre o mar e a guerra
Vivia o mais infeliz
Dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
Vales socalcos searas
Serras atalhos e veredas
Lezírias e praias claras
Um povo se debruçava
Como um vime de tristeza
Sobre um rio onde mirava
A sua própria pobreza

(...)

Um povo que era levado
Para Angola nos porões
Um povo que era tratado
Como a arma dos patrões
Um povo que era obrigado
A matar por suas mãos
Sem saber que um bom soldado
Nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
Que dentro de um povo escravo
Alguém que lhe queria bem
Um dia plantou um cravo.

(...)

Era já uma promessa
Era a força da razão
Do coração à cabeça
Da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
Homem novo capitão
Mas também tinha a seu lado
Muitos homens na prisão

(...)

Posta a semente do cravo
Começou a floração
Do capitão ao soldado
Do soldado ao capitão

(...)

Foi então que Abril abriu
As portas da claridade
E a nossa gente invadiu
A sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
Na madrugada serena
Um poeta que cantava
O povo é quem mais ordena

(...)

E idas vindas esperas
Encontros esquinas e praças
Não se pouparam as feras
Arrancaram-se as mordaças
E o povo saiu à rua
Com sete pedras na mão
E uma pedra de lua
No lugar do coração.

(...)

E em Lisboa capital
Dos novos mestres de Aviz
O povo de Portugal
Deu o poder a quem quis

(...)

E se esse poder um dia
O quiser roubar alguém
Não fica na burguesia
Volta à barriga mãe.
Volta à barriga da terra
Que em boa hora o pariu
Agora ninguém mais cerra
As portas que Abril abriu

(...)

Dai ao povo o que é do povo
Pois o mar não tem patrões
- Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

(...)

Foi este lado da história
Que os capitães descobriram
Que ficará na memória
Das naus que de Abril partiram

(...)

As naves que transportaram
O nosso abraço profundo
Aos povos que agora deram
Novos países ao mundo

(...)

De tudo o que Abril abriu
Ainda pouco se disse
Um menino que sorriu
Uma porta que se abrisse
Um fruto que se expandiu
Um pão que se repartisse
Um capitão que seguiu
O que a história lhe predisse
E entre vinhas e sobredos
Vales socalcos searas
Serras atalhos veredas
Lezírias e praias claras
Um povo que se levantava
Sobre um rio de pobreza
A bandeira que ondulava
A sua própria grandeza !
De tudo o que Abril abriu
Ainda pouco se disse
E só nos faltava agora
Que este Abril não se cumprisse
Só nos faltava que os cães
Viessem ferrar o dente
Na carne dos capitães
Que se arriscaram na frente

(...)

E se esse poder um dia
O quiser roubar alguém
Não fica na burguesia
Volta à barriga da mãe !
Volta à barriga da terra
Que em boa hora o pariu
Agora ninguém mais cerra
As portas que Abril abriu !

Ary dos Santos
excertos de “As portas que Abril abriu

 
There`s so many different worlds
So many different suns
And we have just one world
But we live in different ones

Dire Straits


 



Gael Garcia Bernal, é já chamado de o furacão que veio do México.
É lindissimo, é bom actor!
Filmes: Amor Cão, E a Tua Mãe Também, O Crime do Padre Amaro.
Dia 4 de Maio estreia o seu recente filme La Mala Educacion, de Almodóvar.

 



Acabei de ler o mais recente livro de Mia Couto. O Fio das Missangas, reúne um total de 29 pequenos contos, escritos numa belíssima prosa poética, as histórias revelam aquele misticismo subjacente, já tão característico deste escritor. A ler sem dúvida alguma.


“A meu homem deram transfusão de sangue. Para mim, o que eu queria era transfusão de vida, o riso me entrando na veia até me engolir, cobra de sangue me conduzindo à loucura.
Desde o mês passado que evito falar. Prefiro o silêncio, que condiz melhor com a minha alma. Mas o não haver conversa nos deu outro laço entre nós. O silêncio abriu um correio entre mim e o moribundo. Agora, pelo menos, já não sou mais corrigida. Já não recebo enxovalho, ordem de calar, de abafar o riso.
Já me ocorreu trocar fala por escrita. No lugar desse monólogo, eu lhe escreveria cartas. Assim, eu descontaria no sofrer. Nas cartas, o meu homem ganharia distância. Mais que distância: ausência. No papel, eu me permitiria dizer tudo o que nunca ousei.”

2004-04-05

 
O amigo do morto

Há alguns anos atrás fui ao cemitério levar alguém que ali queria rezar e depositar flores junto ao túmulo de um ente querido. Como se demorava, dei comigo a olhar para as fotografias das campas circundantes. Por entre flores de plástico e laços de cetim queimados pelo sol, descobri uma fotografia completamente diferente de todas aquelas que alguma vez sonhei encontrar num local daqueles.
Era uma fotografia a preto e branco de um soldado fardado a rigor e sorridente. Na mesma fotografia, de frente para a objectiva mas um pouco mais afastado, podíamos ver um outro soldado, também ele fardado, mas completamente alheio à objectiva do fotógrafo.
Tratava-se muito provavelmente de um amigo (ou não) do falecido mas caramba … haja bom senso e se não houver, que haja uma tesoura para tirar daquele sítio uma pessoa que muito provavelmente anda por aí sem saber que há uma fotografia sua por baixo de um “Aqui jaz…”


 



O Divórcio

Realizado por James Ivory, com Naomi Watts, Kate Hudson e Glenn Close entre outros.
Retrata um drama de duas famílias, uma americana outra francesa, unidas pelo casamento de Roxy e Charles-Henri. Este último abandona a esposa grávida, deixando-a só com a filha de ambos. Isabel irmã de Roxy chega para ajudar, mas envolve-se com um tio de Charles-Henri, muito mais velho e conservador, que defende a família, mas mantém as amantes.
O filme não é magnifico, mas entretém razoavelmente, não se torna chato, mas podia ser melhor. É engraçado ver as diferenças culturais entre os americanos e os franceses.